quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Adveniat - Notícias

Já faz algum tempo que a televisão perdeu seu último atrativo para mim: os telejornais. Comecei a perceber que me fazia mal ver tantas notícias ruins no final da noite, e passei a usar a internet para me manter informada, porque posso ao menos selecionar aquilo que não agridirá meu espírito. Acredito que violência e maldade sempre existiram na Terra desde que o pecado se instalou por aqui, mas um homem do tempo de Jesus não era tão atormentado pela maldade humana quanto nós hoje, expostos pela mídia aos detalhes sórdidos do Mal em nível global. Eu sempre imagino como ficaria a cabeça desse homem hipotético se ele fosse trazido para nosso século sem passar pelo processo de banalização da miséria que os jornais fizeram conosco. Não à toa, hoje o medo virou doença, e a solidão – esse sintoma de desesperança – um mal característico de nosso tempo. São tristes as notícias que estão contando.

Mas não basta desligar a TV para escapar das notícias ruins. A sabedoria popular já diz que elas voam, e sempre nos alcançam, afinal, estamos vivendo num mundo corrupto, sofrendo as consequências de milênios de pecado. Não importa o quanto façamos para nos sentir seguros, uma hora a notícia trise chegará à nossa porta. Nem Jesus escapou disso. Um dia, estando Ele em retiro além do rio Jordão, alguém lhe comunicou que Lázaro, um amigo amado, estava bastante enfermo. Com uma notícia dessas costumamos nos desestruturar. Planos são alterados, preocupações tomam conta de nossa mente, não conseguimos nos centrar muito bem nos afazeres diários, parece que, de repente, somos transportados para um mundo de insegurança onde o pior horizonte está sempre apontando na direção de nossos olhos.

Mas Jesus, que ao contrário de nós tinha uma pecepção espiritual muito refinada, qe uma proximidade muito forte com o Pai, disse algo que acho ser a frase dos sonhos para todos os milhões de doentes que neste instante padecem nos hospitais. A frase desejada por todos os familiares destes, pelas mães que não sabem mais o que fazer para aliviar o sofrimento de seus filhos, pelos pais que receberam um diagnóstico terrível quando estavam vivendo uma gravidez sonhada e feliz. Jesus disse: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.” (João 11:4)

Em muitas outras passagens bíblicas, pessoas que estão sendo atormentadas por doenças físicas, mentais ou espirituais foram retiradas do plano da miséria, uma vez que suas enfermidades eram vistas pelos judeus como fruto direto ou indireto do pecado, para o plano de honra: o motivo de seu sofrimento era testemunhar o poder de Deus. Foi assim com o paralítico de Capernaum (Marcos 2:12), com a mulher paralítica (Lucas 13:13), com os dez leprosos (Lucas 17:18), com a mulher samaritana (João 4:39), com o jovem endemoniado (Lucas 9:43), e com o próprio Lázaro (João 11:40).

A Bíblia não utiliza esse argumento para explicar a causa de todo sofrimento humano, de todas as desgraças que acontecem aos filhos e criaturas de Deus. Em muitos casos simplesmente não parece haver uma explicação, porque nossa mente não está apta a entender como se processam os desígnios espirituais em relação ao nosso mundo. Creio que um dia isso nos será revelado, mas até lá, muitos pais, mães e família ainda hão de chorar seus mortos.

Mas Cristo nos dá uma esperança a que podemos nos apegar: não existem apenas más notícias. O Evangelho é a boa nova de que a lógica do pecado gerando a morte pode ser diferente, e sofrimento, tenha motivo ou não para acontecer, terá fim. Eu posso crer no poder de um Deus que me escolheu para mostrar ao mundo que Ele tem poder de curar e salvar. Quero que esta crença me faça viver de modo levar esperança a outros também. Que me faça sorrir e viver serena o bastante para sentir que há um bom propósito em eu estar aqui. Mesmo sem saber os motivos de Deus. Quero apenas sabê-lO. Respostas ou soluções podem não ser tão importantes quanto ter uma Fortaleza onde me abrigar até aquele esperado dia... (Salmo 62: 5 – 7; Apocalipse 21).

Interlúdio

Ontem não escrevi.

Pela manhã fizemos uma ultrassonografia de rotina, para verificar coom está se desenvolvendo meu bebê, agora que está com 21 semanas gestacionais.

Ele está bem, a não ser por uns cistos que o médico visualizou em seu cérebro. São chamados "cistos nos plexos coróides", um nome bem complicado para algo enigmático. Não se sabe ao certo porque eles aparecem, mas é bem na região onde o cérebro começa a se formar. E em alguns casos pode ser indicativo de síndromes que tem a ver com alterações nos cromossosmos, como síndrome de Down e Edwards. O prognóstico do médico, porém, e de todos os relatos que vi na internet, procuram me tranquilizar: em mais de 90% dos casos esses cistos regridem sem deixar sequelas, até as 29 semanas gestacionais.

Mas tem como ficar tranquila sabendo que o bebê que você já ama em seu ventre está com vários cistos nos cérebro, sendo o maior com mais de um centímetro num pequeno órgão de 5 cm?

Tirei o resto do dia pra curtir bem minha preocupação. Não peguei na minha monografia, não consegui escrever o devocional, chorei, pesquisei tudo na internet sobre o assunto, vi fotos de bebês deficientes, os mais tristes casos de síndrome de edwards, pensei milhões de besteiras... como o fato este bebê desde o começo mexer bem menos que o Vinícius, a TN que não fiz... lembrei de todos os bebezinhos deficientes que atendi nas sessões de musicoterapia, pensei nas piores posibilidades, como o fato dele começar a desenvolver atrofias a partir de agora, e me permiti sentir muita pena de mim. Orei bastante, é claro, com meu marido e com Vinícius também.

Mas decidi que minha angústia duraria só até ontem. Hoje vou retomar minha vida, minha monografia, minhas meditações, e não vou me permitir mais deter meu pensamento sobre minhas preocupações nem sentir pena de mim.

Fé é isso mesmo, é uma decisão, e eu decidi crer que esses cistos só apareceram para provar minha fé e, às 29 semanas, servirem de testemunho da atuação de Deus. Eu não vou me tranquilizar por estatísticas. Não importa que em mais de 90% dos casos esses cistos regridam, porque eu já faço parte de uma estatística ínfima: sou parte do menos de 1% das gestações onde esses cistos ocorrem, como vou confiar em estatísticas?

"Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha fortaleza; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; Deus é o meu forte rochedo e o meu refúgio." (Salmo 62: 5 - 7)

Confio em Deus, já entreguei minhas lágrimas e preces a Ele, agora me tranquilizar é a prova de que estou confiando.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Adveniat - Buscai

A Bíblia insiste em nos orientar quanto a certas atitudes que os seres humanos temos o costume de esquecer: lembrai, fazei, buscai. São imperativos justamente porque tendemos a negligenciá-los em nossa vida espiritual. Jesus mesmo quando esteve aqui como Homem, alertou aos discípulos quanto a necessidade de buscarem a Deus, fazendo ecoar as palavras do profeta Isaías: “Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55:6; João 7:33, 34; Mateus 7:7)

Mas como o mesmo Cristo que disse “buscai e achareis”, assseverou que chegaria o momento em que seus discípulos O buscariam sem sucesso? E como entender que em dado momento Deus pode se “esconder” de nós, ir “para longe”, e por isso temos que buscá-lo agora? A mesma Bíblia não contém tantas promessas relativas à presença contínua de Deus para aqueles que O amam? Não é justamente a idéia de um Deus onipresente, com quem podemos contar sempre, que se constitui a maior segurança do cristão? Por que então o alerta para buscá-lO se Ele estará conosco perpetuamente?

Acredito que biblicamente Deus já demonstrou que sempre esteve e sempre estará a procura do Homem – este é o próprio plano de Salvação: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). Somos nós quem nos afastamos de Deus por causa da nossa natureza pecaminosa, e por isso precisamos ser lembrados de buscá-lO. Refiro-me àquela natureza pecaminosa que nos faz cometer delitos e pecados muito maus, nos fazendo sentir indignos da face de Cristo, mas que também é a mesma natureza pecaminosa que nos faz achar que, ao praticarmos atos de bondade e justiça, não precisamos mais da presença de Deus para nos ajudar – é só cumprir as regras e estaremos salvos. As igrejas lotadas são aquelas onde alguém está pregando que você pode fazer tudo que quiser sem que haja consequências espirituais, ou onde alguém está fazendo listas de coisas que você precisa fazer para ser salvo - ambos os enganos, métodos fáceis para tapear o espírito e desviá-lo de uma busca verdadeira, mas muito mais complexa, rumo a Deus.

“Buscai ao SENHOR e a sua força; buscai a sua face continuamente” (Salmos 105:4). Força para vencer nossa tendência para o mal e para a auto-suficiência. Continuamente, porque não basta buscá-lO quando nos sentimos maus, perdidos, doentes, necessitados, arrependidos. É preciso permanecer buscando a Deus quando achamos que tudo está sob o nosso controle, quando forjamos maneiras de nos sentirmos bons e justos, quando criamos nossas próprias formas de assepsia espiritual que não passem pelo sangue do Cordeiro, quando nossos atos de justiça própria nos embriagam e viciam a ponto de não sentirmos mais necessidade nem prazer de chamar pelo nome de Deus, de nos humilharmos, orar, buscar sua face, nos convertermos dos caminhos maus que nem enxergamos mais, ouvi-lO, sentir Seu perdão, gozar Sua cura (2 Crônicas 7:14).

Somos tão miseráveis, pobres, cegos e nus que nossa natureza se deixa perverter facilmente tanto pelo que é mau quanto pelo que parece bom. E quando buscamos a Deus é sempre por necessidade, por interesse, e tem mesmo que ser assim, porque somente cônscios do quanto somos vis é que poderemos entender plenamente a grandeza e misericórdia de Cristo. “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” (João 6:26); não O buscamos porque somos bons, mas porque Ele é bom. E a justiça que encontramos ao buscá-lo está em desviarmos os olhos de qualquer bem ou mal, orgulho ou culpa que haja em nós, e contemplar a “rocha de onde fomos cortados, e a caverna do poço de onde fomos cavados” (Isaías 51:1)

Buscar a Cristo exige mais de nós que ir ao templo, que se ajoelhar ou fazer nossas leituras devocionais. Essa é uma busca para se fazer como quem procura tesouros escondidos por trás de nossa suposta sapiência (Provérbios 2:4), uma busca para se fazer com diligência de um ser humilde (Provérbios 7:15), com TODO o coração e inteireza de alma (Deuteronômio 4:29, Jeremias 29:13), com prioridade, e isso pode envolver sacrifício (Mateus 6:33), com a ansiedade genuína de um espírito sedento - sede gerada pelo próprio Espírito de Deus, e um espanto renovado a cada encontro com a Fonte da surpreendente Graça (João 4: 1 – 30).

E ainda é preciso lembrar que buscar a Deus já é se colocar na presença dEle, já é ser agraciado com a necessidade de estar com Ele, mesmo que isso nem sempre seja percebido como um presente. Essa busca não parecerá nunca estar perto de terminar. Por vezes parecerá até mesmo inútil, porque o humano que há em nós não consegue ver facilmente as evidências espirituais da presença de Deus. Portanto alem de buscá-lO, temos que compreender que a vida é a própria busca: “Buscai-me e vivei” (Amós 5:4), diz o Senhor àqueles que o procuram.

Intróito

Passei um bom tempo sem escrever devocionais. Os pequenos transtornos cotidianos acabaram por se acumular e provocar um grande incômodo de ordem emocional e psíquica, que tive de tratar em silêncio, porque o silêncio denota cura, não é à toa que há cartazes nos hospitais pedindo por ele.
Depois, já convalescendo, comecei a retomar aos poucos minhas atividades intelectuais, que por causa da pausa se avolumaram de modo a eu sentir que não daria conta de "ter que" escrever meus devocionais semanalmente.
Semana passada recebi a prazenteira mensagem abaixo, do meu amigo Marcão, pessoa que foi e é pontapé e motivação para eu escrever. Mais uma vez ele veio me acudir mostrando a necessidade de não afastar o Espírito com meus "compromissos inadiáveis".
E Deus me fez, durante toda a semana, sentir mais e mais sede dEle. Uma sede que, concluí, não daria fim de outra maneira senão me colocando na presença dEle. Resolvi então - ou Ele resolveu por mim - que será assim. Também preciso convalescer espiritualmente, e para tanto preciso de um tipo especial de silêncio, aquele em que a gente se posta aos pés da cruz e espera, serenamente, pela voz de Deus.
Hoje amanheci com este propósito no coração: todos os dias vou vir aqui, antes de tudo, sentar na cadeira em frente ao computador, encarar a cruz e pedir que Deus fale comigo. O que Ele falar, escreverei. Não sei por quantos dias o farei, e não quero me preocupar com isso, já tenho prazos demais a cumprir. Quero apenas buscá-lO e a Sua força, buscar Sua face continuamente (Salmo 105: 4). Quero buscá-lo e viver (Amos 5:4).

ps.: Eu ia linkar o texto do Marcão, mas como não o achei no blog dele, vou colocar aqui.

Para ilustrar o que eu gostaria de dizer com este texto, poderiamencionar esse casal que conheço lá da igreja. Eles têm três filhos, omais velho com acho que nove anos e a caçulinha tem uns quatro. Talvezvocê tenha ideia de quanto três filhos não absorvem de tempo... Bem,eles trabalham duro e vivem nessa confusão a que costumamos chamar SãoPaulo e você também pode calcular quanto de tempo isso consome. Aindaassim, são voluntários no clube de aventureiros da igreja, o que tomatodas as manhãs de domingo e outras horitas mais. Parece, porém, queainda sobra algum tempo, porque nas horas vagas que sobram, corremmaratonas juntos.

Você já sabe isso, ou ao menos intui, mas de quando em vez é bom quealguém o lembre: quer saber quais são suas prioridades reais na vida?Veja com o que gasta seu tempo. Simples assim. Não sobra tempo paranada? Esse "nada" seria algo agradável, divertido, importante ou algoessencial? Você consegue mesmo viver sem o essencial? Até quando?

Existe um pequeno problema com nossas desculpas: existe muita gentetão pressionada pelas demandas da vida moderna quanto nós e que aindaassim realizam coisas fantásticas. Existe gente como a gente que nãodescura do que é essencial, está em contato com Deus diariamente,aplicada a ouvir a voz dEle e ainda por cima crescendo, vivendo eacontecendo. Isso parece invalidar nossas desculpas, não acha?

Talvez valha a pena lembrar de Lutero, que orava uma hora por diaantes de o sol nascer e, quando teria um dia especialmente cheio decoisas e de trabalho, orava três. Ou então o pr. David Cho, líder damaior igreja do mundo, em Seul, para quem um dia perguntaram como éque ele dava conta de uma igreja com 800.000 membros, umauniversidade, um jornal e nem sei mais o que e ainda assim passar amanhã inteira orando e estudando a Bíblia. Ele pareceu um poucoespantado com a pergunta e respondeu: como é que eu conseguiria fazertudo isso SEM passar as manhãs orando?

Sua vida é o que você está fazendo com ela agora, neste instante.Pense nisso.

Feliz sábado, @migos!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Adveniat - O clamor

Um vento forte agitava as águas e ondas furiosas chocavam-se contra o pequeno barco dos discípulos. Assustados que já estavam, eles viram com medo ainda maior a cena improvável: Jesus vinha a seu encontro andando por sobre o mar (Mateus 14: 22 – 33). Gritos. E Jesus fez o que um pai faria para acalmar os filhos: “Não temam! Sou eu!”. Quando Pedro o reconheceu teve um ímpeto de fé e se dispôs a ir em direção a Jesus andando sobre as águas como o Mestre. Jesus disse: “Vem”. Mas bastou desviar os olhos de Cristo para o vento forte, por um pequeno momento, para a fé vacilar, e Pedro começou a submergir.

Mesmo sendo um pescador, o que indicava que ele provavelmente era um bom nadador, Pedro não pensou em apelar para as próprias forças; conhecia bem aquele mar para saber que nenhum homem poderia dominá-lo em tais condições. Não havia tempo também para prolixas orações, discussões teológicas a respeito da natureza de Cristo, argumentações sobre Pedro merecer ou não a salvação. Pedro estava afundando rapidamente em meio ao mar revolto, e só havia tempo para um pedido de socorro desesperado.

Você já se sentiu assim? Quando nos convencemos que não podemos fazer mais nada a respeito de uma situação – qualquer situação, de desagradável a desesperadora –, e quando não há muito tempo para forjar soluções alternativas, os cristãos costumam lembrar que há um Cristo capaz de resolver essa situação. Quanto mais conhecemos a natureza de um pecado que nos oprime, ou o fruto dele, mais nos damos conta de nossa incapacidade de vencê-lo sozinhos. Um rompante de fé nos faz dar o primeiro passo em direção a Jesus por sobre as águas: clamamos por ajuda, sabemos que Ele pode nos ajudar, muito provavelmente só Ele.

Agora percebamos o que um pedido de socorro pode dizer sobre a qualidade de nossa fé. Em duas traduções bíblicas, a Almeida Corrigida e Revisada e a versão católica, percebemos que a passagem de Mateus 14:30 registra o pedido: “Senhor, salva-me!”. Em outras duas traduções, a Almeida Revista e Revisada e a versão da Sociedade Bíblica Britânica lemos no mesmo texto: “Salva-me, Senhor!”. É possível que Pedro tenha se expressado de uma ou outra maneira, mas que diferença isso faz?

Nas primeiras versões, a ênfase está no Senhor do milagre, aquele por quem se chama primeiro e depois se diz o que deseja dEle, pois o maior desejo é estar com Ele. Nas versões seguintes, a ênfase está, ao contrário, no ato, naquilo que o Senhor pode fazer primeiro, para depois ser proclamado Senhor. E embora seja um detalhe muito sutil, na prática, uma ou outra postura pode fazer bastante diferença na percepção – e até mesmo na recepção – da graça almejada.

Desejo que em situações de provação como a que Pedro enfrentou, eu possa estar pronta a sempre clamar primeiro por Cristo, e com isso demonstrar que Ele é Senhor da minha vida. Que embora eu tenha várias sugestões do que Ele pode fazer para me salvar, estou pronta a fazer a Sua vontade acima da minha, e receber a salvação pelos caminhos que Ele traçar para mim, seja por cima das águas ou por baixo delas. Mesmo sabendo que Deus é onipotente, não quero cair na tentação de dizer a Ele o que fazer.

“Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas” (verso 28). Nem sempre Deus responderá ao nosso anseio por salvação da forma como queremos. Algumas vezes permitirá isso. Mas Ele sabe como reagiremos, passo a passo, à fúria do vento em que nos lançamos. Por isso mesmo, seja durante nosso rompante de fé ao descer do barco, seja durante nossa falta de fé tendo medo das ondas, Ele estará sempre disponível, prontamente, estendendo ao mão. Isso é maior do que qualquer coisa que o peçamos. Isso é salvação.

sábado, 25 de julho de 2009

Adveniat - Você é feliz?

Estou com dificuldades para escrever. Os dois textos passados foram reedições de textos de 2005. Este é inédito, mas fiquei uma boa meia hora na frente do computador antes de começá-lo. Tinha a idéia mas não conseguia desenvolvê-la. Isso nunca foi um grande problema para mim, mas agora tenho me sentido assim. O que pode ser? Um clínico geral diria (como dizem de tudo): é estresse. Pode ser. Mas isso me deixa mais estressada, hehehhe.

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Era exatamente o que dizia a frase pichada num muro sujo da cidade. Entre outros tantos grafites e pichações, ela não passou despercebida a mim e, acredito, nem a tantos outros que a leram. Porque essa indagação inquieta. Evoca situações de conflito, mágoa, dor e até – por que não? – de felicidade. Mas sempre faz estalar algo no peito, algo que diz respeito a nossa relação com a vida e realização como seres humanos. Por trás da frase outras perguntas se escondem: “O que você tem feito a respeito da sua própria felicidade?”, “Quanto da sua rotina realmente lhe agrada e quanto lhe é imposto contra sua vontade de ser feliz?”, “Se já foi feliz algum dia, por que não é mais?”, “De quem é a culpa por isso?”, e tantas outras, que vão ocupando a mente até a hora dela se concentrar em algo “sério”, como o trabalho, por exemplo.

Penso que a constatação da infelicidade é algo que mexe tanto conosco porque ser feliz é algo irrenunciável. Mesmo o mais miserável dos homens deseja ou ao menos aprecia a felicidade. Você pode desistir de um plano, de um alvo, de um prazo, até de um sonho. Mas o homem médio, aquele que se encaixa dentro dos padrões da normalidade emocional, não consegue desistir de ser feliz, ainda que não faça nada a respeito disso. Aliás, o “não fazer nada a respeito disso” é uma das mais freqüentes causas de infelicidade. Num século onde tanto de nosso tempo é ocupado pela necessidade de sobreviver e acumular – bens, dinheiro, status – há pouco lugar para meditar sobre os valores que conduzem à felicidade. Há mesmo quem prefira chamar felicidade ao ato de sobreviver e acumular. Mas surgirá um momento em que os sentidos não estarão tão sobrecarregados, e nesse momento surge a falta de algo indizível... o que mesmo? Falta de ser feliz. Mais que isso: falta de sentir-se feliz.

“O que tenho feito a respeito da minha felicidade?” Essa pode não ser a pergunta ideal. Estamos sempre muito preocupados em fazer algo por nós mesmos – quando muito, pelos outros. Mas precisamos fazer. O verbo nos assedia em busca da felicidade: sair, passear, descansar, orar, ler, beber, divertir, comer, dar, procurar, amar, fazer, fazer, fazer. Já a infelicidade prefere a voz passiva: fui injustiçado, fui traído, sou maltratado. No entanto os momentos mais felizes parecem ser aqueles em que recebemos a felicidade passivamente, sem necessariamente ter feito algo para merecê-la, em meio a situações de vulnerabilidade extrema. Estou falando de Graça.

Veja o que aconteceu ao profeta Elias. Em I Reis 19 lemos o relato de um homem que se sente bastante infeliz a ponto de desejar a morte. E quando indagado por Deus a esse respeito – “Que fazes aqui, fugindo da vida?” – o profeta começa respondendo: “Tenho sido zeloso pelo Senhor...”, e mais adiante acrescenta com ênfase: “Tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor”. Elias estava infeliz porque, apesar de fazer tudo para agradar a Deus, não se sentia feliz, mas perseguido e injustiçado. Cada um de nós tem seus próprios motivos para se sentir infeliz, mas uma causa é comum a todos: “Nada do que faço me faz sentir mais feliz!”.

Interessante observar que Deus não elogia Elias por seu zelo e merecimento, não diz que vai lhe recompensar por ele ter feito tudo direitinho. Deus simplesmente esclarece que está cuidando dele, embora ele não veja isso. “Vai, volta ao teu caminho”, Deus ordena, e lhe diz que não está só, que o Senhor está e sempre esteve no controle da situação.

Deus no controle? Por vezes só percebemos isso quando algo nos foge ao controle. Essas situações dão a Deus a chance de mostrar Sua presença atuando em nossas vidas, ainda que seja num cicio tranqüilo e suave (verso 12), o que denota capacidade de percebê-lo nas sutilezas. Acostumados que estamos a ter de fazer, não é com facilidade que aceitamos que a nossa felicidade pode ser uma dádiva, não algo conquistado. Portanto quando nos virmos diante da sensação de infelicidade, perguntemo-nos: “Será mesmo infelicidade, ou sou eu que não consigo ver que Deus está cuidando de mim?” “Será que sou mesmo infeliz, ou apenas não gostaria de dar a Deus os méritos pelo bem que me alcançará?” A Bíblia nos prova que a felicidade não tem que ver com sermos bons ou poderosos. Mas em reconhecemos a Fonte da bondade e do poder.

sábado, 11 de julho de 2009

Adveniat - A volta

A mensagem de hoje foi construída sobre o texto que está em Jeremias 46: 27 – 28: "Mas não temas tu, servo meu, Jacó, nem te espantes, ó Israel; pois eis que te livrarei mesmo de longe, e a tua descendência da terra do seu cativeiro; e Jacó voltará, e ficará tranqüilo e sossegado, e não haverá quem o atemorize. Tu não temas, servo meu, Jacó, diz o senhor; porque estou contigo."

Este texto me fez lembrar um amigo que me perguntou: "Mas por que tem que ser tão difícil se livrar do pecado? Deus não tem poder para acabar com essa tendência pecaminosa num instante se Ele quiser? Ele não sabe o quanto dói ter que lutar para fazer a coisa certa?". O texto bíblico responde maravilhosamente a essa indagação. Ele fala de Deus olhando para um filho que se afastou para longe, e lá longe sentiu como sua vida estava ruim longe de Deus.

Deus poderia olhar para esse filho e dizer: "Bem, você escolheu ir embora, agora sofra as conseqüências dos seus atos." Se fosse assim, Deus estaria sendo justo. Mas Deus não é justo conforme nosso conceito de justiça. Com Seu amor Ele diz: "Eu sei que você está sofrendo. Eu não quero que seja assim, por isso não tenha medo nem se apavore, que tudo vai ficar bem".Deus promete que vai nos libertar da escravidão e que voltaremos até o lugar do qual nunca deveríamos ter saído, o lugar e modo de viver excelentes que Ele preparou para nós. Mas Ele diz também: "Você foi embora com suas próprias pernas, agora terá de voltar com suas próprias pernas". Repare que as palavras "tranqüilo", "sossegado" e "não haverá quem o atemorize", são usadas para quando o filho chegar a esse lugar excelente. Não são usadas em relação ao caminho que ele vai ter que passar até chegar lá. Porque o caminho de volta é longo, penoso, espinhoso, cansativo, tem a propriedade de enfatizar a distância que o filho está de Deus.

“Por que tem que ser assim?”, o filho pode perguntar esperando um pouco mais de misericórdia. Mas é a resposta é: porque, para que o filho entenda exatamente o tamanho da graça de Deus, ele precisa entender antes o tamanho da sua desgraça. Se a caminhada do pecado para a santidade fosse fácil, nós não saberíamos a diferença entre os dois. Cristo nem precisaria ter morrido por nossos pecados, pois bastaria a Deus tirar o pecado de cada um e tudo estaria bem, não é? Claro que não! Isso sim é injustiça. Cada vez que reclamamos com Deus de que Ele não está nos ajudando a vencer o pecado estamos desmerecendo o sacrifício de Cristo que sofreu mais que qualquer um de nós, mesmo sendo o Filho Unigênito de Deus.

É duro ouvir isso, mas não há outro modo de voltar para casa senão andando. O papel de Deus nessa caminhada é providenciar um atalho para que não soframos mais do que podemos suportar, e seguir passo a passo ao nosso lado, nos segurando quando estamos prestes a cair sem forças. Aquela história que Jesus te pega nos braços e te leva pelo caminho é ótima mensagem para cartão de natal, mas não condiz com a verdade bíblica a respeito da santificação. Jesus nos ampara em Seus braços, cuida de nós, nos alimenta, nos dá água da vida, sara nossas feridas, depois nos põe de pé e diz: "É hora de voltar a andar, vamos lá?". E você tem que andar novamente.

Deus repete quantas vezes for preciso: "Não temas, que estou contigo". É a promessa que temos de nos apegar todos os dias. Mesmo que não sejamos capazes de vê-lO, ou de sentí-lO. Quando não estivermos sentido mais do que um enorme vazio e uma solidão aterradora, ainda assim precisamos confiar nessa promessa, pois a fé não está condicionada aos nossos sentidos; a fé é uma atitude que transcende qualquer lógica ou sentimento humano. Se você não consegue sentir Jesus ao Seu lado, apenas repita: "Tu estás comigo!" e dê mais um passo. Logo você terá a percepção de que, à medida que caminha, aquele pecado que te incomodava tanto e te fazia contorcer de dor agora já não perturba da mesma maneira. Não se engane achando que chegou ao fim! Satanás também segue o filho que quer voltar, e a sensação de que um pecado está suplantado é uma das armadilhas que ele põe no caminho. É preciso caminhar no mesmo sentido sempre: Bíblia, oração, testemunho!

No caminho de volta compreenderemos um a um o preço dos nossos pecados. Mas devemos ter em mente o alvo: um lugar tranqüilo, sossegado, sem medo, onde haveremos de chegar na companhia de Cristo, que nos acompanhará em todas as dificuldades, e, a cada vitória diária, nos fará mais fortes para vencer amanhã, e depois, e depois...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Adventiat - Prova

"Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”. (II Coríntios 13: 5)

Uma das maiores lições que aprendi na última universidade onde estudei não foi aprendida dentro de uma sala de aula, mas num certo dia em que, estando lá, precisei ir a uma agência bancária. A mais próxima ficava na reitoria, que é fora do campus, bastante afastada. Não valia a pena pegar um ônibus, mas renderia uma boa caminhada a pé, que eu nunca tinha feito porque o percurso me parecia muito grande. Resolvi o problema outras vezes deixando a pendência para o outro dia ou indo a uma agência próxima a minha casa, o que eu não podia fazer naquele momento. O jeito foi colocar o pé na estrada a contragosto e ir em frente.

Mas é assim, a contragosto, andando por caminhos desconhecidos, fora do nosso mundinho cotidiano, que nos colocamos à prova e descobrimos as coisas mais interessantes sobre nós mesmos e sobre a vida. Se não colocamos nosso conhecimento, nossos limites, nossa força à prova, não crescemos. E, no plano espiritual, não conhecemos a Deus. Pois se não sabemos do que somos incapazes, não saberemos do que Deus é capaz. Na prova, aquilo nos desestrutura e desafia, também constrói nossa identidade: "Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?"

No caminho até a agência bancária descobri algo interessante sobre a minha universidade: ela é muito bonita! Vi-me no meio de trilhas arborizadas, ladeadas por riachos, lagos, flores, canteiros primorosamente esculpidos, pássaros simpáticos, cores alegres, tudo encimado por um céu que se comprazia em combinar com a paisagem. A imagem da agência bancária chegou antes do que eu esperava. Na verdade eu não me importaria que o caminho até lá fosse um pouco mais longo; a beleza acabou com minha pressa.

Acredito que a vida também pode ser assim: um caminho desconhecido, mas belo. Depende daquilo em que você vai fixar os olhos. Se olhar para os próprios pés, pensando na distância até seus objetivos, o caminho se tornará bem penoso. Se, no entanto, se permitir olhar ao redor, colhendo motivos para ser grato a Deus, o caminho se tornará uma fonte de bênçãos. Sempre há algo pelo que agradecer, nem que seja o próprio caminhar. Mesmo nos trechos onde não se consegue ver tanta beleza assim, o som dos próprios passos pode criar música. Mas Deus nunca deixará que um cristão aberto à Sua bondade chegue ao fim da jornada de alma vazia.

Portanto, não meça distâncias, não tema o desconhecido: prove a si mesmo e descubra as bênçãos que estão à sua espreita no caminho.

domingo, 24 de maio de 2009

Adveniat - Vinde

“Vinde a mim, todos...” (Mateus 11: 28), foi o convite de Cristo. Mas quanto do eco desse chamado ainda pode ser ouvido na vida de seus seguidores? Como resolvemos o problema de ser luz acolhedora para um mundo que é vendaval furioso? Talvez a resposta aponte para uma confiança que se deposita aos pés de Cristo, e não em nossa própria percepção do mundo.

Pois foi o que concluí outro dia olhando para o passarinho engaiolado na casa da minha vizinha. Sempre abominei enjaular esses animais. E nunca me convenci que o mais carinhoso e dedicado dos criadores de pássaros poderia substituir um vôo livre pelo céu e o ambiente que o Criador fez para ser o lar deles. Uma opinião pessoal, é certo. Por isso mesmo quando vi a gaiola pendurada na casa da minha vizinha, bem em frente à porta da minha cozinha, fiquei incomodada. Mas tive que me acostumar a sua presença ali, enjaulado e expondo sua solidão para mim todos os dias.

A princípio fechava a porta para não vê-lo e assim minimizar a sensação de incômodo. Depois meu filho o descobriu e encantou-se por ele. Todos os dias me pedia para ver o “piu-piu”. E eu tentava desviar sua atenção, tentava mostrar os outros passarinhos no céu, nas árvores... não houve acordo, ele queria ver aquele passarinho. E os dois começaram a interagir. Quando via meu filho na porta da cozinha o passarinho começava a cantar. Meu filho respondia com balbucios e gritinhos de alegria.

Foi preciso que se passasse algum tempo até eu perceber o tamanho de minha ignorância. Sim, ignorância no sentido mais triste do termo, de ignorar, desprezar. Eu tentava resolver o problema dos passarinhos enjaulados fugindo da visão deles. E daquele em particular, o da minha vizinha, eu fugia fechando-me em meu mundo onde todos os passarinhos deveriam ser livres, como se não existisse um preso ali, ao meu lado. Foi preciso que meu filho de um ano apontasse que ali também havia uma vida, e que ao invés de evitá-la – visando tão somente meu próprio conforto existencial – eu poderia contribuir para torná-la um pouco mais feliz, nem que fosse “conversando” com o pequenino um pouquinho, já que não podia libertá-lo.

Gostaria muito que esta história se aplicasse apenas a seres irracionais, mas ela também repercute nas esquinas dos semáforos onde crianças ficam na ponta dos pés e encostam o nariz no vidro fechado do meu carro. São crianças presas na pobreza. Alguém nos diz: “Não dê esmolas! Você estará estimulando a mendicância!”, mas ninguém nos mostra uma alternativa para essa atitude, e chegamos a pensar que com a atitude negativa de “não dar” estamos contribuindo significativamente para o bem estar da sociedade. É, pode ser que, se ninguém der esmolas, elas sumam dos sinais, sumam da minha visão, mas continuarão existindo em algum beco sujo. E o que estou fazendo a respeito?

Gostaria que essa história não tivesse nada a ver com a forma como nossa sociedade trata os que não são confortáveis à nossa existência, e assim joga idosos num asilo, espreme criminosos numa cela, interna bem longe “menores delinqüentes” (falando assim nem lembramos que são crianças) e os “menores abandonados” (por nós também?), separa os deficientes, os que têm problemas mentais, os alunos que não aprendem, os jovens que não se encaixam, o joio - que era a árdua tarefa de Deus, e não nosso passatempo arbitrário, separar. Até que as conseqüências desses absurdos nos atinjam, achamos que está tudo bem porque o problema some de diante dos nossos olhos para continuar existindo longe de nós.

Não posso num texto tão curto discorrer sobre as formas de atuar sobre essas vidas sem segregá-las. Nem mesmo considerar questões sobre segurança e confiabilidade no fazer-o-bem-sem-olhar-a-quem. Gostaria até de falar sobre a dificuldade que é, simplesmente, ter a iniciativa de fazer o bem quando todos estão se fechando dentro de suas casas, instituições, empresas e politizando o processo – simples – de amar como Cristo amou. Resta-me terminar apontando para a própria figura do Cristo, que não fechou os olhos para os seres mais desprezíveis em seu tempo: prostitutas, leprosos, publicanos, ladrões... Em nosso tempo onde os desprezados aumentam vertiginosamente (Mateus 24), eu apelo que procuremos o eco daquele convite do Mestre: “Vinde!”. “E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida”. Recuperando a imagem de Deus em suas criaturas, digamos uma vez mais: “Ora, vem, Senhor Jesus”(Apocalipse 22:17 e 21).

domingo, 10 de maio de 2009

Adveniat - Sobre a vida

O teólogo Agostinho escreveu há alguns séculos: "Usamos mal da imortalidade e isso nos fez morrer. Cristo usou bem da mortalidade e isso nos faz viver." E hoje? Lidamos bem com a idéia da imortalidade? E da mortalidade?

Eu pensava sobre isso enquanto observava os jambos se acumulando no chão do meu jardim. Nosso pé de jambo foi plantado por minha sogra quando ela ainda era viva. Ela o fez para amenizar o calor, uma vez que a copa dessa árvore é realmente um abrigo refrescante nos dias quentes de Recife. O que talvez ela não imaginasse é que eu e meu marido não iríamos desfrutar de mais que a sombra dessa árvore, uma vez que não gostamos de jambo, e toda vez que os vemos assim, às centenas, no chão do jardim, gostamos menos ainda.

Alguns amigos e familiares que nos visitam ficam com dó. Tantos jambos e tão vermelhos, tão grandes e suculentos, mas que apodrecem até serem recolhidos por uma vassoura impiedosa que os manda todos para um enorme saco de lixo. Como a árvore já está muito alta, os que caem se partem de maduros, e os de cima estão muito altos para serem pegos com facilidade. Só os meninos da rua que às vezes entram para roubá-los – com meu total assentimento – é que conseguem tirá-los inteirinhos depois da deliciosa trabalheira de escalar quase até o topo.

E o que isso tem a ver com Agostinho, além dele também ter roubado algumas frutas na infância? É que o desperdício dos jambos me fez pensar em como desperdiçamos também a imortalidade que Deus oferta da frondosa árvore da vida. Não só isso: nem mesmo a nossa volátil mortalidade escapa de ser mal aproveitada, muitas vezes.

O fato é que se não amamos a Vida, que é a Pessoa de Jesus Cristo (João 14:6), não poderemos saboreá-la. Não teremos ânimo de enfrentar a escalada íngreme até o topo dos princípios cristãos, para nos apoderarmos de algo que nos é na boca tão insípido e sem graça quanto um jambo o é para mim – é também Cristo que dá sabor ao Fruto do Espírito (Gálatas 5:22). Ele é o maior argumento contra aqueles que vivem como se a vida fosse algo que pertence ao além, pois a forma como Ele viveu nos lembra que vida é agora, porque agora é chegado o Reino de Deus (Mateus 10:7). E a despeito da morte que nos espreita, cada cristão tem aqui um dever, que é mostrar o amor de Deus àqueles que precisam de Vida em abundância. Se não nos dermos conta de que precisamos morrer um pouco a cada dia em abnegação e conversão (João 17:3), pereceremos como fruta que não encontrou seu propósito: ser alimento para a vida (João 12: 24; 15:8). Fruta que não alimenta, seca e morre.

Por outro lado, a imortalidade também precisa ser um anseio do cristão. Mas essa imortalidade almejada não é simplesmente a vitória sobre a morte. Ela representa a vitória sobre o pecado, sobre a pequenez, sobre a amargura, sobre a mesquinhez, representa a vontade de transcender a carne e chegar até a perfeição que Deus pode nos prover (Romanos 6:22). Significa também esperança, segurança, coisas que não se encontram facilmente num mundo em crise de confiança (II Cor. 5:1). Se não cremos no imperecível e não buscamos aqui, dentre todas as coisas, aquilo que pode nos remeter ao Eterno (João 6:27), seremos como a semente que apodrece antes de descobrir nas mãos do Semeador o germe de uma nova vida. O fruto da árvore da Vida que nos acena da copa frondosa não cairá ao chão. Quanto a nós, é nossa escolha viver para a Eternidade – e os altos ideais que ela representa - ou voltar ao pó, como fruta que podendo ser transformada para a Vida, prefere o cimento lapidar do chão do jardim.

domingo, 26 de abril de 2009

Adveniat - Uma nova claridade

Os telejornais estão falando de chuvas fortes por todo o Brasil. Num dia desses, enquanto eu via a imagem de um senhor atravessando sua rua num barco, divaguei nas minhas lembranças até o ano de 2002, quando presenciei as chuvas mais torrenciais que já vi na vida. Eu morava então em Natal, mas no mês de janeiro daquele ano, parecia que a capital potiguar iria se transformar na Macondo de Gabriel Garcia Marquez.

Tanta chuva nos causou grande estranheza. Natal tem o título de “Cidade do Sol” por causa dos seus 300 dias de sol por ano, em média. Segundo alguns estudiosos ela é também a cidade que tem a maior claridade natural do Brasil. Isso ocorre devido a sua posição geográfica, na esquina do Atlântico, que lhe serve como espelho d’água. O resultado disso é que as cores em Natal ganham uma tonalidade característica, confundindo os pintores estrangeiros que por ali passam.

Nesse contexto, um mês inteiro de chuvas fortes e constantes era algo penoso para nós. Lembro de um desses dias chuvosos em que acordei bem cedo, e ao sair de casa vi que o céu estava límpido. Durou pouco, mas naquelas duas horas as nuvens deram uma trégua para deixar o azul celeste nos dizer “olá” novamente. E as retinas já acostumadas aos dias de chuva sempre escuros, ficaram em festa, matando a saudade das cores que não viam há semanas.

No pouco tempo em que o sol ficou à vista, pude perceber uma vasta nuance de cores e tons que antes passavam diante de mim banalizados. Vi azuis refletidos nos paralelepípedos do calçamento e amarelos brilhando nas folhas das árvores. Verdes alegres pontuando o asfalto e cor-de-rosa sorridentes em fachadas de casinhas humildes. Aquele vislumbre de cores festivas, que são a marca da minha cidade, nunca me pareceu tão belo como naquelas duas horas entre o cinza atípico de um verão chuvoso. Percebi que talvez eu nunca tivesse reparado nisso se não tivesse conhecido a ausência da claridade e convivido com a predominância do cinza-chumbo no céu.

Essas lembranças me levaram a divagar mais. Já ouvi muitas pessoas questionando a bondade e o amor de Deus diante de um mundo cheio de tanta miséria, dor, desigualdade, morte e injustiça. Não teria sido mais fácil e justo Deus ter dado fim ao pecado desde seu início, eliminando Satanás, e com ele todas a mazelas da Terra? Por que não o fez?

Acontece que os seres puros do Universo não conheciam qualquer névoa de maldade antes de Satanás. Como natalenses diante de tempestades infindáveis, estavam confusos quando o mal surgiu pois não conheciam suas consequências. Somente quando viram o próprio Filho de Deus agonizando numa cruz em terrível dor, enquanto Satanás e seus anjos rejubilavam julgando ter vencido a batalha, é que o Universo pôde contemplar toda a monstruosidade do pecado. Os anjos fecharam os olhos e choraram diante de tão terrível cena. Compreenderam o que eram as trevas.

Mas o Plano de Salvação arquitetado por Deus era perfeito, e surpreendeu nosso inimigo: três dias depois Cristo ressuscitou dando a resposta de Deus ao Universo e a vitória a todos que O seguem. Por Cristo foi nos dado poder para viver de maneira elevada e santa, a fim de um dia estarmos juntos ao nosso Redentor numa Nova Terra completamente renovada e livre do mal.

Depois de vivermos tanto tempo nas trevas do pecado poderemos contemplar com novos olhos toda a claridade da luz. Conheceremos como somos conhecidos. Amaremos com também somos amados. Louvaremos, não somente porque fomos criados, mas porque fomos resgatados da escravidão e da morte. Embora nos custe viver nesse ambiente obscuro em que vivemos hoje, é ele quem nos dará um dia a noção exata da nossa necessidade do Sol da Justiça. Quando tudo isso passar, compreenderemos melhor a luz, e por isso “não se levantará por duas vezes a iniqüidade” (Naum 1:9). Se pela fé crermos nessa doutrina, poderemos aguardar com esperança o tempo em que andaremos eternamente na luz (Apocalipse 21:24).

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Monólogos acompanhados - Ekklesia

Inaugurando mais um tag no blog, pensamentos esparsos, incompletos e crus que não chegaram a virar reflexões maduras.
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(1)
Você percebe que ninguém sentiu a sua falta.
E isso é triste.
Mas percebe também, e isso sim importa,
que a questão, de fato,
é o quanto você sentiu a falta de Deus.

(2)
Mal comparando, a igreja para mim é como uma prova acadêmica. Se você fez sua lição de casa, se está feliz porque conseguiu exercitar o conteúdo com que teve contato, se aprendeu de fato, vai fazer a prova contente e satisfeito porque sente que não só aproveitou os novos conhecimentos como tem o suficiente para dar. Na Igreja então, em contato com outras pessoas, você vai falar entusiasticamente sobre aquela matéria que você estudou a ponto de gostar dela (não costumamos gostar daquilo que não conhecemos). A ponto de desejar repassá-la de modo que outros possam aproveitar esse conhecimento também.
Se por infelicidade eu esquecer de fazer minhas lições de casa e aparecer na prova só para parecer que estudei ou que sei algo, meu semblante logo denunciará que estou oca. Que tenho medo e vontade de ir embora. E virá a apatia porque não consigo "acompanhar" aquele conteúdo, o isolamento porque não me identifico com aquele ambiente, a amargura porque a prova se tornou um instrumento para me pressionar a dar algo que não tenho.
E ainda que eu me esforce muito para não deixar transparecer isso tudo, e mantenha os olhos em outros objetos durante o tempo da prova (na roupa de um, nos vícios de linguagem de outro), uma hora os olhos do Mestre encontrarão os meus e...

(3)
A diferença entre o mandamento AMEM
e o cumprimento AMÉM
é um acento tônico
inclinado para o palpável
sobre uma vontade aguda de amar.

Recebi de graça - Solução para remédios amargos

Deviam inventar algo análogo para o ser humano, embora nós, ao contrário dos animais, tenhamos aprendido a nos acostumar com tudo, mesmo ao pior dos sabores, se julgamos que isso nos trará um benefício ou evitará um mal.

No texto anterior falamos sobre o quanto suportar com fé certas amarguras desta vida pode ser compensador. Mas explicar isso para os cachorros é mais difícil. Por isso a solução criativa abaixo, que recebi hoje (essa demorou meses!) e já vou repassar para minha irmã porque a minha cadelinha costuma engolir resignadamente seus remédios (melhor até que alguns humanos).
Trata-se de "bolsinhas" de ração para esconder os comprimidos e cápsulas que você tenha que dar para seu cachorro. Nos sabores carne e frango. Clique AQUI e preencha o formulário colocando Brazil e o seu CEP no campo "City", e o restante do endereço nos campos "Address" 1 e 2.

Adveniat - Ressureição

Mais uma reedição de um texto de 2002 (um ano literariamente falando). Esta foi a pedido de Mário Jorge Lima, pois ele achou que o texto tinha a ver com a páscoa. Não era o que tinha em mente quando escrevi mas de fato, o tema remete à reflexão própria do período. É tão fácil - e tão bom - escrever sobre música!
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Uma das mais belas sinfonias de Gustav Mahler é, sem dúvida, a Segunda, denominada "Ressureição". Mahler, músico dado a composições grandiosas, conseguiu dar a essa sinfonia um tamanho descomunal, tanto em se tratando da mensagem como da execução da música. Para ter noção dessa grandeza, junte aí um conjunto enorme de instrumentos de cordas, com mais 70 instrumentos diversos, alguns deles fora do palco, incluindo dois sinos, e um coro de vozes imenso – a idéia era essa!

Os três primeiros movimentos da Segunda Sinfonia são instrumentais, e de acordo com indicação do próprio Mahler, o primeiro deles lança uma pergunta: "Com que finalidade viveu você?", a qual será respondida somente ao fim. A dúvida alterna momentos de uma atmosfera dramática, tensa, com passagens singelas e suaves. Quem já não meditou sobre esse tema alguma vez?

No penúltimo movimento, aparece uma voz doce, um solo de contralto, cantando a "Luz Primordial", onde o tema da dúvida se desenvolve. Mahler deixa ver um ser humano em conflito, que vem de uma vida de sofrimentos e necessidades, querendo se manter no caminho da Luz, mas, sendo constantemente tentado a se desviar dele. Seria tão melhor estar no Céu ao invés de viver as amarguras da vida terrena... é tão cansativo travar essa luta constante contra a carne e contra anjos maus. Sua convicção, porém, não vacila, e repete contrito: "Eu sou de Deus e para Deus devo retornar.”

Essa é a primeira faceta de uma ressurreição que por vezes passa despercebida: a morte do velho homem, e a ressurreição de uma nova criatura em Cristo Jesus . Estar longe do caminho que conduz a Deus é estar, de certo modo, morto, posto que perece qualquer esperança para além desta vida fugaz. Quando nascemos de novo já não nos conformamos em viver aqui só para comer, beber, apaixonar-se e morrer. É para isso, sofrimentos, futilidades e desilusões que vivemos nesta terra? Depois de satisfazer esta carne, o que nos resta? Não. Descobrimos um sentido maior, mais elevado, para o qual caminhamos ainda que em luta constante contra nossa natureza, que teima em se apegar às coisas vãs desta vida. A pergunta permanece suspensa: Qual a razão de estarmos aqui? O lindíssimo solo de contralto, que começou apontando para Cristo, a Rosa de Saron, termina com uma única certeza: Deus iluminará o caminho daqueles que decidirem seguí-lO.

Então começa o último movimento, o mais longo de uma sinfonia até então. Aqui, Mahler explora a força de todos os elementos musicais para expressar as passagens bíblicas que vão da Volta de Jesus à Ressurreição. E o faz com maestria, colocando aquele imenso coral de que falei para cantar uma das mais poéticas visões da Ressurreição através dos versos de Friedich Klopstock. A ressurreição dos justos é representada como está em Apocalipse 14:14-16; a ceifa, onde os que morreram justificados em Cristo ressurgirão, assim como a semente que depois de um curto sono torna à vida no mesmo lugar em que foi semeada, agora em aparência de glória.

E o homem angustiado, chega ao fim de suas dúvidas: “Você não nasceu em vão. Você não viveu e sofreu em vão.” A Ressurreição é a resposta a todos os sofrimentos que foram suportados e vencidos. “Oh, sofrimento todo-poderoso, agora eu escapei de você, Oh, morte sempre vitoriosa, agora você foi vencida!”. De repente tudo parece claro como a própria luz que emana do trono de Deus. Todas as renúncias que foram feitas, todas as dolorosas decisões em favor do bem, todos os pecados a que se resistiu, mesmo que atormentassem a carne, toda fidelidade guardada a Deus a despeito de nossa dor, agora parecem tão pouco. O crente repete a si mesmo em júbilo: “Acredite, meu coração, acredite! Você não perdeu nada! Você receberá tudo que amou e desejou”. Os que amaram os pecados e desejaram só as coisas deste mundo terão aqui seus prazeres e também sua destruição. Mas – não é lindo isso? - os que passaram suas vidas amando e desejando estar junto de Jesus receberão no final a recompensa suprema: o próprio Cristo. “Com as asas que eu ganhei, no ardor do amor, eu voarei para a luz que nenhum olho jamais viu.” E por fim, o próprio Mahler conclui: “A dor que você levou, levará você a Deus.”

Que a contemplação de uma Nova Terra onde veremos Jesus face a face, onde “não haverá nem luto, nem pranto, nem dor”, onde “nunca mais haverá qualquer maldição”, (Apocalipse 21: 4, 22: 3,4), possa nos impressionar uma vez mais no início desta semana. E que a “Luz Primordial” dê força à nossa fé, e sentido a nossa breve existência neste mundo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Acreditar (ou não)

Eu não conhecia, encontrei hoje por acaso. A música se chama "O Adventista", composição do Camisa de Vênus (Marcelo Nova/ Franz Hummel)

"Eu acredito no bem e no mal
Eu acredito no imposto predial
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nos livros da estante
Eu acredito em Flávio Cavalcante
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no seu ponto de vista
Eu acredito no partido trabalhista
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito em toda essa cascata
Eu acredito no beijo do papa
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
eu acredito em quem anda com fé
Eu acredito em Xuxa e em Pelé
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito na escada pro sucesso
Eu acredito na ordem e no progresso
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito que o amor atrai
Eu acredito em mamãe e papai
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito no Cristo que padece
Eu acredito no INPS
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no milagre que não vem
Eu acredito nos homens de bem
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nas boas intenções
Mais este papo ja encheu os meus culhões
Eu não acredito, eu não acredito"

Vi no YouTube o vídeo dessa música com um comentário abaixo que falava de uma entrevista que o Marcelo deu na MTV dizendo que, em certo show (o do vídeo), parou, viu aquele monte de garotos de 16, 17 gritando "Não vai haver amor nessa P. nunca mais" e começou a improvisar um pai nosso.
Esta outra música abaixo eu já conheço de longas datas. Chama-se "Escolhi acreditar". Música de Lineu Soares e letra de Mario Jorge Lima.

"Modernas Teorias, novas formas de pensar
Existem por aí nos meios intelectuais
Que vão do ateísmo mais profundo e radical
Até o humanismo com tinturas sociais
E hoje mesmo a crença tenta se modificar
E quer que o homem seja o fim da sua pregação
Senhor dos seus problemas, dos seus sonhos e ideais
Buscando aqui e agora a total libertação
No entanto eu escolhi acreditar
Que existe um plano para a salvação
E que há um Deus no céu a governar o meu viver
Mas que me dá poder até pra aceitá-lo ou não
O seu reino é liberdade é amor
Espera sem forçar a decisão
Ele é descomplicado, não confunde o pecador
E fala tanto a minha mente como fala ao coração
O ser humano hoje só volta para si
Buscando atender necessidades essenciais
Mas sem levar em conta que há uma vida superior
Que poderá suprir os seus anseios mais reais
E há os que procuram tudo racionalizar
Só crendo no que a ciência e a cultura podem ver
Querendo um milagre pela lógica explicar
Se fecham para as coisas do espírito e da fé
No entanto eu escolhi acreditar
E esperar assim em meu Jesus
Filósofos e mestres nunca irão avaliar
Aquilo que o amor de Deus mostrou na cruz
O meu Deus é poderoso é real
Só nEle eu encontrei enfim perdão
Prefiro depender de sua força sem igual
E quero ter, então, por Ele transformado o coração."

Nem todo ser humano quer o mesmo para si. Embora todos precisem do mesmo.
Impressionante como a crença faz diferença entre essas duas músicas.
Pode fazer diferença na vida da gente também.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Faça você mesmo - Bíblia para bebês

Este post inaugura uma nova tag no blog, que ao meu ver também tem a ver com a Graça. É que Deus nos concede dons e talentos para criar, e a ação criativa nos aproxima do Criador, nos dá uma felicidade de quem reconhece em si algo do caráter divino.

Lembro que tive dificuldade de encontrar uma Bíblia para meu filhote porque mesmo as mais bonitas eram feitas daquele papel fininho que os pequenos adoram rasgar em três tempos. Então, Jaqueline, uma das melhores professoras infantis que já conheci, deu esta idéia que desenvolvemos juntas. Ao invés de dar R$ 15,00 numa Bíblia toda em papel cartonado, você pode, com cerca de R$ 4,00, confeccionar você mesmo uma, que seu filho também vai amar.

Para isso você vai precisar de:

- 1 álbum de fotografias, desses que se encontra ns lojas de 1,99, com cerca de 12 folhas. O coração recortado que aparece neste aqui veio nele mesmo. Pode também ser um fichário do tamanho de um caderno pequeno com capa e folhas de plástico, à venda em papelarias por um precinho bem camarada. Se você encontrar nem precisa encapar com feltro, só colar um figura bonita na capa.








- Uma impressora para imprimir ESTES DESENHOS ou outros a seu critério. Estes eu preparei já no tamanho certo para o álbum. São em preto e branco e mostram figuras de Jesus comcrianças e cenas de Sua vida. Se tiver tinta colorida pra gastar, você pode baixar ESTES ARQUIVOS DA EBD (procure pelos arquivos dos pré-primários e juniores também) e fazer a festa. Esta Bíblia é própria para bebês que ainda não lêem, mas você pode acrescentar palavras ou pequenas frases para estimular.
- Cola plástica (BRASCOLA, à venda em qualquer papelaria ou loja de construção)
- Feltro
- Tesoura
- Tinta dimensional (vem num tubinho com bico para facilitar a aplicação)

Passo-a-passo:

1- Encape o álbum com feltro, colando-o com cola plástica sobre a capa. Deixe o recorte abaixo nas pontas.













2- Feche as pontas com cola plástica também.
3 - Decore com tinta dimensional a seu gosto. Para quem não tem prática é bom treinar antes num papel.
4- Recorte e encaixe as figuras no álbum. Para ficar mais seguro você pode colar as bordas com durex depois que encaixar a figura (é mais difícil para as maozinhas puxarem os desenhos)
5- Está pronta! Você pode usar a mesma idéia para fazer livrinhos temáticos, sobre animais, plantas, instrumentos musicais e tudo que seu bebê gosta.
6 - Deixe o bebê manusear livremente o livro, e vá falando o que significa cada figura. Você pode passar uma vez explicando e depois deixar que ele mesmo se divirta manuseando. Logo você perceberá que ele o imita e tenta falar o que é cada figura também, como se estivesse contanto a história para você:-) Acredite, antes de 1 ano eles já podem fazer isso, o que pode fazer bastante diferença para o desenvolvimento de sua linguagem e capacidade de expressão.
7 - Cultive pequenos leitores e colherás grandes homens. O meu filhotinho é apaixonado por livros e vive me pedindo para contar histórias, que eu conto desde o ventre. Os livros ele já manuseia desde os três meses, quando aprendeu a agarrar objetos. Me chama para fazer sua liçaozinha bíblica todos os dias e se diverte com isso. Alguns de seus livros estão entre sues brinquedos preferidos, e ele passa um tempão "lendo" e "contando" histórias em nenenês, hehehe.

sábado, 21 de março de 2009

Adveniat - Algo mais

Ok, mais um texto antigo. Este é de 2004. Mas não é por falta de inspiração ou vontade de escrever, é que está difícil mesmo sentar na frente do computador, ou fazê-lo com a mente e o espírito abertos para a escrita. Esta semana ainda venho aqui escrever ao invés de reeditar.

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Acsa é uma personagem bíblica que só aparece em cinco versículos bíblicos (Josué 15:17 - 19 e Juízes 1:13-15), mas imprime uma mensagem de força indispensável em quem anda à busca de seu papel como cristão.

O pai de Acsa resolveu dá-la em casamento ao guerreiro que conseguisse conquistar uma certa região ao sul da Palestina chamada então de Quiriate-Sefer. Embora esse tipo de arranjo matrimonial nos pareça esquisito à primeira vista, é preciso analisar o contexto histórico para observar que nessa época a conquista de terras era o maior interesse dos povos, pois da posse da terra dependia toda a estabilidade deles. O pai de Acsa estava preocupado em lhe dar um marido que demonstrasse ter vontade suficiente de conquistar uma terra, pois esse demonstraria também aptidão para dar um lar seguro e próspero para sua filha. Depois, na mente de seu pai, um marido guerreiro, corajoso, era o melhor que ele poderia dar a Acsa, que devia ser uma mulher muito valorosa, a ponto do pagamento do seu dote ser a vitória de uma importante batalha.

Otoniel, primo de Acsa, conseguiu essa proeza e, conseqüentemente, a terra que conquistara. Se a história terminasse aqui todos os méritos pareceriam devidos a Otoniel, mas este fez apenas a sua parte no trato, conseguiu só aquilo que lhe era por direito humanamente. Acsa foi mais além. Ela percebeu que as terras do seu marido eram boas, mas não seriam produtivas sem água, que existia franca nas nascentes próximas, em terras de seu pai . E embora seu quinhão já fosse muito bom, ele não era tudo de que precisava: o clã de seu marido, agora o seu, precisava de mais, do melhor.
Não entendo a atitude de Acsa como ganância, mas como uma visão clara das vantagens a que tinha direito. Ela não se contentou em perceber suas necessidades e pediu ao pai aquilo que ele não poderia negar: um presente, como sinal de bênção sobre aquele casamento. Assim, os queneus conseguiram se estabelecer sobre ótimas terras e abundantes águas, sem o que as terras e todo o esforço do valente guerreiro Otoniel pouco teriam valido.

O que Acsa tem a nos dizer? Acredito que as nossas melhores conquistas são o fruto de uma parceria entre nós e Deus. Ele nos aponta as oportunidades – e é preciso conseguirmos distingui-las daquelas empreitadas que são meramente nossa vontade –, e nós nos lançamos na batalha com determinação até alcançar o alvo. Mas a história não deve parar por aqui, como a de Acsa não parou. Qualquer livro de auto-ajuda aconselharia a ter coragem de vencer as batalhas e se apossar do prêmio. Mas a Bíblia indica que os cristãos devemos reclamar a bênção completa que Deus tem para nós, aquilo que a fará fértil para gerar outras bênçãos.
Para isso é preciso perceber o que é que nos faz completos, depois ir até Ele, pedir que nos oriente a chegar até onde Ele quer que realmente cheguemos. E normalmente Ele apontará que quer que cheguemos ao Céu. Será que é uma atmosfera celestial que está faltando àquela bênção que Deus te ajudou a conquistar? Um perfume do Céu não tornaria o emprego, a casa, o casamento, o filho ou qualquer outra vitória que ele te apontou? Sem a água da vida que corre dos mananciais celestes (João 4:14), nossas conquistas serão tão efêmeras quanto o bocado deste mundo que conquistamos.
Uma vitória é sempre algo bom. Uma vitória com Deus é algo eterno. É preciso ter visão ampla para compreender aquilo de mais amplo que nós mais precisamos, e ir buscá-lo humildemente, mas com segurança, nas mãos dAquele que nos pode dar (Mateus 7:7), dAquele que, como nosso Pai amável, não nos pode negar uma bênção completa e abundante. Qual deve ser o tamanho de sua bênção esta semana? O que Deus pode ajuntar aos seus esforços? O que Ele deseja fazer que pode suprir por completo suas necessidades? Deixe que Ele lhe fale agora mesmo!

domingo, 15 de março de 2009

Só um suspiro

Estou tão cansada...
Que só consigo esperar.


sexta-feira, 6 de março de 2009

A pedidos - Músicas complementares

Não sei como não atinei com isso antes: é melhor refletir sobre uma obra musical quando se pode ouví-la, certo? Portanto, para o Marcão e para qualquer outro dos meus seis leitores ocasionais, seguem abaixo os arquivos em mp3 com as músicas mencionadas nos dois devocionais abaixo.

A PRIMEIRA é a ária para soprano e contralto do Messias de Handel, "He shall feed His flock".
Você pode baixar a obra completa (com a que é considerada por especialistas a melhor interpretação da obra), bem AQUI, no Blog do P.Q.P. BACH. Se quiser comparar, pode baixar essa OUTRA versão e aproveitar para ler mais comentários sobre o Messias.

Ária (Contralto) - Isaías 40:11

He shall feed His flock like a shepherd,
and He shall gather the lambs with His arm,
and carry them in His bosom,
and gently lead those that are with young.

Ária (Soprano) - Mateus 11:28-29

Come unto Him, all yet that labour,
that are heavy laden, and He will give you rest.
Take His yoke upon you, and learn of Him,
for He is meek and lowly of heart,
and ye shall find rest unto your souls.

Veja a TRADUÇÃO INTELINEAR do Levi Tavares.

A SEGUNDA é o conjunto de recitativos e coros citados no texto sobre a Paixão Segundo São Mateus. Você pode baixar a obra completa AQUI, créditos para o mesmo blog.

1. Recitativo - Evangelista (track 9)
Então, no primeiro dia da comemoração do pão ázimo, os discípulos vieram a Jesus dizendo-lhe:

2. Coro
Onde queres que preparemos a ceia para Tu comeres na Páscoa?

3. Recitativo - Evangelista
E Ele disse:

4. Recitativo - Jesus
Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe, o MEstre disse: Meu tempo está perto, Eu passarei a Páscoa em tua casa com Meus discípulos.

5. Recitativo - Evangelista
E os discípulos fizeram como Jesus lhe dissera, e eles aprontaram a Páscoa. Agora que o entardecer chegou, Ele sentou-se com os doze. E enquanto comiam, Ele disse:

6. Recitativo - Jesus
Na verdade, Eu vos digo, que um de Vós Me trairá.

7. Recitativo - Evangelista
E eles dicaram excessivamente tristes, e cada umd eles começpu a dizer-Lhe:

8. Coro
Senhor, serei eu?

9. Coral (track 10)
Sou Eu que devo ficar só, mão e pé amarrados na Sepultura.
Açoites e grilhões e vossos sofrimentos
redimiram minha alma.

Para os mais ortodoxos, todos os CDs aqui postados para avaliação estão à venda na AMAZON.
Ouça tudo hoje mesmo e desejar-lhe um feliz sábado será redundante, hehehe.

Adveniat - Senhor, serei eu?

Seguindo a mesma linha do devocional anterior, este, escrito para o site Adveniat também retomou um escrito antigo (de 2002) sobre uma obra de que gosto muito. Só retoquei o texto para o formato so site, "enxugando-o" Ai, preciso retomar minhas audições sabáticas de música sacra. Este hábito, que aprendi na casa do meu saudoso amigo Elias Tavares, é algo que mantém a atmosfera do meu sábado bem próxima a do Céu.
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Você sabia que nesta semana comemorou-se pela primeira vez no Brasil o Dia Nacional da Música Clássica? Cinco de Março foi o dia escolhido por tratar-se do aniversário do compositor Heitor Villa-Lobos. Como o tema “Música” muito me apraz, eu não poderia deixar de recomendar uma de minhas obras preferidas, embora ela não seja exatamente Clássica no sentido mais estrito do termo. Trata-se, na verdade, de uma música barroca, e certamente uma das mais belas obras de música sacra. Chama-se “A Paixão segundo São Mateus”, de Bach. Mesmo que seu gosto pessoal não o motive a comemorar a mais nova celebração nacional, há algo de espiritual nessa composição que você não pode deixar passar.

O pesquisador Otto Maria Carpeaux classifica A Paixão Segundo São Mateus como “uma obra de tão profunda emoção religiosa a ponto de converter um ateu”. De fato, ela é de uma mensagem tão poderosa que já se deu a Bach o título de “Quinto evangelista”. A pregação não se limita à exposição de um drama distante: o uso genial da forma coral permite que Bach transforme a música em prece íntima, e realize a introspecção da mensagem na congregação.

Um exemplo desse magnífico efeito está na primeira parte da Paixão Segundo São Mateus, que expõe o momento em que Jesus anuncia aos discípulos que será traído. “Um de vós me trairá”, canta a voz do baixo. O narrador diz: “E eles, mutíssimo tristes começam a perguntar...” (Mateus 26:22). Então entra o coro dramático dos apóstolos perguntando “Senhor, serei eu?”, pergunta que é repetida onze vezes, o que nos faz lembrar que Judas calou-se. Nesse momento, todos esperam que se siga a narração conforme está na Bíblia, com Jesus indicando os sinais do traidor. A pergunta “Senhor, serei eu?” ainda está suspensa por um acorde interrogativo. Bach toma um rumo menos óbvio e quando se espera que Jesus diga que Judas é o traidor, entra um novo coro de vozes, que, representando as vozes da congregação, anuncia outro culpado: “Sou eu!”.

De repente, os olhares que se voltavam para Judas, passam a olhar para si mesmos, e cada pessoa presente na igreja passa a se sentir pessoalmente culpada pela morte de Cristo. Ao contrário do que poderia se imaginar, esse coro não tem em nenhuma de suas notas um tom acusador, mas contrito, de um pecador que se reconhece mau. Ninguém pode ouvir esse coro sem sentir em seu coração que, em algum momento, também traiu Jesus, e merecia sofrer as penas do pecado no lugar dEle. “Vossos sofrimentos redimiram minha alma”, termina o coro deixando emocionado e surpreso o ouvinte.

Só depois disso é que o relato prossegue. Judas pergunta: “Senhor, serei eu?” e Jesus termina afirmando: “Tu o disseste”. Pronto, Bach mostrou a Cristo. Não um Cristo que chama nossos nomes para acusar, mas um Cristo que por Seu sacrifício de amor nos constrange a reconhecermos nossas culpas. Um Cristo a quem nós, todos os dias, crucificamos mais uma vez, e traímos tal como Judas quando cedemos ao pecado. Um Cristo que, ainda assim, sofreu para redimir nossas almas. Bach nos faz imaginar que até aquele “Tu o disseste” foi dito com amor e compaixão.

O sangue que flui das mãos onde cravamos, por nossas culpas, dolorosos pregos, é o mesmo sangue que nos limpa e reconcilia com Deus. A culpa do pecado, que é também a culpa que temos pela morte de Cristo, não nos é imputada devido a graça amorável dEle. Que ao começarmos esta semana possamos perguntar: “Senhor, serei eu?” E quando nos vir arrependidos, Jesus chamará o nosso nome, não para nos acusar, mas para nos dizer: “Filho, alegre-se! Perdoados estão os teus pecados” (Mateus 9:2).

Eis, Jesus estende Suas mãos para nos segurar. Vem!
Onde?
Para os braços de Jesus! Procura redenção, procura misericórdia, procura-te!
Onde?
Nos braços de Jesus! Vive, morre, fica aqui, Tu aflito. Fica aqui.
Onde?
Nos braços de Jesus!

Mas isso já é outro coro...


Nota: Paixão é como se chama o relato do sofrimento e crucifixão de Cristo nos quatro dias que antecedem a páscoa. Cantar a Paixão de Cristo era tradição na liturgia da igreja católica desde o século XIII, que mais tarde foi introduzida na liturgia protestante por Martinho Lutero, e alcançou seu clímax em Bach, que a apresentou na forma de oratórios. A Paixão Segundo São Mateus foi apresentada pela primeira vez em 1729, na igreja de São Tomás em Leipzig. Mas depois a Europa quase esqueceu que um dia existira um compositor chamado Bach. Exatamente cem anos depois, sob a regência de Mendelssohn, o impacto que esse oratório causou foi tão grande que fez a obra de Bach ser “ressuscitada”, estudada e reconhecida como um dos cumes da História da Música.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Feliz dia da música clássica

Hoje, revirando alguns escritos antigos, achei uns devocionais que escrevi inspirada por obras musicais em específico. E como fiquei sabendo pelo blog do Joêzer que hoje é oficialmente dia nacional da Música Clássica, pesquei esse texto aí embaixo para colocar aqui. Foi escrita em 2001, quando eu começava a adentrar o "magnífico" mundo da música erudita. Sabia tão pouco da técnica, da teoria e dos esnobismos que cercam esse mundo! Não que hoje eu saiba alguma coisa, mas digamos que, na faculdadede Música adquiri um certo conhecimento do bem e do mal.
Hoje estou especialmente triste e bastante desanimada. Recorro a lembranças da minha obra sacra "erudita" preferida, o Messias de Handel (sim, o Messias, aquele do Aleluia). Poderia citar obras muito mais "eruditas" e até mais "sacras", poderia ter escolhido um devocional menos ingênuo e piegas. Mas esta preferência é também uma necessidade de consolo. Uma vontade de colher afeto na Beleza que me toca. Não acho que recuperarei a comoção tão autêntica, característica desta época de minha vida. Mas a Música sempre aponta uma claridade.

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Eu já falei para vocês o quanto gosto de Handel? Só não afirmo que ele é meu compositor favorito porque também sou fascinada pela exuberância de Bach, a expressividade de Vivaldi, e a mediocridade de Mozart (o garante minha querida e saudosa amiga Renata). Se a minha vida pudesse ter trilha musical (tenho esta neurose), George Frideric Handel fulguraria em destaque nos créditos, tanto me identifico com sua música.

Eu estava aqui prestando atenção numa das muitas belas árias compostas por ele, que também é uma obra-prima teológica pelo simples ajuntar de dois versículos. A voz de uma contralto (as contraltos são formidáveis) desabrocha no meio de violinos e canta: "Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará junto ao peito; as que amamentam, ele as guiará mansamente." (Isaías 40:11). Chegue mais perto e repare: o pastor agora está sozinho, e tem o olhar fixo no horizonte, onde busca uma ovelha. Por um momento ele interrompe a caminhada, para e suspira. A voz soprano que estava agachada a contemplar a flor da voz contralto, toma-a nas mãos, levanta-se três tons acima e diz: "Ide a Ele, todos os que estais cansados e oprimidos, e Ele vos aliviará.. Tomai sobre vós o Seu jugo, e aprendei dEle, que é manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas." (ver Mateus 11:28, 29).

E agora eu ouso ir além, fazendo um arranjo nessa harmonia tocante. Quero ver a ovelha que o pastor procura. E sabe o que vejo? A ovelha de Lucas 3:4 – 6, aquela famosa ovelhinha perdida.
Quero que você imagine-se no lugar daquele pastor. Ele amava suas ovelhas, e tanto cuidava, dava carinho e atenção que estas já lhe conheciam pela voz. Mas uma dessas ovelhas sumiu, deixando-o preocupado, temeroso e decepcionado. Imagino esse pastor andando pelo deserto, fazendo sua voz ecoar nas montanhas pedregosas em busca de sua preciosa ovelha perdida. Mas parece que quanto mais a busca, mais a ovelha se distancia dele. O sol lhe queima a face ansiosa... ele começa a sentir sede e fome. Seus pés doem, mas ele continua a andar e – estranho – seu semblante transmite ânimo inabalável, sua voz firme não deixa de ser doce enquanto diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei... e achareis descanso para as vossas almas".

Consegue perceber que enquanto procura a sua ovelha perdida, o pastor chama para si não só ela, mas todos os que estão cansados e oprimidos? Pode imaginar que, naqueles vales desérticos talvez haja outras ovelhas perdidas precisando dos braços amoráveis do pastor, onde possam descansar junto ao seu peito? Nota que mesmo fatigado da busca, decepcionado com a perda de sua querida ovelhinha, e sem certezas de que tornará a vê-la, ele persiste em ser pastor acolhedor a toda criatura que cruze seu caminho? Você enxerga que este pastor não se ocupa das próprias lágrimas, mas persegue com teimosia um alvo, sem jamais duvidar de sua capacidade de amar, sem questionar se vale a pena tamanha jornada pedregosa por causa de uma simples ovelha?

Olhe para sua vida e pense nas coisas que você perdeu. Talvez você saiba exatamente o que faz falta, a saudade precisa do que um dia foi tão seu, tão você, a dor de uma ausência bem conhecida: algo que se perdeu de dentro de você. Talvez você nem tenha parado para se dar conta das perdas que carrega como fardo vida afora. Algumas pessoas preferem não pensar muito na forma como perderam a pureza ingênua, a esperança de melhorar as coisas erradas ao redor ou em si mesmo, a capacidade de amar e confiar sinceramente no ser humano, até mesmo a crença num Deus presente e amoroso e num novo mundo transformado, muito embora essas perdas se acumulem formando rugas no espírito de quem as leva.

O que eu desejo para mim e para todos aqueles que sofreram grandes perdas e decepções, é que assumam a postura daquele pastor. Não desistir de ir atrás do que se perdeu. Se isso lhe pertencia, era parte de você, então é extremamente precioso e deve voltar ao seu verdadeiro lugar. Não podemos nos sentir felizes se estamos incompletos, portanto continue procurando o amor, a amizade, a confiança, a fé, a crença. Se você fizer isso, vai estar você mesmo voltando para o seu verdadeiro lugar, pois o caminho pedregoso dos que lutam por reconquistar a felicidade, vai dar na Nova Terra, onde finalmente encontraremos tudo que um dia fomos, e que se perdeu nesses milênios de pecado.

Continue buscando. E não siga cabisbaixo e murmurante, não se isole no vale de sua dor; vá oferecendo amor e sorrisos a todos que cruzarem seu caminho. Enquanto procura sua ovelha perdida, dê o abrigo de seus braços aos que seguem cansados e oprimidos, seja alívio e descanso para os outros que estão perdidos. Você estará recuperando muitas ovelhas preciosas que a humanidade perdeu. Seja manso e humilde de coração, e você já terá achado algo muito importante: companhia para dividir o peso do jugo, e ajuda para buscar e comemorar a volta da sua ovelhinha.

Uma semana cheia dessa melodia luminosa,

Luna

segunda-feira, 2 de março de 2009

Converte o meu intelecto

Quando eu sei que minha religião está intelectualizada? Um dos primeiros sintomas é julgar um sermão, por exemplo, conforme sua construção literária, linguística, meramente teológica e não deixá-lo entrar entre a alma e o espírito como uma espada de dois gumes (Hebreus 4:12). Começamos a selecionar as igrejas que frequetamos pela habilidade dos líderes, cantores e oradores. E ao sair de um culto que julgamos "bom", permanecemos vazios espiritualmente, mas intelectualmente satisfeitos: "Viu como o pregador conseguiu prender a platéia do começo ao fim do sermão?"

Pessoalmente eu tenho grande admiração pela oratória jesuíta. Gosto de ouvir sermões bem elaborados, e não é pecado admirar o esmero com que um pregador constrói e expõe uma mensagem, vibrar quando uma escola sabatina é bem dirigida ou alegrar-se com uma música que parece ter sido entoada por um anjo. O problema é quando nosso aproveitamento da mensagem se restringe ao campo intelectual. Esta impressão pode ser causada por qualquer música de Bach ou quadro de Da Vinci. Mas onde fica o componente espiritual da religião intelecutalizada? Ele inexiste tanto quanto nas mentes mais ignorantes. Uma bela mensagem que não é recebida espiritualmente é apenas uma bela mensagem sem poder. E se não há necessidade de poder divino, o que nos leva a professar uma religião? A necessidade de poder temporal? Hábito ou tradição? Qualquer outro motivo que não seja a necessidade de Deus nos afasta do verdadeiro religare.

Pior que viver uma vazia religião intelectualizada é orgulhar-se dela. Se pudermos admitir que um bom orador cristão exerce seu dom com arte, teremos de admitir que, para toda arte há sempre um crítico literário. E em especial o mal crítico, aquele que geralmente é um artista frustrado com muito conhecimento inutilizado pela ausência de prática louvável na arte em questão. Há, assim, dentro da Religião, aqueles que se especializam em criticar os métodos, modos, técnicas e ferramentas dos que estão ocupados fazendo algo dentro da igreja. Esses críticos se dirigem a líderes, oradores, cantores e todos os demais obreiros,e normalmente não poupam apontamentos vastos em relatórios suscintos do que podia ser melhorado. "Para a causa de Deus", complementam. Será? Uma religião intelectulizada e desespiritualizada trabalha sempre para idolatrar o Eu.

Neste sentido está todo o desapontamento de Cristo ao se dirigir a esta classe de pessoas como "sepulcros caiados", "raça de víboras", "serpentes", "assassinos" (Mateus 23). Ainda que os fariseus de hoje em dia não sejam necessariamente radicais, pelo contrário, ostentem até muita liberalidade, eles também se ocupam de matar a fé das pessoas, depois de se suicidarem espiritualmente. A questão não está tanto nas filosofias e técnicas que defendem - podem até ser conhecimentos bons em si - , mas no uso que fazem deles, para julgar e destruir ao invés de elevar, para sentir-se superior ao invés de buscar o Altíssimo.

O Pr. Rubens Lessa, num dos melhores livros que já li (daqueles que não importa quanto tempo passe estão sempre atuais), "Diagnóstico e Remédio*", cita Manuel Bernardes com uma frase contundente mas acertada: "Há uma conversação que é parte da alma; e há outra de que a alma é pasto." O intelecto sem Deus é tão impregnado de morte quanto qualquer corpo embelezado, esculpido, mas destinado ao pó. No mesmo livro, o Pr. Lessa cita também Ellen White, que também não alivia: "Quantas famílias não temperam suas refeições diárias com dúvidas e cavilações! Dissecam o caráter de seus amigos e o servem como delicada sobremesa. Um precioso bocado de maledicência é passado ao redor da mesa, para ser comentado não só por adultos mas também por crianças. Nisto Deus é desonrado"; "Enquanto isto fazem a mente não está em Deus, nem no Céu, ou na verdade; mas simplesmente onde Satanás quer que esteja - noutros. Sua alma é negligenciada"(Testemunhos seletos I p. 490, 43 e 44)

"O senhor Deus me deu língua erudita para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado" (Isaías 50:4). Homens de Deus em todos os tempos alertam de diversas maneiras: um intelecto não convertido é uma arma contra Deus. Uma mente que só se ocupa do que é carnal, é naturalmente aversa ao Espírito. Uma religião que não tem em sua essência a busca humilde do que é Divino, torna-se apenas mais um desatino humano.

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* Fica aqui meu humilde pedido para que a CASA reedite o livro. Hoje é impossível encontrá-lo, até em sebo, porque quem o lê não quer se desfazer dele. Só achei um exemplar, que coloco aqui para o caso de algum afortunado se interessar. Embora esteja na estante de "saúde" (por causa do título, bobviamente), trata de assuntos espirituais com a verve única do Pr. Lessa.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Erros

Os críticos literários - e em especial aqueles que criticam os autores cristãos - costumam buscar e apontar as contradições na obra dos escritores como um erro crasso. Pessoalmente acho que isso é uma prova de que o escritor está vivo e ativo. No caso de um escritor cristão, demosntra que ele está renovando sua experiência com Deus. Tudo aquilo que aprendemos na vida espiritual esta passível de ser reelaborado e aperfeiçoado. Isso Às vezes demanda tempo, uma vida inteira. E pode acabar por contradizer, em parte ou de todo, aquilo que julgávamos uma verdade completa tempos atrás. O texto que se segue é fruto de uma reflexão nova, e vem emendar um texto que fiz dias atrás sobre as consequências do pecado.
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O primeiro erro do cristão é achar que pode cuidar de tudo sozinho. Depois de tantos sermões, palestras, cursos, congressos, escolas dominicais ou sabatinas, leituras devocionais e estudos bíblicos, ele chega a conclusão que tem um know-how considerável, que pode deixar Deus descansar um pouquinho e tomar as próprias decisões conforme seu conceito aprendido de certo e errado, bom e mau. Creio num Deus que preza o uso da inteligência e discernimento de seus filhos, mas todo conhecimento espiritual deve nos levar a depender mais de Deus, não o contrário. Quando paramos de nos questionar sobre a opinião de Deus, fazendo-a coincidir com nossa vontade, há um erro à vista, prestes a acontecer.

O segundo erro é achar que podemos concertar o primeiro erro sozinhos. Então esquematizamos nossos próprios paliativos, que julgamos eficazes porque parecem sanar o problema sem causar grandes transtornos ao nosso modus vivendi. Sabemos que o pecado tem que ser confessado, mas às vezes preferimos carregaro fardo do silêncio pela vida inteira. Sabemos que o pedido de perdão também tem que ser dirigido a quem ofendemos, mas às vezes preferimos simplesmente nos esconder. Sabemos que temos que perdoar, mas preferimos racionalizar que Deus conhece nosso coração a ponto de nos dar algum tempo para remoer nossa mágoa. E Deus sabe tanto de nossa imperícia para resolver problemas que, por Sua graça, costuma nos mostrar o caminho quando, ao abrir os olhos, percebemos que do nosso jeito não deu certo.

O terceiro erro é achar que, ou por mérito de nossas ações e palavras bem planejadas, ou por misericórida divina, tudo está bem porque acabou bem, ou seja, porque aparentemente nosso problema foi rsolvido sem maiores consequências. Não houve dor, suspiros, gritos ou gemidos de dor, ninguém morreu, nem matou, nem tentou o suicídio. Nenhuma testemunha de nossos erros, ninguém ferido para nos cobrar promessas ou indenizações por danos morais. Então tudo certo, ok? É o terceiro erro, eu dizia. O fato de não sermos capazes de ver consequências em nossos atos não quer dizer que elas não existam e sejam terríveis. Mesmo que não tenha havido dor da sua parte, ou da parte contra quem você pecou, um Ser nos céus sentiu sua ofensa.

Para o mais "perfeito" dos pecados, há sempre uma consequência espiritual. Talvez você não possa ver, mas se uma fotografia pudesse lhe mostrar envolto no mundo sob qual influência você está, o que você veria? O mesmo que Jeazir, que viu-se cercado de exércitos celestiais quando Eliseu pediu ao Senhor que lhe abrisse os olhos (2 Reis 6: 17)? Ou a dura (e muitas vezes esquecida) realidade de que fala Efésios 6:12; "Pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes."? Nossas palavras e ações de âmbito espiritual se conectam com anjos do bem ou do mal, e debaixo de sua influência nos colocamos mesmo quando não exergamos nenhuma consequência palpável na nossa realidade meramente carnal. Um pecado não está resolvido quando deixa de imprimir dor visível. Todo pecado só é apagado por completo por meio do sangue de Cristo, suplicado com arrependimento e desejo de não mais pecar. Só a partir da jsutificação em Cristo pode-se não temer o pecado cometido. Antes disso ele sempre será mais um dardo - muitas vezes escondido - nas mãos de Satanás.

Errar e errar sequencialmente faz parte de nossa natureza carnal, decaída. Mas errando conhecemos mais uma face da maravilhosa graça que nos alcança. É Deus quem cuida para que nossos passos não se desviem. É Deus quem nos toma pela mão e nos ajuda a reencontrar o caminho quando nos desviamos. É Deus que extermina a influência do pecado sobre nossa vida. E é Ele quem nos concede o desejo de não tornar a pecar. Não há mérito algum nas nossas ações ou palavras bem intencionadas, é nele que está o nosso querer e o relizar (Romanos 7:18). Todo bem que fazemos, queremos, recebemos vem de Suas mãos. Por isso mesmo, nada feito por nós podemos Lhe dar. Nenhuma prova de como aprendemos bem as lições bíblicas, os sermões, as palestras... quando usamos de nossa melhor capacidade de discernir, escolher e decidir, resolvemos Lhe dar não menos que toda a nossa vida. Só nessa entrega absoluta encontramos existência plena, só nessa dependência completa nossa vida cumpre seu significado aqui na Terra e afirma o melhor que há em sua humanidade.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Adveniat - Centro

O cartaz no ônibus informava objetivamente a respeito das mudanças no trânsito do centro da cidade por ocasião do carnaval. Não pedia desculpas pelos transtornos, não dava alternativas satisfatórias, não dava número de telefone para sugestões e críticas. Apenas comunicava secamente as mudanças que haveriam de alterar por uma semana a rotina e o humor de todos os recifenses que precisassem passar por ali. Fiquei pensando sobre a mensagem nas entrelinhas daquele cartaz: “Você está em Recife, uma cidade carnavalesca que por estes dias estará toda voltada para o comércio festivo. Não nos preocupamos com o que você pensa, se gosta ou não das mudanças para o carnaval ou do próprio carnaval, porque você não é o foco de nosso interesse. Portanto, se se sentir incomodado procure a BR 101 e siga seu rumo para longe daqui.”

Diante de um “Ame-o ou deixe-o” nós sempre deixamos Recife por essa época e nos escondemos nas paisagens potiguares. Lá podemos meditar com mais calma e inspiração no amor de um Deus que se preocupa em detalhes com Seus filhos. Se não fora assim, por que teria colocado na obra da Sua criação cores, sabores, texturas, odores e sons tão diversos e tão agradáveis em sua amplidão? Nas várias matizes de uma flor, pessoas de diferentes gostos visuais podem se sentir tocadas por uma mesma beleza que remete ao sublime. Aos diferentes cheiros do campo, boas memórias vão se associar em tipos humanos diversos, e em cada um vai virar um alento futuro, uma saudade afável. Entre as digitais de bilhões de seres espalhados pelo planeta, você certamente encontrará pelo menos um par de mãos que lhe será tão doce ao toque que você desejará tê-las por perto o resto da vida. Em toda a obra feita pelas mãos de Deus há uma manifestação de graça escondida, pronta a alcançar cada um de Seus filhos.

Por que é assim? Porque entre todas as criaturas da Terra estamos no centro do interesse divino. Há filósofos que criticam essa característica cristã, que de tão afirmada ao longo da História, queria até fazer da Terra o centro do sistema solar. No entanto o cristão que conhece a seu Deus não faz essa afirmação por esnobismo ou egocentrismo, mas por reconhecimento de um amor demonstrado de maneira incontestável na Revelação de Sua Palavra e Sua criação. Tenho um Deus que diz ser capaz de entregar reinos por Seu povo (Isaías 43:4). E que me oferece incontáveis provas de aceitação, desde o gosto da minha fruta preferida até um som vespertino que ninguém mais percebeu, mas que falou ao meu coração dizendo “Vinde a Mim”.

Entre os muitos caminhos que Cristo tem para chegar ao nosso coração, um há de lhe alcançar e fazer você sentir-se amado, respeitado, de forma única, tal como o ser que você é. Mesmo que a humanidade prefira entorpecer os sentidos para festejar a carne, há um prazer espiritual guardado em muitos detalhes cotidianos (ou fora dele), esperando para ser contemplado e vivido. Um prazer que não pode nos ser tirado, pois traz os ecos da Eternidade. Muitos pedacinhos do céu são plantados em nossos caminhos, mas só somos capazes de desfrutá-los quanto não passamos com pressa por cima deles: “A Terra está cheia da bondade do Senhor” (Salmo 33:5); “Quem é sábio observe estas coisas e considere atentamente as bondades do Senhor.” (Salmo 107:43)

“Acaso não tendes tido quadros luminosos em vossa vida? Não haveis experimentado preciosos momentos, em que vosso coração pulsou de alegria à influência do Espírito de Deus? Volvendo o olhar aos capítulos de vossa passada existência, não encontrais algumas páginas aprazíveis? Acaso as promessas de Deus, quais flores fragrantes, não medram a cada passo na vereda que trilhais? E não permitireis que sua beleza e suavidade vos encham de gozo o coração? (...) Graças a Deus pelos quadros luminosos que nos tem apresentado! Enfeixemos todas as benditas promessas de Seu amor, a fim de sobre elas poder deter continuamente o olhar.” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 117 e 118)

Que ao contemplar a luz que incide nesses feixes de amor Divino, possamos nós, que somos o centro de Seu amor aqui na Terra, torná-Lo o centro de nossas vidas também.