sexta-feira, 10 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 27

Texto Bíblico do dia:

II Reis 9: 3 - "Toma, então, o vaso de azeite, derrama-o sobre a sua cabeça, e dize: Assim diz o Senhor: Ungi-te rei sobre Israel. Então abre a porta, foge e não te detenhas."
I Coríntios 2:14 - "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar que Deus realize Sua obra em mim, não importa quão estranho isso me pareça.

Meditando:

Um dos homens mais corajosos da história de Israel não era sequer um homem feito quando Deus o chamou, e não teve nem seu nome registrado na Bíblia, apenas seu ato de obediência corajosa. Está registrado em II Reis, capítulo 9, que o profeta Eliseu chamou um dos discípulos da escola de profetas e lhe deu uma missão no mínimo intrigante: levar uma mensagem ao capitão Jeú. Isso não parece grande coisa até traçarmos os perfis do emissor, do receptor e da mensagem. O discípulo era um jovem (verso 4), o que não lhe dava imponência ou projeção nenhuma, e era profeta, o que naquele tempo era visto por muitos como sinônimo de louco (verso 11), por causa do estilo de vida incomum, hábitos excêntricos e mensagens exaltadas que estavam associadas a essa figura. O capitão era um guerreiro experimentado nas guerras, embrutecido por elas, intrépido, impiedoso, violento e que era conhecido pela maneira furiosa de se conduzir numa batalha (verso 20). A mensagem era algo significativo: Jeú devia ser ungido rei e receber a missão de eliminar a idolatria do meio de Israel, que vivia um dos momentos mais críticos na história de suas dinastias.

O cenário é tão dramático que Deus orienta ao pobre discípulo exatamente assim: "fale e corra!" (verso3). Aquele jovem deveria tirar o capitão Jeú do meio dos seus irmãos e amigos, levá-lo para uma sala, derramar azeite em sua cabeça (e isso pressupõe que o capitão teria de estar de alguma forma abaixado diante do jovem profeta), depois fazê-lo ouvir passivamente a mensagem que Deus tinha para ele. É possível que Jeú achasse que aquele moço estava zombando dele, ou que os outros capitães, que se referiram posteriormente ao jovem como mentiroso e louco, tivessem se voltado contra ele e lhe feito algum mal. "Corra!", foi o que Deus disse, e depois de ungir Jeú, o jovem saiu correndo. Ele deve ter pensado em algum momento que louco deveria estar Deus... se não pensou, teria motivos para fazê-lo.

Deus não poderia ter mandado o próprio Eliseu, que era um conhecido e respeitado profeta para ungir Jeú? Não poderia ter escolhido um homem mais nobre, mais intelectual para tomar decisões administrativas sábias e comedidas naquele momento político tão delicado? Há aqui uma mensagem que se estende ao longo de toda a Bíblia e culmina com clareza nas palavras de Paulo aos Coríntios: "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Enquanto nós vivemos condicionados a pensar em termos imediatos e restritos a nossa própria existência, Deus conduz suas ações aqui visando todo o seu povo e a eternidade. É normal que achemos que algumas ações divinas meio desarrazoadas. Mas cumpri-nos, pela fé, aceitar Seus propósitos e ser obedientes, tal como o jovem profeta foi, certo? Certo, mas não é só isso.

Mais que aceitar e cumprir, Deus nos chama para entender sua mensagem. Se não entendermos o que Ele realmente quer com aquela mensagem, corremos o risco de nos perdermos. É assim que alguns aceitam apenas a parte da mensagem que lhes é vantajosa, e cumprem somente o que de seu interesse, à sua maneira, e com fins próprios. É só entendendo as mensagens de Deus para nós que podemos aceitá-las, e a Ele mesmo, plenamente. Senão, vejamos o que aconteceu com Jeú.

Ele não teve problemas em ser reconhecido rei porque não havia, então, nenhuma dinastia estável em Israel. Qualquer um que tivesse carisma, apoio popular, força militar ou unção profética podia tomar o trono. E Jeú, aparentemente tinha tudo isso. A vida econômica, política e religiosa da nação pedia mudanças, então ele encontrou um ambiente bastante favorável a seu reinado. E acredito que ele não demorou a gostar da idéia também. Então começou a cumprir aquilo para o que o Senhor o chamou. Eliminou do meio do povo todos aqueles que, desde o reinado do pérfido rei Acabe, tinham consolidado a idolatria a Baal e sua consequente lista de iniquidades. Pela mão de Jeú, Deus fez justiça contra todos que zombaram dEle e desvirtuaram os caminhos do povo israelita. Mais que um ato de justiça, essa atitude de Deus também refletia preocupação em preservar a verdade viva no meio do seu povo. Se Ele não tivesse tomado uma atitude drástica, uma vez que várias tentativas anteriores mais brandas falharam, como a pregação dos profetas, a bondade teria sido pisada aos pés pela malignidade, e o futuro de Israel seria só corrupção. Por isso aqueles que já estavam mortos espiritualmente foram extirpados do meio de uma nação que foi separada para ser santa e apregoar o testemunho da Verdade vitoriosa.

Acontece que Jeú, em dado momento, resolveu fazer as coisas ao seu modo e acabou se excedendo, e realizando uma massacre, uma tal carnificina que foi muito além do que Deus planejara (ver Oséias 1:4). Ele achou que eliminar a idolatria era, basicamente, assassinar os idólatras, e assim, passou de um instrumento de Deus a um assassino sanguinolento, só comparável aos cruéis reis assírios da época. Além disso, Jeú cumpriu a parte da missão que lhe interessava, ou que não mexia com seus próprios pecados. Ou seja, ele acabou com o culto a Baal, mas permitiu que o povo continuasse a adorar em templos pagãos alternativos, ao invés de iniciar um retorno a Jerusalém (II Reis 10:31). Sua reforma foi incompleta. Assim, a bênção que Deus tinha reservada para ele (verso30) também não pode ser completa. Deus só pode dar o que cabe em nossas mãos, e as de Jeú estavam manchadas de sangue...

Deus se entristece grandemente quando não conseguimos entender o propósito da missão que Ele nos entregou. Porque se for assim, não conseguiremos cumprí-la corretamente e acabaremos por dar um mal testemunho a respeito do próprio Deus para as pessoas. O trabalho que Ele nos deu é também parte do trabalho que Ele realiza em nós, e que é contemplado pelo mundo para Sua glória ou desonra. A verdade é que Ele requer não apenas obediência, mas sabedoria, humildade e constante comunhão. Só assim O serviremos com inteireza e alcançaremos nossa bênção por inteiro.

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