sexta-feira, 8 de outubro de 2004

E recebereis poder

Quem a conhece, pequena e doce, não imagina de pronto a vitalidade e alegria de que aquela senhora é capaz. Quem passa em frente a sua casa e a vê regando seus vasinhos enquanto cantarola feliz, não imagina que todo aquele quarteirão cheio das mais belas plantas foi todo plantado e cuidado por ela. O verde-vivificador já não cabia só em seu mundinho doméstico, e ela o levou para a rua, para frente de outras casas, da escola, transbordou vida ao que lhe rodeava. É possível que a princípio as pessoas só achassem estranho. Mas com o tempo começaram a gostar dela, a lhe agradecer, a lhe prestar homenagens, e dia até chegou que uma equipe de reportagem chegou por ali para entrevista-la. Então as pessoas prestavam atenção em suas plantinhas? Logo que percebeu isso arranjou folhetos bonitos com mensagens cristãs, embalou-os cuidadosamente em plásticos e distribuiu-os por entre seus vasos de plantas. Quem passa hoje por sua rua pode descansar à sombra de uma árvore que ela plantou e ler tranqüilamente a respeito da esperança e alegria que moram no seu coração. Sem pensar muito, sairá dali levando muito dessa alegria e esperança no peito.

Como Deus é forte na simplicidade! E como a simplicidade é criativa, cheia dos mais belos discursos de Deus! Por isso quando pensei em escrever sobre bondade, foi o exemplo dessa irmãzinha que me veio à mente. Vocês devem conhecer outras mulheres e homens com histórias de feitos mais abnegados, mais extraordinários, mais sacrificais até. Eu pensei nela porque ser simples é uma das formas mais difíceis de ser bom. Por isso requer mais poder, logo, as pessoas simples são as mais poderosas.

Lógica difícil de compor neste mundo onde “poder” é uma palavra que soa altiva, entronizada, cheia de dinheiro, bens, status, autoridade para mandos e desmandos. O poder ordinário, esse mesmo que nos ensinam a busca desde cedo, faz com que muita gente sacrifique sua vida e a vida dos que o rodeiam em nome da volátil sensação de ser um pouco melhor que os outros. Família, profissão, religião e aparência são distorcidos, em nome desse poder, a meros instrumentos para conquistar mais poder ou mostrá-lo bem luminoso a todos os passantes. Restam então seres consumidos pela vontade de poder, ao invés de seres sedentos da pura e simples vontade de viver. E infelizmente não me refiro apenas a Hitlers, Bushs, ou ao seu chefe. Falo de nós também que em maior ou menor grau acabamos sacrificando os mais belos e sagrados aspectos da vida por causa de uma ânsia pouco acima do estômago que julgamos nos empurrar para cima, mas ao fim só nos aproxima mais rápido do pó.

Não erramos em pensar que o poder nos faz mais fortes. Erramos em perseguir o tipo de poder errado. Porque há o poder que faz um homem mandar em muitos outros e conseguir o que quiser. Mas há o poder de Deus, o poder da fé, o poder da oração, o poder da humildade, o poder do louvor, e entre todos os poderes que nos elevam de fato, aquele que julgo mais difícil de alcançar e, por isso mesmo, o poder que nos faz mais fortes: o poder de ser bom. Com simplicidade, o que o faz a bondade mais verdadeira, menos exibida. E é esse poder, de olhar o outro como merecedor do meu amor e atenção em detrimento das minhas próprias mazelas, dos meus míopes interesses, é esse poder que nos faz limpos de coração, que nos faz ver a Deus (Mateus 5:8) e um sentido mais nobre em nossas vidas, que nos faz enxergar enfim o nosso irmão (mesmo os que a pobreza tornou mais invisíveis) e amá-lo do jeito certo, e torna-lo meta em nossas vidas. É esse poder que desejo que busquemos todos os dias para chegarmos a ser tão grandes e fortes a ponto de sermos simples como os que vêem a Deus: os que escondem o Eu sob as asas do Altíssimo e vivem aqui para servir.

Um sábado feliz!

Luciana

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