quinta-feira, 23 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 40

Texto Bíblico do dia:

Apocalipse 21:5 - "E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas..."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Pela semelhança com o Espírito Criador de Deus, fazer novas também todas as coisas.

Meditando:

O sábado chegou chuvoso. Mas não percebemos. Eu tocava "Deus é tão bom" no teclado e meu marido me acompanhava com a flauta. Na singeleza desse momento estava toda a percepção de nossa existência.

A jornada acabou? A chuva me diz que não. Como no primeiro dia, a chuva continua... a jornada também. E só me dei conta, com clareza, do que isso significa ontem, no meio de uma mais uma crise. Não sei o caminho que Deus usou para chegar ao coração dos seus outros filhos que também estão orando e meditando durante estes quarenta dias. Mas comigo ele usou do estado crítico. Aquele em que todas as cordas do ser parecem estar tensionadas ao máximo, e um toque sequer pode desconcertar todo o sistema.

Amanhã, quando nos encontrarmos todos para partilhar de nossas experiências, ouvirei feliz dos milagres que Deus operou na vida de uns, das soluções felizes aos problemas de outros. E eu hei de me alegrar. Mas ao falar de mim, só poderei dizer que o que Ele me concedeu doeu muito, e doeu através de muitas dores, seguidas, simultâneas, intensas, dores que eu não conhecia, que não queria conhecer. Mas Sua dádiva é provavelmente a maior que Ele poderia conceder a um ser humano: o conhecimento de Deus. Não obtive respostas? Sim, muitas, mas quase nenhuma dizia exatamente o que eu queria ouvir. Conceitos significativos do que é religião e cristianismo foram moldados e polidos junto com meu próprio espírito durante este tempo. E ontem, no meio de mais uma dor profunda, Deus me mostrou como num espelho límpido seu trabalho em mim.

Como somos tolos! Buscamos a Deus por causa de nós mesmos. E vivemos assim também, com tudo apontado para nosso umbigo. Diante da oportunidade de nos aproximarmos mais dEle, começamos a enumerar a possíveis vantagens que isso trará para nós. Poderá resolver nossos problemas emocionais, financeiros, familiares, profissionais, espirituais! Ficaremos fortes, santos, felizes! Não quer Deus nos ver assim? Por certo que sim. Mas não somos OS ÚNICOS a que Ele quer ver assim. A única razão de nos tornarmos fortes, santos e felizes, é viver para tornar aos outros fortes, santos e felizes. E embora haja uma verdade especial a ser revelada a cada filho Seu, essa verdade em particular foi o que Ele cravou em meu peito. "Trago em meu corpo as marcas do Senhor Jesus" (Gálatas 6:17). Estou crucificada com Cristo. Agora sei o que é ser cristão. As marcas que carrego hoje, aquelas que recebi dEle, me dizem que não vivo para nada mais que para servir. O doloroso processo de descoberta já se fez. A aceitação e vivência dessa verdade é a continuação da jornada. O fim, será quando eu puder dizer: "Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim"(Gálatas 2:20).

Hoje, para mim, cristianismo é muito mais que a beleza que lhe queremos dar. Um dia desses descobri que o mito das "pegadas da areia" não condiz com o processo bíblico de santificação, em que precisamos sempre andar com nossas próprias pernas. Outro dia, percebi que vida cristã não é uma espécie de loteria que, um dia, lhe premiará com uma história fantástica de um milagre longamente esperado. Isso pode até acontecer. Mas não é por isso que sou cristã. Hoje, tudo no cristianismo me faz crer que a minha vida é apenas um instrumento, que tudo que vivo apenas me prepara para ser um instrumento melhor, mais preciso. Não há mais o menor espaço para mim! Meus pais, minha faculdade, meu trabalho, meus sonhos, meu casamento, meus filhos, minha religião, tudo funcionam como meio de me ensinar a viver, e não como fim da minha vida! Ademais, se eu viver apenas para mim, o cristianismo que professo nunca me possibilitará ser totalmente feliz neste mundo, onde milhões de infelizes jazem ao meu redor! Enquanto cristã eu nunca poderei me conformar com isso e fazer de conta que está tudo bem com minha vidinha egoísta! Mas se eu me ocupar do outro, terei um sentido e uma satisfação de verdade: levar essas pessoas para um mundo melhor. O fato de eu ir junto é mero detalhe, quero apenas mostrar o caminho, e em conseqüência também chegarei lá.

Cristianismo também é ir de encontro à lógica humana.Vencer não é sempre se dar bem. Vencer, às vezes, pode ser aprender a sofrer. Sofrer por sua própria causa e por causa do outro. É ver nesse sofrimento também um sentido. A graça de Deus se mostra em algumas historinhas que contamos para as crianças, dizendo das pessoas que receberam coisas maravilhosas de Deus e viveram de maneira tranqüila e pacífica para sempre. Mas o cristianismo, o cristianismo para mim se revela nos milhares de mártires - santos, irrepreensíveis, cheios de fé, que foram além do limite do sofrimento e deram as próprias vidas em nome do sentido que encontraram em Deus. E quanto ao que diz a Bíblia? "Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias." (Salmo 34:17). Como somos tolos! O Senhor o ouve e o livra porque a angústia do justo nunca está voltada para si mesmo. Se tem a certeza que cumpriu a vontade de Deus nesse mundo, o justo não tem motivo de angústia. Nesse sentido, mesmo a morte pode ser uma resposta aceita com felicidade e alegria. "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Filipenses 1:21). E se a morte pode ser aceita assim, o silêncio de Deus também pode. Sem nenhuma decepção, sem nenhuma mágoa. Pois o silêncio dEle, agora, me ensina a morrer um pouco mais, para deixá-lO viver em mim.

O resultado mais significativo dessa jornada de quarenta dias é que agora está bem claro para mim o que Deus quer para minha vida. Aceitar isso e praticar é um longo caminho... mas eu quero muito caminhar. Sei que terei de abandonar algumas das coisas que quero, adiar outras, voltar todas para um fim que vise aos seres que me cercam, e não a mim. Mas agora que consigo entender isso, não tenho medo.Sinceramente me sinto cansada, fraca, pequena demais, e alguma dor ainda reverbera... e não foi assim com Noé depois dos 40 dias na arca? Quantos dias mais até ver o arco da aliança? Não foi assim com Moisés ao voltar do Sinai depois dos 40 dias, com um povo idólatra e ímpio lhe esperando quando ele estava cheio de sonhos? Não foi assim com os espias, quando, por sua fé provada durante 40 dias, quiseram lhes matar? Não foi assim com Elias quando depois de 40 dias teve que voltar para o maior e mais atemorizante desafio de sua vida? Não foi assim com Jonas quando enfrentou o próprio orgulho depois dos 40 dias que pregou que Nínive seria destruída, e Deus não a destruiu? Não foi assim com o próprio Cristo, depois dos 40 dias no deserto, quando foi duramente tentado e tão duramente que anjos tiveram de vir em seu socorro? Não foi assim com os discípulos, que depois dos 40 dias que antecederam a ressurreição, saíram para pregar e caminhar para o martírio?

Como somos tolos! Deus transformou a vida deles todos depois de 40 dias, mas não porque tenha tirado todos os problemas de suas vidas! Pelo contrário! Os problemas às vezes até aumentaram! A grande transformação ocorreu porque Deus os encheu de poder!E eu quero esse poder. Mas não o receberei enquanto não estiver disposta a aceitar também a missão que Ele tem para mim. Como somos tolos! Mas toda a dor que senti para conseguir ter em meu próprio corpo as marcas do Senhor Jesus, me provaram que mesmo tolos, somos instrumentos indispensáveis para o cumprimento do plano de Deus na história da salvação da humanidade. E nisso está o amor.

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