domingo, 11 de março de 2001

Surpresa

Oi amigos!
Alguns aqui já sabem que há algum tempo eu resolvi me meter a regente e formar um grupo vocal na pequena Igreja do Alecrim. Ao contrário da atual tendência para esse tipo de formação, temos por objetivo primeiro louvar a Deus e depois, promover o senso de agregação entre os jovens que participam dele, procurando também desenvolver técnicas de educação vocal e espiritual, para um louvor sadio. A proposta é interessantíssima, o trabalho é exaustivo.

Eu fiz uma campanha intensa de incentivo para que toda a igreja participasse, e o resultado esperado é que, a grande maioria do grupo é formado por leigos e inexperientes em música, pessoas que não sabem o que é uma clave do sol, ou que só cantavam no banheiro, que nunca seguraram um microfone nem jamais ouviram falar de técnicas de respiração, impostação ou dicção. Chamam o relaxamento de "ginástica" e fazem as caretas mais sórdidas para aprenderem a usar o diafragma corretamente.
Como vocês podem imaginar, os primeiros ensaios foram bastante, digamos... trabalhosos. Eles cometiam erros primários, alguns não conseguiam cantar em uníssono. Não que eu saiba lá grande coisa de música, sou uma amadora em todos os sentidos da palavra, mas confesso que por vezes beirei ao desespero, me contendo num sorriso e em doses cavalares de paciência e bom-humor. A vantagem - também esperada - é que eles não têm vícios de cantar errado por anos a fio, são humildes para aceitarem seus erros, não sentem necessidade de sobressair, e se aplicam com afinco aos exercícios e ensaios. Estão todos lá, pontuais, ativos, participando em tudo, desde as meditações bíblicas até as vocalizes.

E o que a princípio era quase um desespero, passou a ser um trabalho compensador. Depois de muito esforço conjunto, oração, treino e um clima de amizade e estímulo, conseguimos harmonizar razoavelmente a primeira música. Algum entendido em música que nos ouvisse poderia julgar o som hediondo, mas enquanto eu ouvia todas as vozes em seus lugares, soando firmes e se harmonizando, fui ao êxtase, quase beijei todo mundo de tanta felicidade.

Surgiu então o problema. Como eles não estão acostumados às luzes e microfones, são tímidos e inseguros se forem colocados perante um público. Quando sugeri que iríamos cantar na igreja em breve, alguns quase desmaiaram, outros já começaram a ter crises de garganta. Mas ficou dado o recado, e embora eu não contasse com o apoio da maioria, os adverti que a qualquer momento poderíamos cantar, pois era para isso que estávamos nos esforçando tanto.

Procurei uma oportunidade por algum tempo. Não queria fazer isso num culto porque eles ficariam muito nervosos e acabariam não cantando nada mesmo, além de correrem o risco de se sentirem humilhados devido a presença de muitas pessoas. Mas eis que uma irmã da igreja resolve fazer aniversário...

Eu estava lá, com uma coxinha numa mão e o playback dos ensaios na outra. Quando vi que todos do grupo já haviam chegado na casa da irmã, levantei. Dirigi-lhe uma pequena homenagem, li um texto bíblico condizente com o tema da música ensaiada e anunciei que o nosso grupo iria cantar naquele momento em homenagem ao natalício daquela pessoa tão especial.

Dava para ouvir o coração de alguns batendo em ritmo de escola de samba. Eles se entreolharam medrosos, visivelmente assustados, mas incapacitados de reagirem porque a irmã realmente nos é especial, e ficou tão comovida com a iniciativa que não deixou espaço para ninguém voltar atrás. Sem um pingo de piedade, pedi para que todos ficassem de pé, se ajuntassem e soltei o playback com a melodia conhecida. Eles precisavam dar esse passo, quebrar a barreira do medo, terem uma primeira experiência como cantores. E tinha de ser ali, onde quer cantassem bem ou horrivelmente, todos achariam sublime, porque não entendiam muito de música.
Amigo, eu bem que gostaria , mas esta não é uma história sobre os milagres que Deus é capaz de fazer, ou anjos que se juntam aos cantores para dar uma harmonia perfeita e celestial...

Um dos tenores tentava engolir os cinco salgadinhos que, nervoso, colocou na boca de uma vez só. A contralto à minha direita teve um acesso de tosse. A soprano mais segura acabara de beber um copão de guaraná borbulhante e não conseguia mais que miar as notas. As calças dos baixos balançavam convulsivamente no ar, e a luta para unir as vozes lembrava a batalha de Waterlloo...

Aceito todas as críticas das ONGs protetoras de cantores amadores. Também assinto na reprovação dos psicólogos, regentes, assistentes sociais, ouço as mais duras censuras de todos os cantores aqui. O fato é que, depois que saímos de lá e convencidos a me pouparem o pescoço, demos boas risadas e chegamos à conclusão que a segunda vez será bem melhor que a primeira. Pelo menos pior, vai ser impossível ser. E eles vão se dedicar mais ainda a fim de estarem prontos para cantarem a qualquer instante necessário. A lembrança deste fato vai deixá-los tão atentos quanto preparados.

Sabem, Jesus é um regente que decidiu nos fazer surpresa análoga. Ele poderia ter escolhido anjos perfeitos e poderosos para terminar a maior obra desde a criação: levar o evangelho a toda criatura, e anunciar que Ele está voltando em breve e quer salvar a todos. Mas ao invés disso escolheu a nós, pobres coristas limitados, cheios de defeitos, falhas e pecados. E prometeu que muito em breve se dará o dia glorioso em que nos apresentaremos face ao Universo, com essa obra terminada – quer por nossas mãos, quer não. Temos à nossa disposição tempo, material e estímulo suficientes para estarmos preparados para esse grande dia, mas será que temos dedicado esforço bastante para não sermos pegos completamente desafinados com a música divina? Quando o Rei e Regente do Universo vier, achará em mim uma voz melodiosa por proclamar as verdades do Reino, e segura por firmar-se na Rocha? Ou apenas um par de pernas tremendo por saber-se nota dissonante da Bíblia, desesperando em gritar para fugir da face do Cordeiro?

Quero convidá-lo a, junto comigo, preparar-se com dedicação para tomar parte no coro celestial. É agora que devemos afinar nossas vidas de acordo com a música que Deus compôs para a humanidade, fugindo dos ritmos e dissonâncias que Satanás insiste em tentar inserir entre nós. A partitura é a Palavra de Deus. Unidos, orientando e confortando uns aos outros, ficará mais fácil conseguir a harmonia necessária. "Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele" (Mt25:31), nós nos uniremos a eles num perfeito louvor, em grandioso coro celestial.

Uma semana iluminada!

Luna

Um comentário:

Luciana Teixeira disse...

kkkkkkkkkkk tadinhos... que saudade do Luminum!