domingo, 15 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 01

Textos Bíblicos do dia:

Jó 28: 12 e 28 - "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento? E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento."
Salmo 37: 3 - 5 - "Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança. Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará."
Atos 2:1 - 2 - "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados."
Filipenses 2: 12 e 13 - "De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."

Meditando:

O centro da cidade convulsionava. Carros, transeuntes e vendedores ainda mais agitados compunham um cenário caótico para o balé dos guarda-chuvas. E eu estava feliz. Talvez porque a chuva torrencial fez diminuir bastante a fila na repartição em que eu me encontrava, normalmente abarrotada. Talvez algum sorriso apreendido inconscientemente em meio a multidão. Ou talvez fossem simplesmente por causa daquela paz inquieta, a primeira resposta que obtive de Deus.

Sou adventista do sétimo dia há quase onze anos. Gosto da minha igreja, me interesso bastante por teologia, tenho prazer em estudar a Bíblia e tudo que lhe diz respeito. Mas freqüentemente sinto que minha prática religiosa se resume a acumular conhecimento e cumprir praxes. Os sermões parecem dizer algo que já sei, embora eu assuma a medíocre posição de "concordo, mas não pratico". Nos últimos tempos minha vida devocional tem andado capenga. Meditação matinal, lição da escola sabatina, livros do Espírito de Profecia são materiais de apoio que não faltam em meu lar, mas têm estado distante da minha alma. E o mais interessante é que eu quero. Por vezes tento organizar uma rotina espiritual com mais leitura bíblica, oração. Mas parece que não funciona, que não engrena. E lá volto eu para meu estado de mornidão.

Estou cansada destes altos e baixos. Não tenho a pretensão de nunca mais voltar a cair porque sei que sou pecadora, mas quero conseguir manter meus olhos fixos no Alvo (Filipenses 3:13 e 14). Não quero mais saber as coisas divinas de ouvir falar, mas de experimentar, de conhecer na alma. Se for assim, nunca mais haverá para mim sermões frios, falta de tempo para orar e ler a Bíblia, carência de discernimento sobre a vontade de Deus. Estou realmente cansada de brigar com Deus porque a minha vida não está do jeito que eu queria, para depois me envergonhar de ter duvidado dele com minha revolta e minhas orações imperativas, paupérrimas de tão materialistas e imediatistas. Intimamente não suporto mais os meus pecados, a minha incapacidade de ver adiante, a minha falta de habilidade em amar e mesmo em ser amada, a minha hipocrisia velada mas tão patente nas muitas pessoas que deixaram de ver Cristo por trás dos meus discursos . O discurso do silêncio medroso, o discurso das obras de fachada, o discurso da oferta inodora, do conformismo insípido, da reserva indolor (ou pecado acariciado, como diz o velho jargão). A humanidade hoje pesa em mim como se meu espírito tivesse pés cravados ao solo. Anseio a límpida luz de Cristo, a leveza do Seu sorriso, a fluidez balsâmica com que se derrama. Quero libertar-me de mim mesma. Por isso estou aqui.

Hoje não foi fácil acordar. Os dias anteriores foram muito cansativos. E ontem tive a maior crise de rinite alérgica do ano, o que me fez dormir muito mal. A lembrança de uma reportagem qualquer do Fantástico me dizia que o sono é o melhor remédio para esses casos, já que restaura o sistema imunológico. Sono. Era o que eu mais sentia. Mas levantei. A primeira oração foi feita em estado de semi-consciência, mas ao começar a ler a meditação de hoje já conseguia concatenar as idéias. Fui começando a entrar em sintonia com Deus quando...

TRIMMMM!!!!

Era uma colega de faculdade ao telefone, dizendo que não ía poder entregar sua parte no trabalho. Parte que eu teria de fazer, claro. Enquanto meu marido continuava a leitura da meditação eu me esforçava para tirar a mente daquela raiva que eu estava sentido. E a mente querendo divagar. Uma luta breve mas árdua, até que consegui voltar a sintonizar Cristo.

Decidimos ler dois versículos escolhidos aleatoriamente no Antigo Testamento e dois no Novo Testamento e depois fazer uma oração individual de cinco minutos enquanto refletíamos no significado dos versos escolhidos. Senti-me movida a propor isso porque, depois que casei, tenho orado mais, no entanto minhas orações individuais diminuíram bastante. O que me fez conhecer o fato de que não importa a quantidade de orações, mas a qualidade delas. É comum eu me pegar pensando no fogão enquanto meu marido ora pelo alimento ou na conta para pagar enquanto ele ora antes de dormirmos. Quando sou eu que faço a oração tenho a preocupação de escolher palavras, de ser empática, e acabo generalizando muito e abrindo pouco o meu coração. Incrível como consigo conversar com meu marido sobre qualquer coisa, mas enquanto oramos sinto-me constrangida de falar de mim. Hoje sei que nada substitui a oração individual entre Cristo e um pecador. Numa comparação grosseira, orar com o outro é como ir a uma jarra de suco. Você se delicia. Mas para matar a sede, o melhor é ir mesmo a Fonte das Águas. Suco a vida inteira saturaria o paladar.

Quando terminou a oração eu me espantei em como os cinco minutos passaram rápido. Talvez devêssemos aumentar o tempo amanhã para dez minutos. Numa oração em que se está sedento pelo contato íntimo com Deus, há que se ter tempo para refletir nas Suas palavras e depois ouvir-Lhe a voz falando suavemente a esse respeito. E há tanto a ser dito! Tanto a ser percebido! Que diferença de quando se está de joelhos num culto, preocupado com a meia-calça que pode desfiar, o sapato que pode sujar, o joelho que começa a doer, o irmão que pode estar te olhando, a hora de dizer amém, o palavreado que lhe chega tão vazio... Que bom seria transportar para as orações do culto esta sensação de paz que o falar com Deus proporciona. Uma paz que, aliás, foi a resposta de Deus a todos os questionamentos equivocados que não Lhe fiz. Uma resposta que, enfim, tem uma finalidade que não saciar minha falta de fé infantil e curiosa.

O correr do dia me levou, debaixo de uma chuva torrencial, à fila naquela repartição mencionada anteriormente. Cansada, mas agora apenas no corpo. Feliz com a paz de uma oração prolongada pelo dia inteiro, num diálogo mudo mas poderoso. É como se eu pudesse ver os olhos de Cristo colocados em mim. E os nossos olhares se comunicassem intensamente. Mas ainda O vejo no alto, sobre. Quero-O perto, tão perto que possa sentir também Seu abraço. Ainda me peguei fugindo voluntariamente do Seu plano para mim em algumas atitudes, pensamentos e palavras. Quero Seu abraço me ajudando a não fugir mais.

Espero-O amanhã mais uma vez. Hoje vou dormir ainda feliz, com a constatação de que Deus foi a primeira e última ocupação da minha mente neste dia.

O programa de Deus para a minha vida hoje (para ser escrito todos os dias, logo após a meditação):

Manter a minha mente voltada para Ele e o espírito conectado com as coisas do Céu, de modo que as coisas da Terra não me pareçam tão difíceis, ruins, negativas ou mesmo importantes.

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