segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Adveniat - O clamor

Um vento forte agitava as águas e ondas furiosas chocavam-se contra o pequeno barco dos discípulos. Assustados que já estavam, eles viram com medo ainda maior a cena improvável: Jesus vinha a seu encontro andando por sobre o mar (Mateus 14: 22 – 33). Gritos. E Jesus fez o que um pai faria para acalmar os filhos: “Não temam! Sou eu!”. Quando Pedro o reconheceu teve um ímpeto de fé e se dispôs a ir em direção a Jesus andando sobre as águas como o Mestre. Jesus disse: “Vem”. Mas bastou desviar os olhos de Cristo para o vento forte, por um pequeno momento, para a fé vacilar, e Pedro começou a submergir.

Mesmo sendo um pescador, o que indicava que ele provavelmente era um bom nadador, Pedro não pensou em apelar para as próprias forças; conhecia bem aquele mar para saber que nenhum homem poderia dominá-lo em tais condições. Não havia tempo também para prolixas orações, discussões teológicas a respeito da natureza de Cristo, argumentações sobre Pedro merecer ou não a salvação. Pedro estava afundando rapidamente em meio ao mar revolto, e só havia tempo para um pedido de socorro desesperado.

Você já se sentiu assim? Quando nos convencemos que não podemos fazer mais nada a respeito de uma situação – qualquer situação, de desagradável a desesperadora –, e quando não há muito tempo para forjar soluções alternativas, os cristãos costumam lembrar que há um Cristo capaz de resolver essa situação. Quanto mais conhecemos a natureza de um pecado que nos oprime, ou o fruto dele, mais nos damos conta de nossa incapacidade de vencê-lo sozinhos. Um rompante de fé nos faz dar o primeiro passo em direção a Jesus por sobre as águas: clamamos por ajuda, sabemos que Ele pode nos ajudar, muito provavelmente só Ele.

Agora percebamos o que um pedido de socorro pode dizer sobre a qualidade de nossa fé. Em duas traduções bíblicas, a Almeida Corrigida e Revisada e a versão católica, percebemos que a passagem de Mateus 14:30 registra o pedido: “Senhor, salva-me!”. Em outras duas traduções, a Almeida Revista e Revisada e a versão da Sociedade Bíblica Britânica lemos no mesmo texto: “Salva-me, Senhor!”. É possível que Pedro tenha se expressado de uma ou outra maneira, mas que diferença isso faz?

Nas primeiras versões, a ênfase está no Senhor do milagre, aquele por quem se chama primeiro e depois se diz o que deseja dEle, pois o maior desejo é estar com Ele. Nas versões seguintes, a ênfase está, ao contrário, no ato, naquilo que o Senhor pode fazer primeiro, para depois ser proclamado Senhor. E embora seja um detalhe muito sutil, na prática, uma ou outra postura pode fazer bastante diferença na percepção – e até mesmo na recepção – da graça almejada.

Desejo que em situações de provação como a que Pedro enfrentou, eu possa estar pronta a sempre clamar primeiro por Cristo, e com isso demonstrar que Ele é Senhor da minha vida. Que embora eu tenha várias sugestões do que Ele pode fazer para me salvar, estou pronta a fazer a Sua vontade acima da minha, e receber a salvação pelos caminhos que Ele traçar para mim, seja por cima das águas ou por baixo delas. Mesmo sabendo que Deus é onipotente, não quero cair na tentação de dizer a Ele o que fazer.

“Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas” (verso 28). Nem sempre Deus responderá ao nosso anseio por salvação da forma como queremos. Algumas vezes permitirá isso. Mas Ele sabe como reagiremos, passo a passo, à fúria do vento em que nos lançamos. Por isso mesmo, seja durante nosso rompante de fé ao descer do barco, seja durante nossa falta de fé tendo medo das ondas, Ele estará sempre disponível, prontamente, estendendo ao mão. Isso é maior do que qualquer coisa que o peçamos. Isso é salvação.

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