domingo, 12 de agosto de 2001

Na casa do feirante Josimar

Moro numa cidade linda, cuja beleza morena não ouso descrever, já que outros poetas e cantores o fizeram bem melhor antes de mim. E qualquer descrição não vale uma visita a carinhosa Cidade do Sol.

No entanto, apesar de ser filha desta linda cidade – o que justifica qualquer postura esnobe – eu não fui agraciada com a oportunidade de ter por vizinho qualquer um de seus pontos turísticos mais famosos, como praias de beleza estonteante, dunas de encantadora grandeza ou magníficos coqueirais paradisíacos. Na urbanidade provinciana de Natal, restou-me por atração turística, a ver da minha janela, a antiquíssima e tradicional "Feira do Carrasco", do bairro do Alecrim.

Certamente não é a atração mais elegante, tampouco a mais interessante ao contigente de turistas consumidoidos. Mas eu mesma não me animo a promover nenhum "tour" que lhe diga respeito, visto que não me agrada nem um pouco a idéia de visitar-lhe as bancas históricas.

A "Feira do Carrasco" (até pesquisei, mas ninguém parece fazer idéia de onde tenha vindo esse nome), é apenas uma enorme feira, que nos remete fielmente às origens desse costume arraigado na cultura dos povos, retratando com originalidade histórica, os burgos que brotavam marginais aos grandes feudos, inclusive com a sordidez de detalhes medievais. Mas se você dispensa apresentações turísticas, basta saber que tudo isso significa uma balbúrdia incompreensível de gritos, tomates, galinhas, "trombadinhas" e toda sorte de artigos comerciáveis, desde fechaduras até móveis para cozinha. Dizem que você encontra de tudo. Eu nunca consegui andar um terço dela para conferir a validade da afirmação...

Mas todo esse intróito é para tentar justificar um fato que me ocorreu por esses dias. O que mais faria uma mulher de salto alto (!)* e taileur estar andando na "Feira do Carrasco", desesperada, às dezessete horas de uma quarta-feira, e entrar ofegante na casa do feirante Josimar? Bem, eu tentei fazer crer que poderia ser o amor ao turismo histórico da minha cidade, mas desconfio que você já imagine um motivo mais feminino típico, como, uma meia-calça desfiada, por exemplo. Mas eu tinha um compromisso urgente, e... bem, deixemos para lá: isto há de ser uma meditação.

A casa do feirante Josimar é um dos lugares mais requisitados da Feira do Carrasco. Como o próprio nome do estabelecimento sugere, não é apenas uma banca na feira, mas um pequeno comércio em sua própria casa. Toda a família trabalha junta, e o motivo de honra é vender tudo com o preço da Feira de Caruaru.

Me chamou atenção em especial, o filho do senhor Josimar. Enquanto eu procurava uma meia-calça, ouvi um som sofrível de teclado acompanhando uma voz fina e, diga-se tudo, desafinada. Como não gosto de perder uma oportunidade de observar o ser humano, fingi-me compenetrada olhando umas blusas vermelhas, enquanto ouvia atentamente a conversa de duas mulheres ao meu lado, uma das quais dizia:

- E ele agora gravou um CD, o filho do feirante Josimar, tá sabendo?

Pois é! Ele vai se apresentar na igreja amanhã, é lindo ele tocando, todo mundo vai lá.

Foi a vez do pai ouvir e acrescentar seus adendos. Falou com um orgulho tão grande do filho, que faria o Luciano Pavarotti se morder de inveja. Desfilou todos os adjetivos bonitos que conhecia, ao ponto de dar gosto a gente ouvir mais o pai que o filho. O menino tem uns doze anos, e tecnicamente ainda tem que melhorar um bocado. Mas quem se importa? É o filho do feirante Josimar! Ele canta na igreja, todo mundo vai lá ver ele tocando e até cantando. Não precisa nem ouvir. O feirante Josimar tem sorte de ter um filho tão espetacular assim, e não há quem não se convença disso quando sente o amor que aquele pai –e empresário para contatos – transpira por todos os poros.

Neste dia dos pais, eu achei que o feirante Josimar seria a figura perfeita para apontar um Pai que também sente grande orgulho de o ser. "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos" I Jo 3:1.

Não importa se você não é tão talentoso assim. Se não tem tantos atributos como gostaria de ter. Não há nenhum problema em você não ter dado muitos motivos para esse Pai se orgulhar de você, se tem andado distante dEle. Não importa nem mesmo se você não acredita nEle: Deus te ama e acredita em você! Ele tem grandes planos a dois, e quer sonhar junto com você, participar da sua vida. Não é porque você ou eu mereçamos, não tem a ver com qualquer coisa que tenhamos feito. Ele simplesmente nos ama porque é nosso Pai. Tem orgulho de nós e fica feliz de estar por perto.

Acredite, quando Deus olha para você, sente amor. E é o amor dEle quem nos faz santos, justos e dignos perante todo o Universo. Não deixe de estar com Ele em cada momento desta semana: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos:
Paizinho!" (Romanos 8:15)

*Meus amigos entenderão a exclamação...

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