domingo, 16 de julho de 2000

O amor admirável

"Quando [o Senhor] vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram..." II Ts 1:10

Depois de mais de seis meses sem acariciar a tecla de um piano tive o ímpeto e a oportunidade de sentar tranquilamente diante de um (i.e., sem observadores). Reuni minhas partituras mais queridas e me pus a dedilhar o instrumento.
O que me motivou a buscá-lo, eu sabia bem, era a vã tentativa de preencher minha mente para tentar esquecer um problema específico que me atordoou o dia inteiro, mas justamente tal problema me fazia incapaz de concentrar-me como deveria, de modo que eu divagava intermitantemente entre o pentagrama e ele. Quando enfim conseguia virar uma página, um bemol qualquer me lembrava a gravidade do problema, que ainda estava lá, por trás da clave de fá. A carta foi objetiva e a caligrafia denotava uma escrita nervosa e emocionada.
Uma amiga muito querida, que me acompanha desde que conheci Jesus, como uma verdadeira irmã, e que sempre me animava com seu sorriso constante, expunha, desolada, a ruína de seu casamento. E no seu caso não é apenas mais um casamento, mas o casamento que todos tinham por modelo. Lembrei da época em que se deu o matrimônio, aliás, eu mesma, noiva na época , quase caso também movida pelo clima de ansiedade que envolvia a todos e ao casal. Ambos eram cristãos atuantes, jovens cheios de planos e inteligentes. Agora se separam e ela me diz que o convívio estava impossível, que já não havia amor. O que houve de errado?
Me aborreci com a questão que me tomou o dia todo e voltei ao piano, mas a primeira nota era justamente um si bemol que me impediu de continuar com seu som de pergunta. Me veio então vivamente à memória a frase de um amigo pianista que conhecia muito bem minha admiração pelo instrumento e acompanhou meus primeiros passos. Ele dizia: "Não se centre na admiração que você tem pelo instrumento ou pelo que ele pode fazer, admire o que vocês podem fazer juntos, admire o que vocês são quando se unem, sob pena de uma desastrosa mediocridade". E agora eu tinha uma hipótese musical para a separação.
Lembrando com mais detalhes, percebi que a admiração mútua foi o que fez aquele casal se unir. Eles viam no outro o cônjuge ideal pela série de qualidades que apresentavam, mas juntos não eram ou faziam nada que pudessem admirar também; a união com o outro era apenas mais um modo de atrair mais admiração para si. Admirar e amar nem sempre são a mesma coisa.
É engraçado mas quando as pessoas vão justificar porque estão bem com seus cônjuges, elas começam a dar uma lista de virtudes das pessoas. O importante é saber até que ponto tais virtudes importam realmente para elas... por outro lado, um homem pode admirar a Sharon Stone, a Marta Suplicy e até a Carla Perez, mas amar profundamente a sua esposa, devotando-lhe admiração especial. Porque nenhuma outra mulher, com mais qualidades ou dotes físicos e/ou intelectuais desperta nele sentimentos, ações, vontades tão especialmente admiráveis, porque nenhuma outra conseguiu penetrar na sua vida e fazê-lo feliz. Então qualquer outra jamais a superará, ainda que acumule trilhões de adjetivos maravilhosos.
A nossa relação com Deus não é diferente. A história bíblica fala de um Cristo admirável, isso confessa o mais veemente ateu. A minha religião pode ser, doutrinária e teologicamente, admirável, mas a admiração que eu lhe tenho não é diferente da que tenho quando me deparo com inteligentíssimas filosofias temporais. O detalhe que fará minha religião e minha relação com Deus serem especiais está no quanto elas têm efeito sobre minha vida, meus sentimentos, ações e vontades. Cristo , como personagem isolado é apenas mais um vulto histórico, um profeta incrível e até um Deus poderoso, mas... e daí? Eu posso o admirar e estar alheia a ele, tanto quanto a Maomé. Mas Cristo em mim, isso sim, é algo de que realmente eu m e maravilho! Porque juntos, partilhando problemas e alegrias, dividindo vitórias e derrotas ou simplesmente vivendo a paz e a alegria de estarmos juntinhos um ao lado do outro, isso é assombrosamente bom. Ele então nem precisaria ser um afamado personagem, um filósofo e político fenomenal, nem um Deus capaz demover montanhas e acalmar tempestades; eu o amo porque Sua influência na minha vida é fundamental para eu ser feliz. Todos os grandes personagens bíblicos não foram grandes porque achavam Deus o máximo, mas porque a Sua relação com Esse Deus era o máximo. Houve há certo tempo um homem que admirou muito a Jesus. Ele o viu pela primeira vez enquanto Cristo pregava às multidões e ficou maravilhado com Seu carisma, Seu poder, Seu olhar penetrante, a forma como curava, a sabedoria que emanava em jorros do Mestre. Este homem foi chamado do meio da multidão para acompanhar Cristo de perto por três anos. Estou certa que durante este tempo, ele aprendeu a admirá-lO mais. E depois de andar, comer, conversar, receber carinho e ter tido amor como jamais ninguém o amou, este homem ainda não permitira que Jesus penetrasse no seu coração e na sua vida de forma plena, e não investiu na relação de amor que lhe estava proposta. Por isso, Judas não conseguiu que a sua relação com o Mestre se tornasse admirável, antes a fez infame com uma cruel traição. Amor de verdade só vem quando a pessoa a quem admiramos forma uma dupla admirável conosco. E se você deixar Jesus ser Seu parceiro, o mundo admirará a Ele em você! Que este seja nosso testemunho até o dia da glorificação.
Uma semana Feliz e Iluminada!

Lux Lunae

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