quarta-feira, 18 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 04

Texto Bíblico do dia:

Malaquias 3:16 - "Então aqueles que temiam ao Senhor falaram uns aos outros; e o Senhor atentou e ouviu, e um memorial foi escrito diante dele, para os que temiam ao Senhor, e para os que se lembravam do seu nome."
Salmo 100 - "Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra. Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico. Sabei que o Senhor é Deus! Foi ele quem nos fez, e somos dele; somos o seu povo e ovelhas do seu pasto. Entrai pelas suas portas com ação de graças, e em seus átrios com louvor; dai-lhe graças e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom; a sua benignidade dura para sempre, e a sua fidelidade de geração em geração."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Cantar ao Senhor um cântico novo. Não deixar que as cordas do meu espírito envelheçam...

Meditando:

A meditação de hoje propôs algo instigante: compor música. O propósito é ajudar a memorizar versículos e citações importantes, mas como estudante de música eu não poderia deixar de tecer mais umas considerações sobre o assunto pois de Jubal (Gênesis 4:21) até Beethoven percorreu-se um caminho de descobertas incríveis que eu me ponho a imaginar.

Imaginem o Homem pela primeira vez diante de um sistema organizado de sons a que hoje nós chamaríamos escala musical. Deus os deu de presente em alguma manhã iluminada. Você já teve um pianinho de brinquedo quando era criança? A simples existência de sete notas musicais parece algo maravilhoso para quem as experimenta pela primeira vez. Não precisa ter nenhum sentido musical, não precisa ser sequer bonito, só precisa soar para começar a prender o espírito. Depois o ouvido começa a pedir algo mais. Então o Homem percebe que os sons se comunicam. Que com aquelas sete notas de uma escala ele pode criar uma melodia agradável, e depois até combinar duas melodias se conseguir tocá-las uma em cada mão. Empolgado, ele experimenta juntar ainda outras melodias ao mesmo tempo - alguns mais afoitos chegaram a juntar até 64 vozes, cada uma cantando algo diferente, numa só música. Até que ele percebe uma relação horizontal entre essas "linhas melódicas", e resolve juntar alguns sons que lhe parecem harmônicos para criar acordes. Percebe certas leis que regem essas relações. Fascinante! O Homem então mergulha num universo de formas e sons que lhe permite se expressar com uma riqueza que as palavras jamais poderiam alcançar.

Não é preciso que alguém passe por todas essas etapas que a humanidade passou para perceber que com grupos de sete sons definidos pode-se obter verdadeiras obras-primas. E assim a música prossegue junto com a história do próprio Homem, comovendo-o tanto quando ele a cria como quando ele a escuta. Algumas são bem simples, outras profundas, algumas você guardou porque marcaram algo especial, outras porque ouviu por aí e aquilo acabou ficando grudado em sua mente. Quantas músicas diferentes você ouviu em sua vida? Quantas a humanidade já inventou? Seria capaz de mensurar o potencial criativo de todas as culturas musicais do nosso planeta? No entanto tudo começou com um pequenino grupo de sete sons, tal qual no seu pianinho de brinquedo...

Embora eu tenha simplificado bastante o intrincado mundo da teoria musical, acho que já posso lhe fazer uma pergunta. Existiria música se o Homem tivesse continuado com aquelas sete notas em suas mãos e não as explorasse mais e mais suas possibilidades? De que adiantaria que Deus tivesse dado esses preciosos sons de presente, se o Homem não se importasse em os usar? Como uma criança com seu pianinho de brinquedo, o homem, com o passar do tempo, se cansaria de ouvir aqueles sons desconexos até o ponto de não aguentá-los mais. É verdade que os pais se cansam mais rapidamente que as crianças de seus pianinhos... mas chega uma hora que, se a criança não tiver estímulo para ir além, aquelas notas serão deixadas de lado e nunca virarão música. Imagine que ela aprenda a tocar "Cai, cai balão" e dê um concerto incrível para seus pais orgulhosos. Depois de tocar "Cai, cai balão" pela 8567ª vez, ela começará a ficar entediada. E seus pais enlouquecidos. A experiência musical acabará aí. A menos que ela se abra para novas possibilidades...

Infelizmente isso não é o que acontece na maioria dos casos. Os pais se dão por satisfeitos em dizer aos vizinhos que seu filho toca maravilhosamente "Cai, cai balão" e a criança se sente atraída por brinquedos mais novos: uma bicicleta, um pobre cachorro, o aparelho de som da sala...

Sabe, o que mais me fascina em Davi, é que ele era um homem que não se cansava de aprofundar suas experiências. Compunha um salmo e logo se sentia inspirado a compor outro e mais outro, e nunca dar por esgotadas as possibilidades de expressar a beleza musical e poética. O texto bíblico de hoje me mostra um Davi que lembrava de Deus, mas lembrava com fervor. Consigo imaginar seu semblante de felicidade enquanto entoava o salmo 100 a Deus. E seu sentimento não era mais ou menos forte em qualquer um dos seus outros hinos. Seja tristeza ou alegria, havia sempre algo pulsando firme dentro do seu peito. Por isso a Casa de Deus era um lugar a que ele se dirigia com ansiedade e imensurável prazer.

Esse talvez seja o sonho de algum cristão de hoje em dia, que vai para a igreja só pelo hábito, mas entra e sai sentindo um grande vazio, carregando sua Bíblia como se nela levasse o peso de séculos... Passados os primeiros meses de recém-convertido, ele começou a experimentar a sensação de conhecimento. Já conseguia dizer alguns versículos de cor, lembrar de textos relacionados a certos assuntos, expor mesmo que resumidamente o fundamento das doutrinas em que cria. E isso era bom! Mas com o tempo, ele começou a desenvolver “super poderes”: adivinhar o sermão do pastor pelas primeiras frases, prever todas as falas e jargões da doxologia com tédio, saber qual hino seria cantado desanimadamente pela primeira nota tocada ao piano, e sabia até onde a igreja dizia um potente “amém!” durante a oração, só pela entonação de quem orava. E isso não é era bom. Com o passar dos anos, começou a experimentar mais e mais freqüentemente uma incômoda sensação de “déjà vu” durante os cultos, e a cada nova mensagem apresentada o primeiro impulso era pensar: “de novo!...”. Permaneceu na igreja por costume, mas no íntimo sentia que nada ali parecia mais ter sentido para ele.

E não haveria de ser assim? Imagine passar dez anos ouvindo "Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si" três vezes por semana, durante algumas horas. Quem pode se empolgar com isso? Quem pode ver sentido nisso? Está lá o pianinho capenga, já desafinado, tocando sempre as mesmas notas que não dizem nada. E eu aqui esperando que essa não se torne a nossa história.

Como manter a alegria pulsante de Davi depois de anos e anos indo à mesma igreja regularmente? Como manter aceso o interesse pelo mesmo conteúdo, muitas vezes explanado da mesma forma pelas mesmas pessoas ao longo do tempo? Como sentir-se motivado a "apresentar-se diante do Senhor com cânticos", depois de ouvir os mesmos cânticos décadas a fio? Bem, a resposta é simples. Basta perceber o quão profunda pode ser a religião que Deus nos deu de presente e vivê-la de modo a ter dela tudo o que ela pode lhe dar.

Como conseguir agora transformar o "Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si" numa sonata de Beethoven?? De que modo a religião com cara de gasta pode tomar nova vida e se renovar a cada dia com maior força e beleza, graça e fascinação? Ainda por analogia, imagine que a música que você ouve sai de você mesmo! Você é o instrumento! Deus lhe deu tudo de que você necessita para ter um relacionamento riquíssimo com Ele e produzir as mais belas composições! No entanto não tente fazer você sozinho o trabalho do compositor. Um piano não pode tocar a si próprio, não importa que ele tenha cordas afinadíssimas ou teclas de marfim. É o Espírito Santo que vai transformar suas notinhas desconexas em uma sinfonia celestial. "Não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo" Tito 3:5.

Falando de forma bem clara, temos que nos achegar diariamente à Palavra de Deus e pedir que o Espírito Santo nos mostre como aquelas palavras - as mesmas que estão lá há milênios - podem nos fazer um homem novo hoje. E quanto mais repetitivas certas idéias parecem, mais Deus aponta para nossa necessidade de trabalhar com elas. Mais precisamente? Peça a Deus que lhe ajude a praticar tudo o que você já sabe, ou acha que sabe, mesmo aqueles princípios tão elementares como um "Cai, cai balão". Se se propor a fazer um terço do que você viu e ouviu na Bíblia, já ocupará todos os dias da sua vida com algo novo e desafiador, e começará a achar com mais e mais constância facetas novas e impressionantes nas mesmas palavras. Se com sete notas um bom compositor pode fazer uma sinfonia inteira, imagine o que Deus pode fazer com Sua Palavra em nós! "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. A renovação de que necessitamos está em praticar a Palavra de Deus, não por nossos próprios esforços, mas através de uma atitude de humildade e entrega que permite ao Espírito Santo nos fazer instrumentos em suas mãos. E compor com nossas vidas, a cada dia, uma obra de arte mais bela. "Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia." II Cor. 4:16.. À medida que formos percebendo Seu trabalho em nós, não nos permitiremos jamais ser meros sons medíocres e desconexos outra vez. Pois descobriremos que fomos criados para muito mais.

Minha oração hoje é que eu seja capaz de executar o cântico novo que Deus preparou para minha vida neste dia, com as Palavras que Ele me mostrou. E cada semelhante meu o escute soando agradavelmente aos seus ouvidos.

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