sábado, 7 de fevereiro de 2009

Adveniat - Caminhos

Certa vez um amigo me magoou. E como acontece com todos os amigos que notam que magoaram a quem querem bem, ele tentou justificar sua atitude. Disse: "É que do lugar de onde venho as pessoas valorizam mais a aparência que o caráter. Às vezes acabo fazendo da mesma forma que elas." Eu o perdoei e entendi. Mesmo sem usar as mesmas palavras, diante de um erro cometido eu mesma já pensei assim algumas vezes. Não somos só nos que deixamos marcas no caminho pelo qual andamos: ele também nos modifica, imprime em nós algo da sua própria paisagem, cobre-nos com a poeira levantada em cada pegada.

Jesus contou a história de um caminho e quatro homens. Alguém lhe perguntou sobre salvação sem estar interessado de verdade em saber sobre a salvação (queria testar Jesus), e Ele respondeu com uma parábola sobre uma necessidade real do interlocutor: saber quem era seu semelhante e como tratá-lo. Está em Lucas 10: 25-37. O caminho era a estrada traiçoeira entre Jericó e Jerusalém, que apresentava uma descida de cerca de 900 metros. Lá, um homem foi assaltado e espancado com bastante violência a ponto de ficar desacordado no chão. Mesmo que nunca tenhamos passado por situação semelhante somos capazes de reconhecer a dor de estar ferido, física ou emocionalmente, e ao mesmo tempo desamparado, sem condições de se fazer algo por si mesmo.

A parábola continua dizendo que um sacerdote passou pelo mesmo caminho, viu o homem semimorto e passou de largo. Pode ter pensado: "Do lugar de onde venho os justos não se contaminam com cadáveres. Este aí se ainda não morreu deve estar perto." Depois veio um levita e passou de largo também. Pode ter pensado: "Do lugar de onde venho, o templo, há ainda muita coisa para ser feita, tenho muitas responsabilidades e não posso me arriscar a faltar com elas porque fiquei impuro ao tocar num possível cadáver." O terceiro homem, um samaritano, compadeceu-se da pobre vítima, cuidou, levou consigo, tratou e pagou os suficiente para que o homem ferido ficasse bem hospedado por vários dias até se recuperar. Pode ter pensado: "Do lugar de onde venho as pessoas são consideradas más. Tanto que, futuramente, quando se referirem a esta história me chamarão de 'bom' samaritano, como se todos os outros samaritanos fossem necessariamente maus. Do lugar de onde venho ninguém acredita que eu seja capaz de demonstrar compaixão por um homem que não conheço e que provavelmente pensa como os outros do lugar de onde venho. Mas ele ainda precisa de mim." E ajudou o moribundo logo que constatou que este não estava morto (ele, como os judeus, também sabia que corria o risco de ficar impuro).

Jesus terminou a história com um "Vai e procede tu de igual modo", sugerindo que em nossos caminhos usemos de compaixão e amor para quem precisa de nós ainda que isso seja uma tarefa incômoda e até nos custe algo. Isso pode ser socorrer um semimorto ou deixar de magoar um amigo desnecessariamente. Para tanto, Jesus fez saber também que um mesmo caminho tem duas direções: o lugar de onde se vem e o lugar para onde se vai. E muito mais importante que saber como é o lugar de onde se vem, é saber exatamente como é o lugar para o qual se quer ir. Como é lugar para onde estamos indo? Que nesta semana possamos agir com as pessoas de modo a mostrar algo da paisagem que aguarda no fim do nosso caminho.

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