segunda-feira, 23 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 09

Texto Bíblico do dia:

Atos 11: 19-21, 26 - "Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Que as pessoas possam perceber que sou cristã.

Meditando:

Um dos propósitos de Deus na vida dos cristãos é fazê-los desenvolver uma crescente dependência dEle. Quanto mais dependermos de Deus, mais perto estaremos do Seu plano para nossa vida. E nesse sentido, dependência é sinônimo de força e estatura espiritual. Acontece que o ser humano tem problemas em administrar seu instinto de dependência: ou ele simplesmente o elimina, como se descartasse uma fraqueza, ou ele projeta sua dependência em cima de outro ser humano tão ou mais falho que ele. E, nesse sentido, a dependência é perniciosa e má.

Nos meus primeiros anos de fé adventista, eu conheci um pastor que se tornou um bom amigo, embora não tivéssemos muito tempo de conversar. Também, pudera, era impossível falar com ele após o culto, a menos que eu me dispusesse a enfrentar uma fila quilométrica, e mesmo em casa o telefone estava sempre tocando, impedindo qualquer diálogo de se aprofundar. Tenho certeza que se eu pedisse, ele reservaria um tempo para conversar comigo, mas o fato de vê-lo sempre tão ocupado me dava a sensação de que pedir isso seria incomodá-lo, ainda que ele não pensasse assim. Logo, nossas conversas eram curtas (mas proveitosas), e muitas vezes eu fazia companhia a sua esposa enquanto ela o esperava pacientemente na saída da igreja. Vê-la sentada ali, olhando sempre carinhosamente para seu marido sem poder chegar perto para dar-lhe um carinho me comovia bastante. Ela não desejava ir embora sem ele. E enquanto o esperava me falava do quanto era apaixonada por aquele bigodão. Por causa dela ficava mas fácil esperar meu namorado, então ancião, que saía um pouco antes do pastor...

Hoje, pensando uma vez mais sobre a igreja, essas cenas me vieram a mente e encontraram eco no texto bíblico que Deus selecionou para mim. A imagem de dezenas de membros cercando o pastor em busca de resposta me lembraram as primeiras palavras do texto: "Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão". A esposa do pastor, falando apaixonadamente dele, demonstrando com isso estar mais unida a ele que os que estavam mais próximo, me lembrou as últimas palavras do texto: "E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos."

Porque muitos daqueles que cercavam o pastor estavam querendo tratar de assuntos administrativos, assuntos que o pastor seria mesmo a pessoa mais indicada a aconselhar e resolver. Mas muitos outros o buscavam antes mesmo de consultar a Deus, de orar perguntando Sua vontade, de abrir-lhe o coração e entregar-se a Ele. Buscavam o pastor porque dependiam dele para saber o que era certo e o que era errado, mesmo tendo a Palavra de Deus como o melhor guia à disposição de suas mãos. E esse tipo de dependência só os fazia mais e mais dispersos: mesmo obtendo uma resposta sensata do pastor, não teriam condições de praticá-la até que buscasse verdadeiramente a Deus, e isso o pastor não podia fazer por eles, ainda que quisesse. Mesmo homem mais ungido não pode dar a outrem a vida espiritual que estes não têm - e não querem. Quando vem a tribulação eles se dispersam e andam errantes pedindo "ore por mim", sem no entanto acreditar que Deus os ouve, sem colocar os próprios joelhos no chão. Como Deus pode responder a oração de fé de alguém por outro alguém que não O busca? Ele está ansioso por isso, mas não encontra um caminho para percorrer até esse coração!

Isso no entanto não foi o que aconteceu aos seguidores de Jesus. Da dispersão eles resolveram se ajuntar e seguir pregando a Palavra de Deus, dependendo inteiramente dEle para isso. Havia perseguição. Havia as dificuldades de andar em terra estranha, com uma língua e cultura desconhecidas, sem estrutura nenhuma que os acolhesse, mas eles faziam sua parte e deixavam que Deus fizesse a dEle, consultando e confiando, estudando e praticando, pedindo e recebendo. "E a mão do Senhor era com eles". Quando eu olhava a esposa do pastor falando apaixonadamente e unida a seu marido apesar das barreiras entre eles, eu via amor. Quando o povo via os filhos de Deus unidos e falando apaixonadamente dEle ("durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente"), diziam "Vede como se amam!" ( Tertuliano, Apologético, 39,7). Não dividiam apenas um espaço físico e cumpriam ritos, eles estavam unidos apesar das barreiras, e falavam sobre o amor do Deus que sabiam que podia derrubá-las. E por causa desse amor os chamaram cristãos.

Não pode haver amor sem dependência embora haja dependência sem amor, e é isso que faz a diferença entre um cristão e alguém infeliz. Depender de Deus produz união entre os irmãos e vontade de falar dEle para todo o mundo. Produz sensatez e discernimento para tomar decisões ao reconhecer nelas a Vontade de Deus. Produz segurança de estar servindo ao Deus Vivo por amor e sentido uma enorme alegria de fazê-lo. Produz os dons do Espírito, e uma ânsia para buscar Sua voz, ouví-la e seguí-la. Nisto está o amor. Quando nossa igreja estiver vivendo esse amor, unida e pregando as Boas Novas de um Deus que se conhece pessoalmente, o mundo saberá novamente o que é ser cristão.

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