domingo, 22 de outubro de 2000

Gostinho de Deus

“Eu sou a videira verdadeira...” João 15: 1

A tarde do sábado passado foi uma das mais agradáveis que já tive. A manhã já tinha providenciado que o espírito estivesse leve, depois de assistir um culto de poesias e músicas sacras realizado pelo coral ACASP. A mente estava em harmonia com a brandura do dia claro e fresco, e o corpo satisfeito por um almoço que foi um verdadeiro gozo gastronômico. Além disso, eu ainda tinha a companhia do ser amado procurando comigo o lugar mais bonito das redondezas para fazer sesta e festa.
Encontramos uma pracinha linda, pequena mas alegre e aconchegante. O lugar perfeito para aquela “contemplação da natureza sem responsabilidade botânica”, só para admirar a criatividade Divina.
Pombas embaixo de uma enorme seringueira, bem-te-vis no tronco de uma árvore altaneira, passarinhos azuis brincando numa pitangueira... espere! Uma pitangueira! Dá para acreditar numa pitangueira carregada de frutos no meio de São Paulo? Mas ainda havia a apoteose: uma amoreira!! Eu nunca havia provado uma pitanga também, mas à amora acrescentava-se o desejo que sempre tive de sentir seu sabor de verdade. Elas sempre me pareceram tão suculentas nas embalagens de balas e doces! Colhemos as frutinhas com avidez. Que frutinhas lindas! Que cor fascinante! que formato admirável! que gosto... gosto...hann...estranho!!! Não era o gosto das balas e doces, era absolutamente diferente do que meu paladar tinha convencionado a chamar “gosto de amoras”. Contei isso para o meu namorado, que replicou com sua tese do gosto das cores: “o que você tinha provado não era o gosto da amora, mas um gosto vermelhinho. Esses gostos artificiais são assim: dão nomes de frutas a gostos que na verdade nem chegam perto do original, são apenas gostos vermelhinhos, amarelinhos, verdinhos...”
Isso me fez lembrar um outro lugar lindo, para onde eu gostaria que você olhasse agora. Também há árvores diversas e frutíferas ornamentando o local, e treze homens caminham por ali lentamente. Um vai à frente falando suave e mansamente, mas Suas palavras envolvem a cada um dos que O ouvem, como uma brisa refrigerando a alma. A lua esparge sua clara luz, revelhando-Lhes uma florescente videira, para onde Aquele homem de voz poderosa aponta e diz: “Eu sou a videira verdadeira...”
Embaixo dessa videira encontraremos descanso, segurança, proteção e alimento. Seus frutos pendem dos ramos para saciar nossa fome de amor e justiça, para nos dar forças e revigorar o ser cansado das lutas, derrotas e decepções. Basta estender a mão e sentir seu delicioso sabor.
Há no mundo ao redor todas as tentativas possíveis de enganar o paladar, com gostos artificiais que imitam sem jamais chegarem perto do sabor de paz que tem os frutos da Videira. Há até mesmo árvores se proclamando videiras e oferecendo o doce e enganoso fruto, com promessas e prazeres fáceis e tentadores. Como produtos artificiais, seu objetivo é enganar e viciar o paladar. Mas quem escolhe a Videira Verdadeira, terá alimento e nutrição para nunca mais sentir fome outra vez.
Há vida em abundância no gostinho de Deus. Mas esse é um gosto que nosso paladar espiritual tem de se acostumar a conhecer e buscar com discernimento. Existem muitos frutos cheios de corante e sabor artificial prontos para nos ludibriar e levar-nos à desnutrição do espírito.
E cuidados redrobados! Esta semana li uma coisa interessante sobre a língua: quando comemos algo excessivamente doce, as papilas gustativas, responsáveis pela detectação dos sabores, ficam entupidas pela glicose, e qualquer outro alimento que você provar a seguir parecerá sem gosto. Experimente comer um quindim e tomar um suco depois.
Com nossa espiritualidade não é diferente. Se nos acostumamos demais aos sabores adocicados e artificiais do mundo, chegará o tempo em que não mais perceberemos qual o verdadeiro gostinho de Deus, e poderemos rejeitar os frutos da videira por acharmos que eles ficaram, de repente, muito insípidos ao nosso paladar...
Seja o Cristo vivo nossa vida e sustento em cada momento de nossas vidas, e como fez Daniel, resistamos ao banquete dos ímpios. É acostumando o paladar às coisas do céu, que tomaremos lugar na promessa: “Bem aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro”. Apocalipese 19: 9
Uma semana feliz e iluminada...

Lux Lunae

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