terça-feira, 21 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 38

Texto Bíblico do dia:

I Crônicas 29: 17 - 19 - "E bem sei, Deus meu, que tu sondas o coração, e que te agradas da retidão. Na sinceridade de meu coração voluntariamente ofereci todas estas coisas; e agora vi com alegria que o teu povo, que se acha aqui, ofereceu voluntariamente. O Senhor, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e estes pensamentos, e encaminha o seu coração para ti. E a Salomão, meu filho, dá um coração perfeito, para guardar os teus mandamentos, os teus testemunhos e os teus estatuto, e para fazer todas estas coisas, e para edificar o palácio para o qual tenha providenciado."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Ser um lugar onde a glória de Deus possa habitar.

Meditando:

As palavras do texto bíblico acima foram ditas em oração por Davi pouco antes do relato de sua morte. Sua maior preocupação então parecia ser que a posteridade continuasse a obra do Templo começada por ele, o que não foi pouca coisa e mobilizou todo o povo de Israel. A vida inteira de Davi foi marcada por grandes vitórias e magníficas atuações divinas. No entanto, nessa última oração pública percebemos um Davi humilde, se sentindo pequeno, indigno, frágil, reconhecendo que tudo que fizera não fora obra sua, mas concessão de Deus. Nenhuma menção ao seu passado de glórias, nenhuma exaltação ao belo planejamento do Templo que executara, Davi, com uma serenidade perturbadora, assume a pobre postura de servo que procura o que ainda falta fazer a seu Senhor. No entanto a Bíblia nunca o projeta de forma tão grande perante o povo - e perante Deus - como naquele momento. Nem ao vencer Golias, nem ao derrotar Saul, nem ao vencer os muitos exércitos inimigos, Davi não me parece tão altivo como naquele momento de oração humilde perante Israel. Não vejo apenas um Davi rei, mas um Davi amadurecido, pronto para descansar no seio de Deus.

"Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos. Tanto riquezas como honra vêm de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo." (versos 11 e 12). Davi sabia que se seu filho Salomão não guardasse a Deus em seu coração, a obra do Templo não seria concluída com sucesso. E que se o povo não permanecesse fiel, de nada adiantaria tanto esforço para adorar ao Deus Eterno. A obra do Templo não era obra para ser concluída em uma ou duas gerações, mas perpetuada através do tempo até a Eternidade. É por isso que, do alto de sua sabedoria, Davi não olhou para o passado, mas para o futuro, não se preocupou em contar as vitórias da sua juventude, mas em impressionar o coração dos novos jovens.

Há nessa atitude uma mensagem muito especial para nosso cristianismo hoje. Quando nos propusemos a ser novos homens e mulheres, renascidos através do Espírito de Deus, também nos propusemos a andar em novidade de vida. Mas a história de um cristão é marcada por "altos e baixos", momentos de fé zelosa e momentos de pecados escabrosos. Quando nossa fé está em baixa tendemos a olhar para trás com saudosismo e dizer: "Bons mesmo eram os velhos tempos...". O primeiro erro que cometemos com essa postura é ignorar as dificuldades e pecados do passado. Depois, limitamos nossa capacidade de crescer, tomando como parâmetro o que fomos e não o que podemos vir ser. "Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho; do contrário, não somente rasgará o novo, mas também o pedaço do novo não condirá com o velho" Lucas 5: 36.

Aqui no meu computador tenho algumas pastas com mp3 que me fazem reencontrar com a velha Luciana sempre que quero. Outro dia, por exemplo, não porque cargas d´água me peguei escutando Cássia Eller. E como é normal acontecer com músicas, fui levada a me lembrar de um período específico da minha vida. Eu estava alegre, descobrindo novas facetas do mundo e de mim mesma, empolgada com a literatura e com as artes, e apaixonada. Suspirei sorrindo. Mas acabei me lembrando que nessa época também enfrentei uma grande crise espiritual, conflitos com pessoas da igreja, desânimo na fé... resolvi escutar um mp3 da pasta gospel: Sandi Patty. Ah, que maravilha! Lembrei que na época em que comecei a escutar aquela música, estava toda feliz descobrindo que podia fazer versões para músicas, e as pessoas elogiavam o que eu escrevia, e eu estava engajada na igreja como nunca antes nas atividades eclesiásticas... suspirei sorrindo. Mas lembrei que também nessa época me sentia constantemente sozinha, sem amigos, sem ninguém para amar e enfrentava uma crise no meu relacionamento familiar. Suspirei mais uma vez: o que há mesmo de tão mágico no encontro com o velho homem?

Há coisas boas e ruins para lembrar no velho homem. Mas antes de suspirar com "saudades das panelas de carne do Egito", antes de dizer que bom mesma era antigamente, antes de eleger o passado como padrão para aquilo que gostaríamos de tornar a ser, lembremo-nos que Deus quer trabalhar num novo homem. O que passou é experiência, são os tijolos que foram postos um sobre o outro a fim de construir, lenta e estrategicamente, a base sobre a qual o Espírito quer atuar hoje. E nesse sentido o saudosismo não ajuda. Biblicamente, olhar para trás nunca é uma boa idéia, e quando a mulher de Ló o fez não creio que estivesse lembrando apenas de coisas ruins... Coisas ruins? Depois que Cristo nos perdoou não temos mais o direito de nos demorar nelas. Coisas boas? Nada fizemos, tudo foi Deus quem nos concedeu a seu tempo. E "há tempo para todo propósito embaixo do Céu" (Eclesiastes 3:1).

O apóstolo aconselha: "Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento..." (I Cor. 5:7). O fermento que nos infla de culpa ou de orgulho não ajuda em nada. Para que Deus conclua em mim a obra que um dia começou, vou "esquecendo-me das coisas que atrás ficam", sejam elas boas ou más, tomando-as apenas como degraus, "e avançando para as que estão adiante", pois Deus tem um plano tão único para mim, como eu mesma sou única, como único é este segundo de existência. A minha história não deve ser a repetição ou negação de atos passados, mas a construção de um futuro ímpar. Isso também significa livrar-se da auto-suficiência, que quer indicar a Deus o que é certo e o que é errado com base na nossa paupérrima experiência humana. Os modelos divinos, sejam aqueles que identificamos na nossa vida, sejam aqueles que identificamos na vida dos santos, são como modelos artísticos, que não são copiados, mas interpretados e, assim, tornados únicos. É daí que nasce a beleza da perfeição. É assim que nós crescemos diante de Deus.

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