segunda-feira, 13 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 30

Texto Bíblico do dia:

Efésios 2: 1 - 6 - "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

O silêncio também é música. Ouvir os silêncios de Deus como parte de uma bela composição maior. E isso significa vencer inclinações, vencer por meio da salvação que Ele me deu.

Meditando:

Minha turma na classe da faculdade de Música é muito boa, e também muito diversa. Todos os meus colegas, com exceção de mim que sou a autodidata da classe, tiveram formação musical formal e acadêmica voltada para um instrumento específico em algum conservatório musical antes de entrarem na faculdade. Por isso a maioria já sabe o que quer, e mesmo os que pensam em ensinar ao invés de entrarem para o concorrido mundo dos concertistas, planejam ensinar o seu instrumento em particular. Isso tem um lado bom que é canalizar toda a energia para se especializar em algo e, conseqüentemente, tornar-se muito bom naquilo que se faz. Mas percebo algumas desvantagens que evito comentar, mas ficam martelando cá dentro.

Uma delas é que enquanto eu me delicio com cada disciplina, me aprofundando ao máximo nas mais diversas áreas musicais e me interessando pelo conjunto de maravilhas que o curso de música pode proporcionar, muitos dos meus colegas sofrem para cursar determinadas cadeiras, reclamam que é perda de tempo pois poderiam estar se dedicando a seu instrumento, relegam a um plano inferior a teoria ou a prática que não seja a do seu instrumento, estudam superficialmente tudo que não diga diretamente respeito a seu instrumento. Com isso, acho que eles deixam de aproveitar tudo que poderiam, o que formaria uma base bem mais sólida para eles se desenvolverem naquilo que escolheram. Nenhum grande instrumentista é meramente um técnico que executa, mas um pensador que interpreta, e para tanto ele deve ter o maior conhecimento possível do mundo musical, seja lá qual for sua finalidade: tocar ou ensinar. É claro que se deve dedicar maior tempo a algo em que se quer especializar-se, mas isso não significa limitar-se.

A outra é que eles costumam apreciar apenas as músicas que têm os instrumentos que eles tocam. Bem, eu amo violoncelo, mas não vou deixar de achar um concerto para piano bonito! Os concertos de Brandenburgo, de Bach, são fantásticos mas certa colega minha, flautista, só gosta do concerto nº 4, que é no qual a flauta predomina. Eu lhe emprestei então um CD com os outros concertos de Brandenburgo e sugeri: "O número 6 é muito lindo também!", ao que ela respondeu "Qual é o instrumento que tocam nele?". Posso até imaginá-la escutando o concerto e procurando a flauta, descartando a orquestra de fundo. Como se pode ter noção da beleza que o compositor pensou para sua obra ouvindo apenas um recorte dela?

Mais uma: Alguns dos meus colegas apenas se desinteressam pelos outros instrumentos, outros se sentem agredidos por alguns deles. Há percussionistas que se sentem insultados pelo som de violinos, e violinistas que acham a percussão a coisa mais besta do mundo. Às vezes essas aversões são veladas. Mas quase sempre afloram em piadas (e aqui, quem toca viola é sempre mais castigado), brincadeiras depreciativas e comentários maldosos, quando não coisa pior. E por que, meu Deus? Só por causa de um gosto e uma experiência pessoal: o violinista que condena o percussionista não sabe nem pegar numa baqueta, e é justamente a ignorância que o faz um crítico algoz.

Penso que, espiritualmente, possamos estender muito o assunto. Eu já tentei "enlatar" as verdades divinas de modo a me servirem de forma objetiva toda vez que eu tivesse uma dúvida ou precisasse de um critério para tomar decisões. Acontece que as verdades divinas não se conservam em lata ou compota para a sobremesa. A Bíblia não é um álbum de figurinhas, um caderno de recortes ou colcha de retalhos, ela é uma unidade que mostra no seu conjunto a vontade de Deus. Não há nada que se possa destacar sem que esteja integrado a todo o restante. Não há nada que se possa recortar quando minha conveniência assim o pedir. Você pode decidir estudar um assunto específico dentro dela: reforma da saúde, evangelismo, a atuação das mulheres, a lei de Deus, as profecias para o tempo do fim, mas não pode isolar esse assunto do conteúdo geral e tomá-lo como algo absoluto de sua vida cristã. Você pode listar alguns princípios e regras quanto a determinadas facetas da vida cristã, mas não pode adaptá-los a sua maneira de pensar condenando todos que pensem diferente.

A diversidade que Deus revela na natureza e na Sua palavra são uma clara evidência que Ele deseja atuar nas mais diversas áreas de nossa vida, através das mais diversas formas. É essa diversidade que perfaz a unidade divina, a qual não pode ser recortada e montada por mim para montar minha própria edição de cristianismo. Então se eu considero um sermão menos importante porque não fala de um assunto que eu destaquei para mim, ou se não considero uma música inspirada porque ela não está de acordo com o meu gosto pessoal eu estou limitando terrivelmente o poder de Deus de se manifestar em toda a beleza de Seu esplendor. Além disso, esse tipo de comportamento é um perigoso caminho que nos leva a começar a selecionar também pessoas que consideramos mais santas, mais inspiradas, mais dignas de estarem em nossa companhia somente pelo que aparentam ser, conforme o estereótipo que criamos para rotular a santidade.

Imaginemos uma situação hipotética. Eu chego na igreja e observo que cortaram o louvor por causa do horário que já estava avançado. Como gosto muito de música, assumo a postura de que Deus não está naquele culto, porque a igreja não rendeu louvores. Não considero que Deus tem outras formas de se revelar a mim que não a música, embora essa seja uma forma maravilhosa. Então me fecho para sua revelação durante a exposição da Palavra. Depois do sermão, há uma música especial, e eu não gosto de seu ritmo, poesia ou melodia. Acho que aquilo é pobre demais para louvar a Deus, que não está de acordo com os princípios bíblicos a respeito de louvor, e considero a música uma desonra. Então não deixo que a mensagem daquela música como um todo, que o louvor sincero e fervoroso seja usado por Deus através daquele cantor para tocar meu coração de pedra. Simplesmente "desligo" meu ouvido e fecho os caminhos para Deus chegar até mim, duvidando que Ele o possa fazer através de outra maneira que não a que eu elegi como a melhor. Por fim, ao final do culto, aperto desconfiado a mão do pregador (como pode alguém aceitar pregar num culto sem louvor? Ele não deve estar bem espiritualmente, penso, reprovando-o por ousar discordar de mim), e aquele cantor vem até mim e me convida para participar de um culto de ação de graças que fará em sua casa. Sorrio educadamente pensando que jamais irei àquele culto, pois alguém que canta uma música tão ruim só pode estar muito longe de Deus, está sendo usado por Satanás, e eu tenho que ficar longe dele porque sou santo, separado para as coisas de Deus, e não as do diabo. Então impeço uma vez mais a Deus de trabalhar na minha vida, de desencadear milagres em mim através das coisas mais simples que eu poderia apreender através daquele cantor. Quando alguém vem me dizer qualquer coisa a respeito dele sempre acredito no pior, e defendo essa posição como quem defende ao próprio Deus. Não percebo que o único deus que estou defendendo é o meu próprio Eu.

Deus tem muitas formas de se revelar, de se fazer ouvir e moldar minha vida. Eu, com certeza, não gosto de todas essas formas. Mas tenho que deixar a Ele o critério de qual a melhor forma para chegar até o mais profundo do meu ser. Minha lógica e inteligência são lixo diante da Sabedoria que pode usar até mesmo pedras para transformar corações em carne. Minha única preocupação deve ser manter todas as vias abertas para que Deus chegue até mim. E deixar que Ele passe por cima dos entulhos da minha vontade que eu depositei por esses caminhos. Dessa forma vou aproveitar muito mais do poder divino e desenvolver meu cristianismo de maneira bem mais completa e sólida, vou apreciar a Deus de maneira muito mais próxima ao que Ele realmente é: um Ser maior que eu.

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