segunda-feira, 7 de abril de 2003

Pedi e dar-se-vos-á

- Dá-me mais fé!

Certa vez uma amiga me procurou angustiada, e expôs aquilo que julgava ser um grave problema: “eu acho que estou grávida!”, ela disse. Embora casada há dois anos, ela não sentia que tinha estrutura material para receber um filho naquele momento, e quando começaram os sintomas da gravidez, ela se desesperou em pensar nas conseqüências para sua vida profissional e financeira. Conversamos um pouco antes dela criar coragem para ir ao médico, e nessa conversa concluímos que ela precisava ter fé que Deus proveria o necessário para que sua família não passasse necessidades. Que se Ele havia permitido essa gravidez, é porque aquele filho seria uma grande bênção na hora certa. Foi então que decidimos orar, e ela fez um pedido que muitos de nós costumamos fazer nos momentos difíceis: “Senhor, sei que queres me ensinar a depender de Ti inteiramente, mas sou tão fraca! Por isso te peço: dá-me mais fé!”. No outro dia ela me ligou com a notícia que, embora inesperada, era uma resposta clara ao seu pedido: ela não estava grávida de um bebê, mas de dois!
Muitas vezes achamos que bastará pedir mais fé a Deus e um anjo descerá do Céu com uma varinha de condão, tocará nosso peito e seremos transformados numa versão moderna de Abraão, o pai da fé. Mas Deus costuma fazer nossa fé aumentar por um meio mais eficaz em longo prazo, e esse meio é justamente a provação. Quanto maior a dificuldade que atravessamos pela fé, tanto maior esta ficará após a batalha, porque o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza (II Cor. 12:9).
Então dê uma nova olhada sobre seus problemas por esse ângulo: pode ser que Deus esteja apenas respondendo sua súplica por fé, e Ele estará ao seu lado até que o seu pedido se realize.

- Dá-me mais tempo!

Havia um ancião muito dedicado à Igreja, cujo maior objetivo de vida era servir a Deus com toda a sua alma. Por isso ele separava mais e mais tempo para os afazeres na igreja, dando tudo de si. Mas chegou um tempo em que ficou difícil administrar todas as suas tarefas e ainda a vida familiar, profissional, social... Muitas de suas noites eram passadas em claro elaborando projetos para aproveitar melhor o tempo, e mesmo quando parava para comer sua oração era pra lá de objetiva: “Senhor, abençoa a mão que fez e a boca que vai comer, amém!”.
Um dia, sem saber mais de onde tirar tempo para dar conta de todos os cargos e afazeres, ele decidiu procurar o pastor: “Pastor, como eu faço para o dia render mais? Parece que vinte e quatro horas apenas não bastam!”, ao que o pastor respondeu: “Filho, apenas ore e peça isso a Deus”. “Mas eu já oro”, respondeu o ancião, “todos os dias dedico meia hora à oração.”. E o pastor lhe disse: “Então ore durante uma hora!”. “Uma hora!!”, reclamou o ancião, “se eu gastar uma hora orando não vou conseguir terminar todas as minhas tarefas!”. O pastor concluiu: “Então ore duas horas!”.
O que aquele ancião e muitos de nós também precisamos aprender é que o tempo dedicado à oração não é gasto, mas investido. Vivemos num século que mede nossa produtividade pela quantidade de coisas que fazemos, mas um cristão bem-sucedido é aquele que mede sua produtividade pela quantidade de coisas que Deus faz por ele. Na oração abrimos um canal para permitir que Deus realize em nós o Seu querer e efetuar. E se fazemos Sua vontade, todas as outras coisas ficarão em seu devido lugar. Há tempo para tudo (Ecl. 3), porém quanto mais tempo houver para Deus, mais proveitoso tudo será.

- Dá-me sabedoria!

Conheci um rapaz bastante religioso, desde criança dedicado a aprender a doutrina bíblica e freqüentador das rodas intelectuais de várias denominações. Com vinte e cinco anos, já havia lido a Bíblia dez vezes, sabia respostas para os mais intricados problemas teológicos e era consultor em se tratando de profecia. Ele me contou que certa vez um professor na sua faculdade o desafiou dizendo: “quero que você me responda apenas uma pergunta e eu saberei se você é mesmo cristão.” O rapaz, acostumado a argumentar com ateus, deístas, protestantes e católicos, aceitou o desafio e disse sorrindo: “pode perguntar!”. O professor aproximou-se, olhou bem em seus olhos e inquiriu: “qual o nome do filho da zeladora de sua igreja?”. O rapaz calou-se.
Quando Deus concedeu sabedoria a Salomão, não o fez somente um homem inteligente, um político hábil ou um literato excepcional. Salomão foi dotado com a sabedoria divina, que nada mais é que o conhecimento de Deus. O mero conhecimento humano, que se adquire em livros e rodas intelectuais, não faz o homem grande diante de Deus. Mas aquele conhecimento que é sorvido convivendo diária e intimamente com o Senhor, é a sabedoria que deveríamos ter por alvo no nosso viver cristão. A sabedoria verdadeira não é aprendida, é revelada pelo Espírito Santo (I Cor. 2:10). Ela é pura, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Não é facciosa, mas promove a paz (Tiago 3:13-18). Ela cresce até à Eternidade, enquanto a sabedoria humana, que é o simples conhecimento do bem e do mal, tem por fruto, desde sempre, o perecimento.
O conhecimento deste mundo traz tristeza e enfado (Ecl.1:18), afoga o homem em sua própria empáfia. Mas o conhecimento de Deus torna o homem humilde, alegre, e o guia pela forma mais eficaz de conhecer a Deus: o amor. Pois todo aquele que ama, conhece a Deus. (I Jo.4:7).

- Dá-me porção dobrada do Teu Espírito!

Quando Eliseu fez esse pedido a Elias, este lhe respondeu: “Dura coisa pediste!” (II Reis 2:10). Receber o Espírito de Deus exige mais que boa vontade da parte dEle; exige muito de nós em nos deixarmos usar segundo Sua vontade.
Alguém cheio do Espírito Santo produz os frutos mencionados em Gálatas 5:22-23, os quais, examinados de perto, se traduzem em várias faces de um só verbo: amar. Vejamos: a alegria é o amor sorrindo. Paz é o amor serenando. Longanimidade é o amor sofrendo. Benignidade é o amor compassivo. Bondade é o amor agindo. Fé é o amor confiando. Mansidão é o amor suportando e temperança é o amor controlando. Se amamos, o Espírito de Deus habita em nós (I Jo 4:12-13).
Mas como tem sido dado o nosso amor? O ser humano, de uma forma geral, possui uma enorme vontade de amar; a quem o ama, o aceita, nunca lhe fez mal algum e concorda com todos os seus pensamentos. Mas Jesus foi claro em dizer: “Se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os publicanos o mesmo?” (Mateus 5:46). Portanto se queremos porção dobrada do Espírito Santo, devemos também nos esforçar para amar em dobro, ir além do que é conveniente, ir onde o amor transcenda a dor e o egoísmo, como Cristo fez. Se tentarmos amar como pede o Pai (Oh, Senhor, dura coisa nos pediste!), e não como permite o nosso pobre coração humano, receberemos o Espírito Santo em Sua plenitude e poder.

Ps.: Dedido este texto à Igreja Central de Recife e a Tibério, que me pediu um textinho objetivo, me obrigando, portanto, a arranjar uma nova forma de ser prolixa: fazer quatros textinhos objetivos:-))

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