domingo, 13 de outubro de 2002

O que preciso for

“Leve o que eu gosto mais
Se assim necessário é
Pra eu de Ti me aproximar.
Deixe vir decepções,
Solidão e desamor,
Pois assim, Pai, semelhante a Ti serei.”


Não lembro o nome da música, nem sequer o grupo musical que a cantava. Sei que hoje a acho meio feinha, e que foi uma das primeiras músicas que eu aprendi a cantar quando entrei para o grupo “Renascer”, um conjunto de cantores amadores que se reunia nos sábados à tarde da igreja de Igapó para ensaiar as musiquinhas dos grupos adventistas, com umas fitas de playbacks que eram de amargar!

Mas essa estrofe em especial nunca me saiu da cabeça. Quando eu a ouvi pela primeira vez, no ensaio do grupo Renascer, eu tinha apenas alguns meses de batizada, e ainda achava que tudo na vida cristã era alegria e ganho. Já havia feito algumas renúncias, mas nada que me desanimasse, pelo contrário! O ser humano tem até certo prazer em fazer determinadas renúncias, porque isso lhe dá uma inestimável sensação de nobreza. Abrir mão de algumas coisas sempre impressiona aos outros e a você mesmo, e quando essas coisas não são essenciais, elas se vão como a mais agradável dádiva. A gente se sente muito bom por fazer meia dúzia de feitos vistosos, mas um belo dia se dá conta que cristianismo é algo bem mais profundo. “Porque se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também os mesmo?”, então o golpe de misericórdia, “Portanto, sede vós perfeitos, como perfeito é vosso Pai celeste” (Mateus 5: 46 – 48)

Quando me falam de oferta, abnegação, entrega a Deus, eu lembro da minha prima Lane. Quem me conhece sabe que sou fã dela. Certa vez minha avó estava muito doente, e todos achávamos que a velhinha ía descansar definitivamente. Menos Lane. Ela, muito católica que é, fez uma promessa, e como não é de muitos rodeios, fez a promessa pra Deus, sem nenhum intermediário, porque ela queria mesmo falar com o Chefe. E a conversa foi rápida: “É o seguinte, se o Senhor curar a vó, eu nunca mais quero saber de pirulito.” Vovó se recuperou muito bem, e de fato, até hoje Lane não aceita pirulitos. E não vale tirar o palitinho pra fingir que é uma bala grande.

Acho que amor é isso. Não ofertar o sorriso automático, o gesto educado, a saudação de praxe, a dádiva que está à mão. É não se importar de abnegar mesmo aquilo que é mais importante, desde que isso signifique estar um pouco mais próximo do Amor.

Gostaria de começar essa semana pedindo que Ele levasse meu orgulho, minha ambição, minha dificuldade de perdoar, minha necessidade de provar que sou mais forte, minha vontade de dar o troco, minha tendência de desejar as coisas erradas, meu gosto pelas coisas más, minha preguiça de lutar um pouco mais, meu comodismo de achar que tudo deve ficar como está, minha falta de fé que sempre me diminui tanto. Isso tudo é doce ao meu paladar pecador, mas eu não preciso disso pra viver. Não vou ganhar muitos “louros” por fazer o que é certo, e é bem provável que ao fim eu esteja decepcionada, só, e não tenha conseguido o amor de muita gente. Mas Ele vai estar ao meu lado (coisa de Quem já viveu por aqui), eu vou estar limpa, e o que mais importa: ninguém terá roubado minha paz.

Uma semana iluminada!

Luciana

Um comentário:

Luciana Teixeira disse...

Nota importante: eu não acho mais essa música feinha, acho ela LINDA. E MORRO de saudade dos ensaios com o grupo Renascer (hoje se chama Luminus), dos playbacks re-re-re-gravados que o Régio, com o ouvido magnífico que Deus lhe deu, conseguia decifrar com muito amor e dedicação enquanto nos dava as notasa seremcantadas. Um dos motivos de eu amarmúsica hoje se deve a esses momentos.Tenho um carinho IMENSO pela igrejinha de Igapó (o diminutivo é apenas carinho) e pelos amigos desse tempo. Lembro isso tudo com uma nostalgia de primeiro amor que se quer levarpara a Eternidade.
Obrigada Igapó! Obrigada Reginaldo! Obrigada Renascer! Vocês são uma parte melhor do que sou hoje...