sexta-feira, 17 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 34

Texto Bíblico do dia:

Juízes 21: 25 - "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar Deus teimar mais um pouquinho.

Meditando:

Acredito que palavras também têm sotaque, e aqueles que gostam muito de ler vão me entender. As palavras, mesmo escritas, guardam um ritmo, uma cadência, uma essência que denunciam seu autor, ainda que ele use diferentes pseudônimos. Há uma maneira de escolher e arrumar as palavras em cada pessoa, que não pode ser imitada por mais ninguém. Percebi isso mais fortemente em certa época, quando eu e um amigo tivemos um desentendimento e ficamos sem nos falar. Como gostávamos muito um do outro, mas éramos ambos muito orgulhosos, nos comunicávamos por mensagens indiretas. E quando eu sumi de vez, ele achou um jeito de se comunicar comigo usando um pseudônimo. Dessa forma ele sabia como estava a minha vida sem dar o braço a torcer. Eu desconfiei logo da verdadeira identidade dele por causa do "sotaque" em suas palavras. E olha que ele fazia um esforço muito grande para disfarçá-lo! Mandava textos que não tinham nada a ver com seus gostos reais, forjava certas expressões esquisitas, inventava características para seu "personagem", mas ainda assim eu conseguia perceber nitidamente que era ele pela forma como escrevia, apesar de não ter uma prova concreta. Depois de algum tempo, quando fizemos as pazes, ele acabou me confessando que era mesmo ele o curioso correspondente, e eu confessei que, sabendo disso, sempre dava um jeitinho de escrever coisas para o correspondente, que na verdade gostaria de dizer para ele...

Falo disso depois de ler algumas passagens do Antigo Testamento. O que mais me impressiona aí é a presença constante de Deus mesmo nos piores momentos, teimando em acreditar no Seu povo mesmo quando o povo não acreditava mais nEle.Consigo ver o amor de Deus tão forte no Antigo como no Novo Testamento, só que com um "sotaque" diferente a cada livro. Não poderia ser diferente, pois Deus usou diferentes homens para comunicar Suas palavras. Mas por trás desses homens é possível identificar um modo de escolher e arrumar as coisas que pertencem a uma mesma essência de amor.

Para que esta meditação signifique alguma coisa para você, é necessário que você já tenha lido os livros de Reis e Crônicas na Bíblia. Que já tenha se espantado com essas páginas cheias de histórias tristes, de traição, sangue, vingança. Que tenha se indagado, como o Cristo do Novo Testamento pode ter algo com o Deus da guerra - o Senhor dos Exércitos - do Antigo Testamento. Para que você compreenda o que tenho a dizer, é preciso que que tenha sido tocado pela história de altos e baixos do povo israelita, e se indignado com as más escolhas deles, com as muitas vezes que abandonaram um Deus que lhes falava tão de perto.

O texto bíblico de hoje fala de um povo que conhecia exatamente o significado das palavras escravidão e liberdade. Depois de muitos anos cativos, eles foram libertos por Deus e chamados para viver aqui na Terra como referencial, como nação eleita, separada, santa portanto, para ser apontada como exemplo entre as nações. Por isso Deus lhes deu a mais perfeita forma de governo: a teocracia. A mesma sob a qual viveremos quando esta Terra for restaurada. No plano perfeito de Deus, o povo só teria que seguir os Seus preceitos, fazer Sua vontade, que estava totalmente voltada para o benefício do próprio povo, e ser inteiramente livre do imperfeito domínio humano, que por mais bem intencionado que seja, redunda sempre em fracasso. Israel viveu assim por muito tempo. Mas chegou um momento que o fato de não ter um Rei concreto para lhes dizer o que fazer começou a fazer diferença. E ao invés de se orgulharem de ser uma nação diferente de todas as demais, eles começaram a se sentir incomodados por isso. A teocracia parecia não mais atender a suas necessidades. E o verso bíblico de hoje explica o porquê: eles deixaram de fazer a vontade de Deus, para fazer sua própria vontade. Deixaram de escolher o que era certo perante Deus, para escolher o que era certo diante de seus olhos e dos olhos das nações vizinhas.

Então Israel, um povo que era o mais livre da face da Terra, dirigiu-se ao profeta Samuel para pedir: "Queremos alguém que nos governe". Ora, eles não tinham a Deus? Certamente, mas Deus não vivia num palácio ostensivo, não montava à cavalo nas guerras, não se vestia de ouro para desfilar diante dos outros povos para provar quão rico era seu poderio. Mais que isso, Deus não baseava seu governo na opressão, queria apenas a lealdade, não a servidão. Mas aquele povo, que esquecera rápido do seu tempo de escravidão, clamou pela escravidão. E exigiu um rei. Essa foi a saída que eles encontraram para consertar as coisas, que não estava bem. A falha não estava na teocracia, nem em Deus, mas neles mesmos! A própria injustiça e fraqueza humana, no entanto, foi usada como pretexto para "ser como as outras nações". Acaso eram as outras nações modelos a serem seguidos? Certamente não. Todas elas passaram, mas o Rei Eterno vive. O olhar do povo, no entanto, não enxergava até aqui, mas se concentrava no seu mundinho pequeno e imediato.

Deus tinha motivos de sobra para estar magoado. Ele diz em I Samuel 8: 7: "Atende a voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para que eu não reine sobre ele." Depois de muito teimar, Deus deixou que o povo tomasse suas próprias decisões. Ele passou anos argumentando, tentando fazer aquele povo entender seus desígnios e lhes guiar pelos melhores caminhos. Num último momento ainda teimou, mostrando-lhes o que um rei humano poderia fazer de mal com eles e seus filhos (II Samuel 8: 11 - 18). Mas diante da resistência também teimosa dos israelitas, deixou que seguissem seu caminho, pois Ele ainda era o Deus da liberdade e do respeito. Se prosseguirmos com a história veremos que, mesmo ferido e rejeitado, Deus os abençoou (isso não lembra Cristo?). Escolheu o melhor homem para ser o monarca: bonito, inteligente, capaz. E ungiu esse homem para que ele fizesse o melhor por Israel.

No entanto a conseqüência a longo prazo da monarquia foram as histórias tristes, pérfidas e sangrentas que se seguem. Analisando desse ponto de vista, percebemos que tais histórias não eram plano de Deus para seu povo, mas conseqüência da teimosia desse povo. Hoje, quando vemos inocentes morrendo e sendo injustiçados, ainda nos perguntamos, muitas vezes, por que Deus deixou as coisas chegarem a esse ponto. A questão, na verdade, é que mesmo os inocentes pagam as conseqüências das escolhas teimosas e más que o próprio ser humano vem tomando ao longo da história. E isso só terá fim quando o plano de resgate de Deus for totalmente cumprido, e Seu domínio estabelecido onde hoje o pecado reina e perverte. Até que isso aconteça uma coisa está bem certa em minha mente: é melhor deixar Deus teimar na Sua vontade para minha vida do que lhe impor minha teimosia míope.

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