domingo, 21 de maio de 2000

Uma publicidade divina...

"Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós,e escrita, não com tinta, mas, com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas d epedra, nas tábuas d ecarne do coração." II Cor 3:3

Para mim que tenho um prazer imensurável em descobrir e conhecer, a vida está sendo uma festa constante... Andando pelas ruas desta cidade, onde "grande" é adjetivo ordinário e ainda assim incapaz de mensurar, vou me detendo nos detalhes das ruas, pessoas, casas, cores e sons, que me invadem os sentidos. É difícil não estampar no rosto a expressão entusiasmada dessa alegria sinestésica de novas sensações, estados, paisagens.
Hoje, enquanto voltava do supermercado, reparei num casebre ainda meio informe num terreno aqui no Parque Fernanda. A casinha cor-de-cimento tinha sua tonalidade triste cortada por uma pitoresca faixa com letras graúdas escritas em azul: "Agradeço a São Expedito pela graça alcançada". O riso foi imediato, não de crítica ou soberba teológica, mas um riso satisfeito de admiração. Que idéia genial, que maneira mais inteligente de mostrar gratidão! O estudante distraído que por ali passar, a dona-de-casa atarefada, o senhor de idade entediado, o operário cansado ou desanimado, o motorista nervoso, a criança agitada, o jovem sem expectativa ou num devaneio de expectativas perigosas, o advogado, o poeta ou o traficante, o ser humano feliz, desesperado, desumanizado, confuso ou convicto de suas certezas e incertezas, não podem passar por ali sem pensar que outro ser humano proclama abertamente a felicidade de ter uma graça alcançada. Impossível passar por ali sem de, alguma forma, por mais sui generis que seja, pensar em Deus.
Pensei em Jesus caminhando numa manhã de segunda-feira pelas ruas de Jerusalém... pensei em seus olhos profundos passeando por essas ruas, e casas, pessoas, cores e sons. Imaginei esses olhos entrando na essência de cada pequena coisa que formava a realidade ao seu redor, prescrutando o que havia escrito nela. A natureza usava seu esplendor para falar-Lhe: "Agradeço-te, Ó Cristo, pela graça alcançada de estares entre nós". E cada pequena criança Lhe falava num sorriso: "Agradeço-te Cristo, pela graça de em Ti estar o motivo de eu poder ter vida". Os olhos do ancião sussurravam com gravidade: "Agradeço-te, Ó Cristo, pela graça da esperança de em Ti ter vida eterna e em abundância". E mesmo na alma mais corroída pelo pecado, Cristo conseguia ver uma oração falando da graça salvadora ou clamando por Seu poder transformador. Posso imaginar o sorriso iluminado do Deus que nunca perdeu a fé no ser humano, do momento que abnegou Seu lar celestial e Sua realidade divina, até o momento em que, entre escárnios dos seres a quem amou, agonizava a morrer na cruz.
Um bom-dia de um velhinho de cor, muito sorridente, mas que eu nunca houvera visto, me faz voltar ao Parque Fernanda. Lembro de quantas histórias sobre violência, assalto, estupro, atropelamento e todo tipo de comportamento anti-social eu ouvi desde desde que decidi vir para São Paulo. E embora saiba que esta realidade é o que desfila caótica e cotidianamente na frente de nossos olhos, de maneira que ao nosso modo de viver, cabe seguir à risca o fado (e fardo) de sermos homens desalentados de temor, ainda acho que há mais felicidade em ver pelos olhos de Cristo.
Talvez sua rotina já não tenha tantas coisas para descobrir como a minha, mas é certo haver um mundo imenso para redescobrir, nessa mesma rotina, olhando através dos olhos de Jesus. E é fantástico aprender a ler as coisas, fatos e pessoas, mais a fundo, vendo o que há de bom escrito em sua essência. "o mundo embora caído não é só tristeza e dor. Há rosas sobre os espinhos e os cardos estão cobertos de flores" (Ellen White, Caminho a Cristo, pág. 9, citação de memória e sujeita a pequenas falhas :-))).
Os próprios seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, carregam em si, não obstante séculos de corrupção pecaminosa, traços dEsse Deus. E ainda que nunca venhamos a ter aqui um vislumbre fiel do espírito dos seres que nos cercam, pudemos ao menos buscar transformar nosso nervo óptico à Semelhança do dAquele Verbo feito carne. Sabe o que é curioso? Quanto mais perto chegarmos dessa visão, mais conseguiremos expressar nós mesmo, em tudo que somos, uma prece de agradecimento e louvor, como se letras escritas pela Graça, crescessem se tornando mais e mais visíveis aos olhos de todos os passantes... seremos então a mais eficaz propaganda divina: cartas, faixas, outdoors de Deus...
Uma semana feliz e iluminada!

Lux Lunae

Nenhum comentário: