domingo, 4 de junho de 2000

Andando com ela por luz e trevas

“Vós porém sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus. A fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” I Pe. 2: 9

Ela caminhava tranquila por aquela estrada.
De vez em quando parava fechando os olhos, para sentir melhor o frescor matinal ou olhar mais de perto uma flor nova ou um animal curioso que tornavam ainda mais agradável a sua jornada. Pessoas com semblantes iluminados passavam por ela e a maioria a saudava com um sorriso caloroso... algumas pareciam tristes, outras cansadas, mas estavam juntas, na mesma direção, com o mesmo semblante brilhante, não raro abraçados uns nos outros
Passando por uma gruta, ela ouve vozes estranhas vindas lá de dentro e se sente estranhamente atraída a se aproximar. Enquanto ela adentra a caverna, sente uma sensação indescritível de poder: se sente capaz de explorar o desconhecido e pode , sozinha, e munida com sua auto-suficiência, assimilar esta nova e atrativa paisagem, se dando conta de como é prazerosa a segurança de descobrir os próprios limites. Nem repara que passada a belíssima entrada da caverna, o ambiente vai ficando mais e mais sombrio. Quando se dá conta, já está completamente envolvida... a luz atrás de si continua a chamar numa penumbra mais e mais fraca a cada passo que ela dá em direção contrária, e as vozes hipnóticas que a chamam ficam cada vez mais intensas... ela sente seus sentidos confundidos, ate descobrir, desolada, que no meio das trevas palpáveis já não há como discernir cores, nem ver sorrisos ou apreciar o que é belo; nem mesmo o certo e o errado ou a direção a seguir podem ser discernidas com clareza. O cansaço vem, mas não se pode confiar nos abraços dos corpos que perambulam por ali, desesperados, desiludidos ou eufóricos na própria degradação. Corpos cujos rostos estão encobertos pela negritude, e que já não buscam sentimentos, mas apenas sensações, não mais amor, mas apenas alívio ou um momento de distração da própria dor.
Há uma saída, ela sente isso, mas também sabe que esta saída fica cada vez mais distante enquanto seus pés sangram no solo áspero e seu corpo sofre rente às paredes de rochas frias e agudas. A esperança agora é que as imagens do que foi visto sob a luz daquele caminho uma vez abandonado, alimentem o desejo de voltar até que venha uma mão forte e poderosa que lhe guie
Erramos diariamente por driblar a consciência, por tapar os olhos à luz da chama do Espírito Santo. É triste ver que os homens valorosos como os reformadores, lutaram com a vida para que tenhamos direito ao livre uso da consciência e ela hoje em dia seja tão pouco usada. Que tenham lutado tanto e tão corajosamente para termos a Bíblia em nossas mãos e nós a leiamos tão pouco, preferindo muitas vezes as hipnóticas vozes da escuridão que a voz mansa e suave da Palavra de Deus.
"Consola-te" exclamou Latimer a seu companheiro de martírio, quando as chamas estavam a ponto de fazer silenciar-lhes a voz; "acenderemos neste dia na Inglaterra uma luz que, pela graça de Deus, espero, jamais se apagará." (O Grande Conflito pág. 247). E no entanto a pergunta do mártir Tyndale, ainda que usada em outro contexto até oposto, continua ainda válida: "Deve a igreja ter menos luz ao meio-dia do que à aurora?" Naquele tempo os homens, apesar de terem pouca luz como fora determinado para seu tempo, ERAM luz, a ponto de flamejarem como tochas vivas! Hoje, cada profecia cumprida é um holofote sobre o mundo, e estudando a Palavra de Deus nos damos conta de quanta luz nos foi revelada e emana em feixes densos sobre aqueles que não se escondem na gruta do próprio eu, na caverna do Príncipe deste mundo... mas insistimos em ser velas. Velas que apagam ao soprar um vento mais forte. Precisamos ser fogueiras, que, quanto mais forte sopre o vento, tanto maior seja a chama a arder.
A caverna escura onde se adentra em busca de uma falsa segurança, e de novas paisagens sobre as quais os sentidos não têm força (ainda que só depois se descubra isso) será a mesma que estará sobre os que dirão "caí sobre nós" quando for manifesta a luz do rosto que todo olho verá.
Hoje é o tempo de andarmos na luz para a qual uma vez fomos chamados. Prosseguir no caminho e refletir a luz que incide sobre nós.

Uma semana feliz e muitíssimo iluminada!!

Lux Lunae

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