segunda-feira, 1 de novembro de 1999

"Cristão temperado e sem sal" - meu primeiro texto devocional

Olá Geanos!

Acordei com o som da TV bem alto (e cá para nós, q maneira péssima de acordar). Ao chegar na sala, me deparo com minha amada mainha assistindo, completamente extasiada, a missa do dia de Finados, com o Pe. Marcelo Rossi e o Roberto Carlos. Eu até tentei ficar quieta, pois sei que quando a gente começa um debate, é coisa para horas a fio, mas minha língua, contrariando todos os livros de anatomia, é um músculo meio involuntário. Ela estava muito mais a fim de continuar assistindo a missa, e fez um trato comigo: "Luciana, gostaria muito de conversar com você sobre isso, mas façamos o seguinte: deixe eu terminar de ver minha missa, e enquanto isso você vai fazendo o almoço pra gente." Eu, que não esperava uma saída teológica com apelos culinários, ainda tentei argumentar. Mas não dá para argumentar com D. Lindalva, que me convenceu definitivamente quando disse: "Você só vai para a cozinha quando está com namorado... então prepara cada prato digno de um restaurante francês, com tudo que tem direito para fisgar o dito cujo, mas para sua mãe você nunca tem tempo de ir preparar um almoço especial, né?"

Engoli em seco. E lá fui eu para a cozinha.

Os amigos da lista q me conhecem um pouco mais sabem o quanto isso é perigoso do ponto de vista digestivo. Pensei, pensei, e comecei a preparar um prato meio indefinido, uma espécie de torta salgada estilizada. Decidida a encher o estômago e o ego da minha mãe com carinho e uma comidinha bem gostosa, me pus a temperar com cuidado aqueles ingredientes. Coloquei tudo, do sazon ao curry, passando pelo shoio e pelo "tempero completo sabor arretado", com o cuidado de não exagerar na dose, para não fazer uma versão caseira da bomba atômica. Feliz da vida, e crente que havia feito uma obra-prima, coloquei no forno e esperei.

Irmãos... vocês tinham que sentir o cheiro... maravilhoso!! A aparência também estava linda, douradinha, com uma camada de queijo borbulhante em cima... parecia aquelas fotos de livro de culinária.

Quando nos sentamos à mesa para saborear o prato, minha felicidade se transforma na mais triste frustração. Quem disse que eu lembrei de colocar o sal? Os temperos estavam todos lá, dando sua importante contribuição, mas a torta estava completamente intragável de tão insossa. Para a tristeza de nossos famintos estômagos, fomos socorridas por um providencial Nissin Miojo.

O episódio, no entanto, rendeu o início da conversa prometida.

Jesus em seus conselhos no sermão da montanha, disse: "Vós sois o sal da terra..." (Mateus 5:13). Mas por que o sal? Por que Jesus comparou nossa missão de levar a saborosa mensagem de salvação e amor de Deus, ao sal? Ora, no oriente existiam centenas de tipos de temperos, os judeus deviam usar uma porção generosa deles no seu dia-a-dia... por que não citá-los?

Achei fantástica a colocação da minha mãe: "Jesus usou o sal como exemplo por um simples fato. Ele em si é apenas uma substância branca. Mas quando é usado na comida, ele desaparece para cumprir sua missão de dar sabor, se integrando ao todo".

Pensei, como é comum hoje em dia, muitas vezes, capricharmos nos temperos de nosso cristianismo... e esquecermos o sal! E como é fácil eu me pegar querendo misturar minha fé, com o tempero do conhecimento, com o tempero das boas obras, com o tempero de cargos na igreja, com o tempero de grandes conhecimentos teológicos, filosóficos e científicos, com o tempero da minha auto-suficiência ("Sou teu Senhor, mas meu namorado, meu guarda-roupa, meu salário, meu tempo, minhas musicas, meu coração, são MEUS), com o tempero da observância a todas as regras intitucionais.

Tudo isso, ao meu ver, é importante, mas não passa de tempero. Com o tempo você pode fazer tudo isso automaticamente, e as pessoas olharão para você, como eu olhei para aquela minha torta salgada no forno e dirão: "Veja como ele é um bom cristão! Veja como ele é inteligente, como é um membro de igreja exemplar!". Muitos saciarão seu ego com elogios ao "cheiro apetitoso" do seu cristianismo, ou a aparência ideal de sua religião. Mas se não houver o sal, na hora em que as pessoas famintas pela verdade, que estão no mundo, se aproximarem de você para terem sua fome saciada, o que eles provarão? Será que terão de provar um cristianismo tão insípido, que não "engulirão" a mensagem q você professa, indo acabar recorrendo a qualquer Nissim Miojo, que as tantas doutrinas enganosas e prazeres deste mundo podem oferecer?

O sal é, na minha opinião, a fé como canal de graça redentora. Se você a tem, você a transmite da forma mais saborosa: com amor. E os efeitos disso se verão em tudo que você praticar, de uma maneira espontânea e eficaz, pois não será você que vai agir, mas Cristo agirá em você. Então as pessoas não serão atraídas para a Verdade só por causa dos seus "temperos", que sem o sal, só farão exaltar a sua pessoa, nada mais.

Se o sal estiver presente, as pessoas poderão degustar toda a mensagem poderosa de salvação, e verão o nome de Cristo escrito em cada palavra que proferirmos, em cada gesto que fizermos, em cada pensamento que alimentarmos. Verão a Cristo porque nós, como o sal, desapareceremos para dar sabor. E todos os temperos só realçarão que Jesus é a Vida.
"...Tende sal em vos mesmos, e paz uns com os outros" Marcos 9:50

Abraços da maravilhosa cozinha da Lucci Maria Braga.

(Não tenho certeza da data em que foi escrita, só do mês e ano. Ah, nostalgia... hehehe)