domingo, 12 de novembro de 2000

Atenção às nuvenzinhas!

“E olhei, e eis uma nuvem ...” Apocalipse 14:14

Depois de sofrer durante cinco meses o inverno de São Paulo (desesperador para quem tinha como conceito de “frio de rachar” a temperatura de vinte graus centígrados), estou, finalmente, tendo o prazer de sentir o meu saudoso sol. Relembrando no calor da pele, minha condição de filha da terra Natal, a colônia morena sentada no litoral brasileiro. Forte dos Reis Magos seu brinco de estrela, ondas de Ponta Negra seu leve vestido branco, moça risonha e indolente, que embora parceira fiel de traquinagens do vento, ostenta o título nupcial de Cidade do Sol.
Tomada por esse saudosismo que ataca os poetas nordestinos longe de casa, resolvi desenterrar algumas peças do meu guarda-roupa que não via há muito tempo, e sair para comemorar a ressurreição das minhas glândulas sudoríparas. Encontrei um vestido claro, leve e florido, o qual combinava perfeitamente com as sandálias carentes de pés há meses, e com o tempo lá fora. Abri a porta de minha casa, respirei fundo a brisa morna e olhei para o céu de azul-vivo-e-vivificador. Vi lá ao longe, uma pequena nuvem negra, quase imperceptível e lembrei-me das recomendações da minha amiga Lucy antes de eu vir para São Paulo: “mesmo que o dia esteja super ensolarado, leve sempre uma sombrinha e um casaquinho na bolsa”, mas convenci-me de que aquela nuvenzinha não era nada no meio do oceano de luz que estava aberto diante de mim. E lá fui eu andando tranquila e feliz.
Uma hora depois eu voltava para casa, o vestido encharcado gotejando água sobre as tiras descoladas das sandálias, que eu arrastava sofregamente contra a correnteza de lama que descia a ladeira da minha rua. Mal conseguia enxergar onde pisava porque o vento forte arremessava a chuva contra mim, e os trovões e raios completavam a cena dantesca. Chegando em casa, ainda mais saudosa do sol de Natal, me perguntava por que eu não dera ouvidos ao conselho da Lucy e subestimei o poder daquela nuvenzinha negra.
- Deveria ter lembrado da história de Elias! – falou um amigo meu, mal conseguindo conter as risadas ao se deparar com aquela criatura desfigurada, parecendo ter sobrevivido a uma enchente.
Deveria mesmo!
Elias orara a Deus para que não chovesse sobre a terra, pois Seu povo havia esquecido completamente dEle, e agora trilhava os caminhos da iniquidade e da apostasia. E durante três anos e seis meses, nem uma gota sequer se precipitou sobre o solo. Mas Elias convidou o povo a se humilhar e tornar para o Senhor, confessando seus pecados e reconhecendo o Deus de seus pais como o Deus vivo. Os profetas de Baal foram eliminados e agora a maldição do Céu devia ser retirada e renovadas as bênçãos temporais de vida.
A terra ainda estava mais ressequida que nunca, mas Elias disse ao rei Acabe: “Pode ficar tranquilo que eu já posso ouvir ruído de abundante chuva” e vai ver até lhe recomendou andar com um casaquinho e uma sombrinha. Depois, Elias subiu ao Monte Carmelo e lá orou fervorosamente confiando que, o mesmo Deus que havia mandado a estiagem ,tinha prometido abundância de chuvas como recompensa do reto proceder, e agora Elias esperava pelo derramamento prometido. Por sete vezes ele mandou seu ajudante ir olhar se havia algum sinal no céu de que Deus ouvira suas orações, e na sétima recebeu a resposta: “Eis que se levanta do mar uma nuvem pequena como a palma da mão do homem” (I Reis 18: 44). O profeta poderia ter pensado que só uma nuvenzinha não queria dizer nada, mas pela fé contemplou nela uma abundância de chuva. Antes mesmo de ver o pequeno sinal no céu, ele tinha certeza que Deus agiria, e clamou em oração pelo que já esperava confiantemente. Que fé! E Elias “era homem sujeito às mesmas paixões que nós” (Tiago 5:17), a diferença é que ele acreditava num Deus cuja palavra é eterna e cumpre cada promessa com fidelidade.
Muitas vezes nos encontramos no deserto de nossa desesperança, morrendo de sede de justiça, amor e paz, mas esquecemos que ele prometeu saciar-nos (Mateus 5:6). Deixamos nossos problemas nos prostrar e nossos sonhos jazem tão ressequidos quanto a terra em que nossos pés machucados estão. Mas não nos apossamos das promessas que Cristo deu para cada problema humano, e que estão registradas na Bíblia, justamente para que não esqueçamos de crer nelas. Experimente apenas lembrar, e se a ferida dói tanto e tanto que você já não consegue nem pensar... abra a carta de Deus para você e leia! Elas estão lá!
É importante esquecer tudo o que o ser humano lhe ensinou sobre promessas. Vivemos num mundo de promessas quebradas e desde cedo aprendemos que boa parte do que os seres humanos nos prometem não passam de mentiras, ou alimento de ilusões. Eu bem sei disso! Tudo começou com a serpente lá no Édem, prometendo que Eva viveria para sempre. Depois minha professora me garantiu que Papai Noel deixaria um presente embaixo da cama e tudo que eu vi foram minhas sandálias. Veio então minha madrinha, que me deixou desde o cinco anos até hoje esperando uma boneca de presente. E seguiram-se a série de decepções: as juras de amor eterno do primeiro namorado, o pagamento do salário atrasado no primeiro emprego, a amizade que não resistiu à primeira prova, a plataforma política do candidato a quem dei meu primeiro voto, tantas outras que você também deve conhecer bem. E aí acontece uma coisa interessante. Sempre que uma nova promessa surge, tendemos a reagir a ela segundo nossa história de decepções com todas as promessas não cumpridas. E de repente até as promessas de Deus podem nos parecer sem força... mas é exatamente isso que o nosso arquinimigo quer. Porque se duvidarmos das promessas de Deus, fechamos as portas para que elas se cumpram em nossas vidas.
Por isso creia. E mesmo que o coração teime, que a razão questione, que há muito tempo você esteja esperando uma gota de bênção para refrescar sua angústia, e o sol castigue sem que você sinta o menor prenúncio da resposta divina, creia na promessa que Deus reservou para você. E em seguida dê mais uma olhadinha no céu. Talvez perceba uma pequena nuvenzinha lá ao longe, e veja ela crescer proporcionalmente a sua fé e se derramar copiosamente sobre você.
Se mantermos o hábito de erguer o olhar do caminho desértico e o lançarmos com fé ao céu, nunca perderemos de vista os sinais de que Deus está bem perto e agirá no tempo certo. Não duvide das promessas e continue olhando para cima. É de lá que virá a solução e, muito em breve, o cumprimento da mais bela das promessas. A escritora Ellen White, não era meteorologista, mas sabia bem o significado de vigiar o céu. Uma das visões que o Espírito Santo permitiu que ela tivesse, me comove muito e gostaria de concluir partilhando-a com vocês:
“Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que, a distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso vencedor.(...) Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável multidão, acompanham-nO em Seu avanço. Aproximando-se ainda mais a nuvem viva, todos os olhos contemplam o Príncipe da vida. Nenhuma coroa de espinhos agora desfigura a sagrada cabeça, mas um diadema de glória repousa sobre a santa fronte. O semblante divino irradia o fulgor deslumbrante do Sol meridiano. “E no vestido e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores.” Apoc. 19:16. Os justos clamam, a tremer: “Quem poderá subsistir?” Silencia o cântico dos anjos, e há um tempo de terrível silêncio. Ouve-se, então, a voz de Jesus, dizendo: “A Minha graça te basta.” Ilumina-se a face dos justos, e a alegria enche todos os corações.”
Uma semana feliz e iluminada!

Lux Lunae

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