sexta-feira, 24 de setembro de 2004

"Mas uns mais iguais que os outros..."

Sábado está chegando e já começamos a nos preparar. Muitos de nós irão vestir sua melhor roupa, calçar sapatos bonitos, colocar perfume e caprichar no sorriso quando chegar na igreja. “Feliz Sábado!”, diremos com o semblante alegre. E nos sentaremos ao lado de pessoas que vestiram suas melhores roupas, calçaram sapatos bonitos, colocaram perfumes e nos sorriem desejando feliz sábado. Durante a escola sabatina iremos para as nossas classes: adultos, jovens, adolescentes, crianças, cada qual no seu grupo semelhante. Estudaremos doutrinas que professamos crer como igreja, que nos une num mesmo pensamento, objetivo e comportamento. Cantaremos em uníssono nossa fé igual e ao final do culto iremos para casa, ainda sorrindo na despedida.

No sábado, mais que em outros dias de culto, parecemos mesmo todos iguais. Isso é maravilhoso! Ainda mais se além de iguais, estivermos unidos. Se a nossa semelhança implicar também na sensibilidade para as diferenças. Pois eu posso facilmente ter ao meu lado um irmão muito parecido comigo religiosamente, mas com uma vida emocional, financeira, familiar ou espiritual bem diferente da minha. Pode ser que eu tenha que ir além do sorriso no rosto dele para perceber que ele precisa de bem mais que o meu cumprimento sorridente.

Você já deve ter lido na Bíblia a passagem de Mateus 25: 34 – 40 em que Jesus fala de um grupo de pessoas que perguntará por ocasião de Sua vinda: “Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?”, e Jesus responderá: “Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes”. A fome, a sede, a necessidade de acolhimento, cuidado, proteção e esperança não estão somente “lá fora”. Entre nossos irmãos, mesmo aqueles que nos parecem estar vestindo tão bem a capa da semelhança, existem muitos precisando que alguém se importe em ajudar, em pelo menos chegar junto.

Eu fico muito triste observando como por vezes sentamos ao lado de alguém na igreja, e nem olhamos para o lado para ver quem é o nosso irmão que está ali. Mesmo que você não o conheça, não se trata de um desconhecido, é seu irmão! E enquanto você abre sua Bíblia indiferente pode ser que ele esteja precisando de uma manifestação de amor sincero. Eu fui batizada e freqüentei durante muito tempo igrejas pequenas, onde normalmente as pessoas vivem um sentimento familiar mais forte, e por vezes, em igrejas maiores, fui olhada com espanto pelo simples gesto de cumprimentar alguém do meu lado a quem eu não conhecia. Confesso que às vezes fico com medo de invadir o papel religioso-individual de alguém: chegar, sentar e olhar para o pregador, saudar os conhecidos com um cumprimento ir para casa. Mas isso me incomoda! E meu marido, que tem o hábito de cumprimentar todo mundo que vê pelas ruas (não, não é candidato a vereador), tem me ensinado mais do prazer de se importar com as pessoas.

É triste que numa comunidade religiosa que professa crer num Deus uno, aconteçam episódios como o que nos contou certo amigo. Num determinado congresso de jovens, o pregador pediu que todos virassem para o lado e cumprimentassem seus irmãos. Como nosso amigo era de outro estado, ele disse que ficou olhando para os lados, vendo os grupos de amigos e conhecidos se abraçarem enquanto ele permanecia esquecido no meio do auditório, sem que ninguém ali lhe estendesse a mão. “Eu nunca senti um senso de deslocamento tão forte”, desabafou. Então ele não era um irmão também só porque era desconhecido?

E isso não é o mais triste. Há mesmo muitos irmãos que nos são conhecidos por um sorriso de feliz sábado, mas cujas necessidades nos são totalmente ignoradas. Não creio que devamos catalogar a vida pessoal das pessoas da nossa igreja, mas podemos nos aproximar com gestos de amor sincero e desinteressado, nos mostrarmos dispostos a compreender, ajudar, ouvir, praticarmos a sensibilidade de Cristo para as necessidades do espírito humano, ou ao menos orarmos fervorosamente para alcançarmos esse dom. Para que no meio de iguais consigamos ser também unidos. Para que, iguais a Cristo, enxerguemos o caminho especial para cada alma, tenhamos algo de Cristo a dar àqueles a que chamamos de irmãos.

Então, feliz sábado!

Luciana

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