sábado, 17 de março de 2001

Exibindo

Olá amigos iluminados!

Não é mentira, está lá, para quem quiser ver. Eu estava deitada numa rede, sorvendo em preguiçosos goles meus últimos dias de férias, e procurando alguma coisa para ler na "Veja" que não fosse propaganda nem matéria para "Caras", quando me deparo com a criatura. Esposa de um cirurgião plástico, a...(custa-me dizer com convicção) mulher exibia seus mais recentes atributos. Em dois anos ela implantou cabelo, colocou 225 ml de silicone nos seios, mais silicone nos lábios e panturrilhas, fez lipoescultura na cintura, abdome e culotes, clareou os dentes, fez plástica no queixo para fazer uma covinha, tomou injeções químicas na testa para "suavizar" rugas, tudo isso arrematado com unhas postiças de porcelana e lentes de contato verdes, para destacar a beleza da tez bronzeada - artificialmente, claro. Para os que ensaiam uma interjeição indignada, é bom levar em conta os interesses artísticos da mulher: ela quer posar na playboy e participar de uma novela na Globo.

Eu ainda investigava a foto insólita, quando minha prima pulou na rede e me assaltou com uma proposta bem anti-estética: "vamos brincar de contar cicatrizes??" Invenção dos dias tediosos, essa é uma brincadeira interessante mas difícil: você tem que apontar uma cicatriz que tenha no corpo e dizer exatamente onde ou como a adquiriu. Se não lembrar, perde.

- Eu começo! - disse ela - essa aqui foi minha gata Chiquita que fez.

- Tá. Essa aqui na coxa, foi um ferro de passar que caiu quando eu tinha 7 anos.

- Essa no pé, foi um caco de vidro.

- Hmmm... espere. Essa na cabeça, foi passando numa cerca de arame farpado, quando tinha a sua idade.

- Essa aqui no tornozelo ó, foi semana passada, na sela do cavalo que eu montei.

- Ah, não lembro mais. Não faça essa cara, você está trapaceando, todo dia consegue uma nova. Eu não lembro mais de todas que tenho...

- Ganheeeeeiii!! E nem falei dessa na perna, quando levei uma queda, essa na testa quando bati no tronco de uma árvore, essa do dedo, que foi um bicho de pé, e essa daqui - falou ela aboreando a glória suprema - essa enooorme, quando esfolei meu joelho numa xícara quebrada.

Que contraste enorme entre a criatura da revista e aquela que me sorria dentro da rede. A primeira, utilizou-se de todos os artifícios para esconder seus defeitos, para encobrir de modismos suas imperfeições. Não a condeno: para os objetivos que ela tem em mente, está no caminho certo. E minha prima, toda feliz do meu lado, tirava a alegria de mostrar justamente todas as imperfeições que possui no seu corpinho, apontando detalhada e enfaticamente cada cicatriz, ficando tanto mais alegre, quanto mais feia ela fosse. Compreendo-a perfeitamente: aquelas cicatrizes são importantes porque contam a história dela, são as lembranças das aventuras saboreadas.

Cada um exibe o atributo que traduz seu conceito de felicidade. A Bíblia fala de alguém que também gostava de contar e exibir cicatrizes. O apóstolo Paulo não perdia a oportunidade de enumerá-las detalhadamente: "essa foi nos açoites e varas dos judeus, essas nos naufrágios, essas num abismo, essas quando fui apedrejado, essas de ladrões, essas aqui no deserto, etc, etc" (II Coríntios 11: 24 - 28) e arrematava com orgulho: "...trago no meu corpo as marcas de Jesus" Gálatas 6: 17. O que explicava esse orgulho feliz de Paulo? Masoquismo?

Em outro lugar Paulo fala de uma carreira que nos está proposta: o caminho do cristianismo (Hebreus 12:1). Acontece que esta carreira é longa, o caminho pedregoso, e ele sabia que podemos até levar uns tombos, arranharmos o joelho da alma, levarmos um corte na testa do espírito. E daí? O importante é levantar, limpar o pó, pôr um band-aid bíblico e sorrir feliz.

Paulo não via suas feridas como machucado, mas como um atributo que mostrava por QUEM e PORQUÊ ele vivia. Suas cicatrizes, eram exibidas com aquele gostinho alegre que antecede a vitória. O motivo desse estranho senso estético é um Ser que, vivendo num lugar cheio de seres perfeitos em todas as dimensões, é o único que exibe feias cicatrizes. "E se alguém lhe perguntar: Que feridas são essas nas tuas mãos? Dirá ele: São as feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos" (Zacarias 13:6). Não pense que Jesus dirá isso com tristeza. Ele apontará para a cicatriz, abrirá um sorriso largo de satisfação e pronunciará o seu nome. E o meu. E o nome de cada pessoa por quem ele deu a vida na cruz.

As nossas cicatrizes espirituais, querido (a) amigo (a), são a forma de lembrar para fazer valer essas cicatrizes de Jesus. Os arranhões que porventura adquirirmos por causa de nossa fé, são uma maneira demonstrar nosso "sim" ao sacrifício supremo dEle. Tenha certeza que a mão de Deus te acompanhará durante toda a carreira para te livrar do mal e te levantar nas quedas. Mas se você sair com cicatrizes das batalhas, sorria e se exiba. Você está levando no corpo os atributos de uma guerra cuja vitória se aproxima, as insígnias do exército divino, as marcas do Senhor Jesus.

Uma semana iluminada!

Luna

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