segunda-feira, 17 de setembro de 2001

Embalos da terça de manhã

Enquanto eu via o World Trade Center desabando diante de um mundo de olhos incrédulos, pensamentos confusos se apresentavam no trapézio da minha mente. Nomes, pessoas, lugares, objetos, passando fugidios e indefinidos. Estranho, mas as grandes comoções nos fazem checar a nossa própria existência com ânsia neurótica, certificar-se de que tudo ainda está onde deveria estar: o teto sobre a cabeça, a cabeça, os membros, a família e os amigos. Então salve a televisão, o telefone e o modem, que me dão a certeza de que eu e os que amo estão longe o bastante – embora ao vivo, bem vivos, viva a via satélite.

Não sei quanto tempo fiquei estarrecida diante da TV comendo meus biscoitos de aveia e mel, mas só depois de algumas horas percebi que aquela sensação estranha de quem não estava entendendo nada se devia em grande parte à minha irmã, que falava compulsivamente, competindo com os comentaristas e repórteres. Foi quando ofereci gentilmente que ela comesse o restante dos biscoitos, que pude ouvir certo repórter da CNN dizendo uma frase comovente: "os americanos estão sendo aconselhados pelos policiais a voltarem para suas casas e dizerem a família que está tudo bem". Era a mesma sensação que me afigurava: abraçar tudo que amo e confiar que está tudo bem.

Tudo bem? É. Mesmo que aviões estejam caindo sobre nossas cabeças, milhares de crianças inocentes estejam sendo mutiladas por bombas no oriente, e ainda me digam que uma onda gigante vai destruir meu amado litoral brasileiro ("e quem sabe então, o Rio será alguma cidade submersa...", profetizaria o Chico Buarque)? Bem, se você me ama e me disser que está tudo bem, eu vou confiar em você, vou ficar tranquila, segurarei calmamente sua mão rumo a uma loja de pranchas de surf.

O ser humano gosta de ser embalado, e se acostuma a isso desde o útero materno. Aqueles sons assustadores de coração batendo, pulmão inflando, ruídos digestivos e ainda aqueles indefinidos que vêm lá de fora, sem que saiba absolutamente o que está acontecendo. Talvez seja como descobrir-se preso, de olhos vendados, numa cabine telefônica no meio da avenida Paulista. É justamente aí que aprendemos que "o perfeito amor lança fora o medo" (I João 4:18), e nos sentimos seguros no calor do embalo materno, que nos garante: está tudo bem.

Quem nasceu para viver na loucura do presente século, ainda vai se deparar com muitas situações assustadoras. As profecias bíblicas não são muito animadoras nesse sentido, já que nos alertam para uma série de acontecimentos catastróficos, como não poderia deixar de ser num mundo que sofre as conseqüências do pecado. Mas a Bíblia também nos aponta um Pai que nos ama infinitamente, e que em momento algum deixará de expressar isso. Aqui na minha versão, contei trezentas e sessenta e cinco versículos onde aparece expressões com o sentido: "Não temais" (uma para cada dia do ano), e os que mais gosto é quando o próprio Jesus diz: "Não temais, sou Eu..."; você consegue ouvir nos últimos acontecimentos, Ele dizendo isso como alguém que está chegando? Deus embala o Seu povo ao longo da História. Quer nos abraçar e dizer: "tudo bem, ainda que as águas rujam e os montes se abalem" (Salmo 46). Nos mostra que estará conosco até o fim, e as presentes dores são apenas parte de um plano perfeito para extirpar o sofrimento da Terra.

Neste momento as pessoas estão procurando explicações e especulando profecias de toda natureza, para compreenderem o que se passa. Sugiro que estudemos mais as profecias, à luz da Bíblia e do Espírito de Profecia, como fonte de tranquilidade e paz, já que é para isso que Deus as proveu. Mas acima de tudo, reconheçamos que agora é tempo de desenvolvermos o perfeito amor. Aprendamos a lançar fora o nosso medo e o temor dos nossos semelhantes também. Não é preciso muito para isso... é só aprender a ser tão explícito como Deus. A maioria das pessoas é capaz de ler a Bíblia por si mesmas, mas nem sempre se consegue fazer isso quando se está com medo e confuso, portanto não espere que elas o façam. Abra as Escrituras diante das pessoas como quem embala. Fale as verdades dela como quem abraça. Leia-as como quem ama, e não se exime de dizer: está tudo bem. E creia nisso, porque assim disse o Senhor (Isaías 41:10).

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