domingo, 7 de novembro de 2004

Interceder - porque Deus quer conceder

Essa história é do tempo em que a primeira coisa que os filhos faziam ao acordar era pedir a bênção aos pais. E não apenas isso: pediam a bênção a tios, padrinhos e qualquer pessoa mais velha em sinal de respeito, mesmo sem saber exatamente o que isso significava. Do tempo em que as pessoas sentiam prazer em “dar a bênção”. Do tempo também em que não se comprava aspirina em supermercados, e o melhor remédio era uma oração. E olha que não faz tanto tempo assim.

Eu tinha constantes crises de enxaqueca quando era criança. Elas eram tão fortes e desesperadoras que eu ficava prostrada. Então meu pai, quando chegava do trabalho, sentava ao meu lado na cama, colocava as mãos sobre minha cabeça, e enquanto a afagava fazia uma oração. Lembro que a enxaqueca sempre passava, e eu considerava isso a coisa mais normal do mundo. Tanto quanto hoje as pessoas acham normal ver a dor ir embora depois de tomar uma aspirina. Essa foi minha primeira lembrança de intercessão.

Depois disso o conhecimento de Cristo me fez aprender a interceder também. Primeiro pelos mais próximos. Depois o culto das quartas-feiras na igreja tornou a oração intercessória uma necessidade. Algum tempo depois descobri como era bom escolher alguém por quem orar no ônibus, enquanto eu ia para a faculdade, além de ser uma ótima forma de passar o tempo já que nunca consegui ler ou conversar no ônibus sem ficar enjoada. Escolhia alguém aleatoriamente e percorria todos os aspectos da sua vida em uma oração sem pressa. Há pouco tempo, resolvi fazer um caderno para anotar pedidos por minhas necessidades e a dos outros também, sendo que essas últimas ocupam o maior espaço nas páginas. Todos os dias eu lembro de alguém que deveria estar listado no nosso caderno de orações. E sabe o que aconteceu comigo depois que deixei a oração intercessória ocupar mais e mais lugar na minha vida espiritual? Bem, não aconteceu nada! Pelo menos nada que se compare a um feito mosaico ou apocalíptico. E isso é que de melhor poderia ter me acontecido.

É certo e conhecido que a sorte de Jó foi mudada enquanto ele orava por seus amigos (Jó 42:10). Mas a oração intercessória é maravilhosa exatamente porque dela não esperamos nada para nós mesmos. Tiramos tempo para pensar no próximo ao invés de nos nossos próprios problemas. Concentramos o que há de melhor em nós numa atividade para o outro. Aprendemos a buscar o poder de Deus de forma desinteressada e nossa percepção da atuação divina cresce significativamente (II Reis 6: 17). Dessa forma nos aproximamos mais firme e rapidamente do caráter de Jesus. Sim, porque a mesma Bíblia que diz “Muito pode, em sua eficácia, a súplica de um justo” (Tiago 5:16), também diz “não há um justo sequer” (Romanos 3:10). A oração, na medida em que nos aproxima de Jesus, ativa em nós o processo de justificação pela fé, e nos faz dignos de chegarmos confiantemente ao trono da Graça (Êxodo 32: 11 e 14, Hebreus 4:16). Entendemos por isso que Deus tem limites, mas somos nós quem ditamos esses limites através da nossas escolhas: a oração interecessória “dá uma segunda chance” a Deus, de modo que Ele possa colocar a vida de Seus filhos no Seu plano original para elas. Por fim, esse tipo de oração concede respostas que não poderiam vir de outra forma: “Faz parte do plano de Deus conceder-nos, em resposta à oração de fé, aquilo que Ele não outorgaria se o não pedíssemos assim.” (Ellen White, O Grande Conflito, p. 525)

Desejo que nesta semana busquemos a Deus através da oração intercessória. E que essa seja uma prioridade no nosso ideal de aprofundarmos nossa comunhão com Ele. Eu poderia contar algumas boas histórias de pessoas que ouviram a resposta de Deus quando alguém orou por elas, mas prefiro que deixemos Deus compor testemunhos sublimes em nossas próprias vidas.

Uma semana iluminada,

Luciana

Obs.: um amigo certa vez me disse que os cristãos vivem sua religião da mesma forma como os animais são adestrados: através do medo de punição e da ânsia por recompensa. A oração intercessória é o argumento mais forte contra esse pensamento, já que se baseia pura e simplesmente no amor, o qual lança fora o medo e se centra no próximo.

Nenhum comentário: