domingo, 26 de abril de 2009

Adveniat - Uma nova claridade

Os telejornais estão falando de chuvas fortes por todo o Brasil. Num dia desses, enquanto eu via a imagem de um senhor atravessando sua rua num barco, divaguei nas minhas lembranças até o ano de 2002, quando presenciei as chuvas mais torrenciais que já vi na vida. Eu morava então em Natal, mas no mês de janeiro daquele ano, parecia que a capital potiguar iria se transformar na Macondo de Gabriel Garcia Marquez.

Tanta chuva nos causou grande estranheza. Natal tem o título de “Cidade do Sol” por causa dos seus 300 dias de sol por ano, em média. Segundo alguns estudiosos ela é também a cidade que tem a maior claridade natural do Brasil. Isso ocorre devido a sua posição geográfica, na esquina do Atlântico, que lhe serve como espelho d’água. O resultado disso é que as cores em Natal ganham uma tonalidade característica, confundindo os pintores estrangeiros que por ali passam.

Nesse contexto, um mês inteiro de chuvas fortes e constantes era algo penoso para nós. Lembro de um desses dias chuvosos em que acordei bem cedo, e ao sair de casa vi que o céu estava límpido. Durou pouco, mas naquelas duas horas as nuvens deram uma trégua para deixar o azul celeste nos dizer “olá” novamente. E as retinas já acostumadas aos dias de chuva sempre escuros, ficaram em festa, matando a saudade das cores que não viam há semanas.

No pouco tempo em que o sol ficou à vista, pude perceber uma vasta nuance de cores e tons que antes passavam diante de mim banalizados. Vi azuis refletidos nos paralelepípedos do calçamento e amarelos brilhando nas folhas das árvores. Verdes alegres pontuando o asfalto e cor-de-rosa sorridentes em fachadas de casinhas humildes. Aquele vislumbre de cores festivas, que são a marca da minha cidade, nunca me pareceu tão belo como naquelas duas horas entre o cinza atípico de um verão chuvoso. Percebi que talvez eu nunca tivesse reparado nisso se não tivesse conhecido a ausência da claridade e convivido com a predominância do cinza-chumbo no céu.

Essas lembranças me levaram a divagar mais. Já ouvi muitas pessoas questionando a bondade e o amor de Deus diante de um mundo cheio de tanta miséria, dor, desigualdade, morte e injustiça. Não teria sido mais fácil e justo Deus ter dado fim ao pecado desde seu início, eliminando Satanás, e com ele todas a mazelas da Terra? Por que não o fez?

Acontece que os seres puros do Universo não conheciam qualquer névoa de maldade antes de Satanás. Como natalenses diante de tempestades infindáveis, estavam confusos quando o mal surgiu pois não conheciam suas consequências. Somente quando viram o próprio Filho de Deus agonizando numa cruz em terrível dor, enquanto Satanás e seus anjos rejubilavam julgando ter vencido a batalha, é que o Universo pôde contemplar toda a monstruosidade do pecado. Os anjos fecharam os olhos e choraram diante de tão terrível cena. Compreenderam o que eram as trevas.

Mas o Plano de Salvação arquitetado por Deus era perfeito, e surpreendeu nosso inimigo: três dias depois Cristo ressuscitou dando a resposta de Deus ao Universo e a vitória a todos que O seguem. Por Cristo foi nos dado poder para viver de maneira elevada e santa, a fim de um dia estarmos juntos ao nosso Redentor numa Nova Terra completamente renovada e livre do mal.

Depois de vivermos tanto tempo nas trevas do pecado poderemos contemplar com novos olhos toda a claridade da luz. Conheceremos como somos conhecidos. Amaremos com também somos amados. Louvaremos, não somente porque fomos criados, mas porque fomos resgatados da escravidão e da morte. Embora nos custe viver nesse ambiente obscuro em que vivemos hoje, é ele quem nos dará um dia a noção exata da nossa necessidade do Sol da Justiça. Quando tudo isso passar, compreenderemos melhor a luz, e por isso “não se levantará por duas vezes a iniqüidade” (Naum 1:9). Se pela fé crermos nessa doutrina, poderemos aguardar com esperança o tempo em que andaremos eternamente na luz (Apocalipse 21:24).

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Monólogos acompanhados - Ekklesia

Inaugurando mais um tag no blog, pensamentos esparsos, incompletos e crus que não chegaram a virar reflexões maduras.
--------------------------------------------------
(1)
Você percebe que ninguém sentiu a sua falta.
E isso é triste.
Mas percebe também, e isso sim importa,
que a questão, de fato,
é o quanto você sentiu a falta de Deus.

(2)
Mal comparando, a igreja para mim é como uma prova acadêmica. Se você fez sua lição de casa, se está feliz porque conseguiu exercitar o conteúdo com que teve contato, se aprendeu de fato, vai fazer a prova contente e satisfeito porque sente que não só aproveitou os novos conhecimentos como tem o suficiente para dar. Na Igreja então, em contato com outras pessoas, você vai falar entusiasticamente sobre aquela matéria que você estudou a ponto de gostar dela (não costumamos gostar daquilo que não conhecemos). A ponto de desejar repassá-la de modo que outros possam aproveitar esse conhecimento também.
Se por infelicidade eu esquecer de fazer minhas lições de casa e aparecer na prova só para parecer que estudei ou que sei algo, meu semblante logo denunciará que estou oca. Que tenho medo e vontade de ir embora. E virá a apatia porque não consigo "acompanhar" aquele conteúdo, o isolamento porque não me identifico com aquele ambiente, a amargura porque a prova se tornou um instrumento para me pressionar a dar algo que não tenho.
E ainda que eu me esforce muito para não deixar transparecer isso tudo, e mantenha os olhos em outros objetos durante o tempo da prova (na roupa de um, nos vícios de linguagem de outro), uma hora os olhos do Mestre encontrarão os meus e...

(3)
A diferença entre o mandamento AMEM
e o cumprimento AMÉM
é um acento tônico
inclinado para o palpável
sobre uma vontade aguda de amar.

Recebi de graça - Solução para remédios amargos

Deviam inventar algo análogo para o ser humano, embora nós, ao contrário dos animais, tenhamos aprendido a nos acostumar com tudo, mesmo ao pior dos sabores, se julgamos que isso nos trará um benefício ou evitará um mal.

No texto anterior falamos sobre o quanto suportar com fé certas amarguras desta vida pode ser compensador. Mas explicar isso para os cachorros é mais difícil. Por isso a solução criativa abaixo, que recebi hoje (essa demorou meses!) e já vou repassar para minha irmã porque a minha cadelinha costuma engolir resignadamente seus remédios (melhor até que alguns humanos).
Trata-se de "bolsinhas" de ração para esconder os comprimidos e cápsulas que você tenha que dar para seu cachorro. Nos sabores carne e frango. Clique AQUI e preencha o formulário colocando Brazil e o seu CEP no campo "City", e o restante do endereço nos campos "Address" 1 e 2.

Adveniat - Ressureição

Mais uma reedição de um texto de 2002 (um ano literariamente falando). Esta foi a pedido de Mário Jorge Lima, pois ele achou que o texto tinha a ver com a páscoa. Não era o que tinha em mente quando escrevi mas de fato, o tema remete à reflexão própria do período. É tão fácil - e tão bom - escrever sobre música!
---------------------------------------------------

Uma das mais belas sinfonias de Gustav Mahler é, sem dúvida, a Segunda, denominada "Ressureição". Mahler, músico dado a composições grandiosas, conseguiu dar a essa sinfonia um tamanho descomunal, tanto em se tratando da mensagem como da execução da música. Para ter noção dessa grandeza, junte aí um conjunto enorme de instrumentos de cordas, com mais 70 instrumentos diversos, alguns deles fora do palco, incluindo dois sinos, e um coro de vozes imenso – a idéia era essa!

Os três primeiros movimentos da Segunda Sinfonia são instrumentais, e de acordo com indicação do próprio Mahler, o primeiro deles lança uma pergunta: "Com que finalidade viveu você?", a qual será respondida somente ao fim. A dúvida alterna momentos de uma atmosfera dramática, tensa, com passagens singelas e suaves. Quem já não meditou sobre esse tema alguma vez?

No penúltimo movimento, aparece uma voz doce, um solo de contralto, cantando a "Luz Primordial", onde o tema da dúvida se desenvolve. Mahler deixa ver um ser humano em conflito, que vem de uma vida de sofrimentos e necessidades, querendo se manter no caminho da Luz, mas, sendo constantemente tentado a se desviar dele. Seria tão melhor estar no Céu ao invés de viver as amarguras da vida terrena... é tão cansativo travar essa luta constante contra a carne e contra anjos maus. Sua convicção, porém, não vacila, e repete contrito: "Eu sou de Deus e para Deus devo retornar.”

Essa é a primeira faceta de uma ressurreição que por vezes passa despercebida: a morte do velho homem, e a ressurreição de uma nova criatura em Cristo Jesus . Estar longe do caminho que conduz a Deus é estar, de certo modo, morto, posto que perece qualquer esperança para além desta vida fugaz. Quando nascemos de novo já não nos conformamos em viver aqui só para comer, beber, apaixonar-se e morrer. É para isso, sofrimentos, futilidades e desilusões que vivemos nesta terra? Depois de satisfazer esta carne, o que nos resta? Não. Descobrimos um sentido maior, mais elevado, para o qual caminhamos ainda que em luta constante contra nossa natureza, que teima em se apegar às coisas vãs desta vida. A pergunta permanece suspensa: Qual a razão de estarmos aqui? O lindíssimo solo de contralto, que começou apontando para Cristo, a Rosa de Saron, termina com uma única certeza: Deus iluminará o caminho daqueles que decidirem seguí-lO.

Então começa o último movimento, o mais longo de uma sinfonia até então. Aqui, Mahler explora a força de todos os elementos musicais para expressar as passagens bíblicas que vão da Volta de Jesus à Ressurreição. E o faz com maestria, colocando aquele imenso coral de que falei para cantar uma das mais poéticas visões da Ressurreição através dos versos de Friedich Klopstock. A ressurreição dos justos é representada como está em Apocalipse 14:14-16; a ceifa, onde os que morreram justificados em Cristo ressurgirão, assim como a semente que depois de um curto sono torna à vida no mesmo lugar em que foi semeada, agora em aparência de glória.

E o homem angustiado, chega ao fim de suas dúvidas: “Você não nasceu em vão. Você não viveu e sofreu em vão.” A Ressurreição é a resposta a todos os sofrimentos que foram suportados e vencidos. “Oh, sofrimento todo-poderoso, agora eu escapei de você, Oh, morte sempre vitoriosa, agora você foi vencida!”. De repente tudo parece claro como a própria luz que emana do trono de Deus. Todas as renúncias que foram feitas, todas as dolorosas decisões em favor do bem, todos os pecados a que se resistiu, mesmo que atormentassem a carne, toda fidelidade guardada a Deus a despeito de nossa dor, agora parecem tão pouco. O crente repete a si mesmo em júbilo: “Acredite, meu coração, acredite! Você não perdeu nada! Você receberá tudo que amou e desejou”. Os que amaram os pecados e desejaram só as coisas deste mundo terão aqui seus prazeres e também sua destruição. Mas – não é lindo isso? - os que passaram suas vidas amando e desejando estar junto de Jesus receberão no final a recompensa suprema: o próprio Cristo. “Com as asas que eu ganhei, no ardor do amor, eu voarei para a luz que nenhum olho jamais viu.” E por fim, o próprio Mahler conclui: “A dor que você levou, levará você a Deus.”

Que a contemplação de uma Nova Terra onde veremos Jesus face a face, onde “não haverá nem luto, nem pranto, nem dor”, onde “nunca mais haverá qualquer maldição”, (Apocalipse 21: 4, 22: 3,4), possa nos impressionar uma vez mais no início desta semana. E que a “Luz Primordial” dê força à nossa fé, e sentido a nossa breve existência neste mundo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Acreditar (ou não)

Eu não conhecia, encontrei hoje por acaso. A música se chama "O Adventista", composição do Camisa de Vênus (Marcelo Nova/ Franz Hummel)

"Eu acredito no bem e no mal
Eu acredito no imposto predial
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nos livros da estante
Eu acredito em Flávio Cavalcante
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no seu ponto de vista
Eu acredito no partido trabalhista
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito em toda essa cascata
Eu acredito no beijo do papa
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
eu acredito em quem anda com fé
Eu acredito em Xuxa e em Pelé
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito na escada pro sucesso
Eu acredito na ordem e no progresso
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito que o amor atrai
Eu acredito em mamãe e papai
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito no Cristo que padece
Eu acredito no INPS
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no milagre que não vem
Eu acredito nos homens de bem
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nas boas intenções
Mais este papo ja encheu os meus culhões
Eu não acredito, eu não acredito"

Vi no YouTube o vídeo dessa música com um comentário abaixo que falava de uma entrevista que o Marcelo deu na MTV dizendo que, em certo show (o do vídeo), parou, viu aquele monte de garotos de 16, 17 gritando "Não vai haver amor nessa P. nunca mais" e começou a improvisar um pai nosso.
Esta outra música abaixo eu já conheço de longas datas. Chama-se "Escolhi acreditar". Música de Lineu Soares e letra de Mario Jorge Lima.

"Modernas Teorias, novas formas de pensar
Existem por aí nos meios intelectuais
Que vão do ateísmo mais profundo e radical
Até o humanismo com tinturas sociais
E hoje mesmo a crença tenta se modificar
E quer que o homem seja o fim da sua pregação
Senhor dos seus problemas, dos seus sonhos e ideais
Buscando aqui e agora a total libertação
No entanto eu escolhi acreditar
Que existe um plano para a salvação
E que há um Deus no céu a governar o meu viver
Mas que me dá poder até pra aceitá-lo ou não
O seu reino é liberdade é amor
Espera sem forçar a decisão
Ele é descomplicado, não confunde o pecador
E fala tanto a minha mente como fala ao coração
O ser humano hoje só volta para si
Buscando atender necessidades essenciais
Mas sem levar em conta que há uma vida superior
Que poderá suprir os seus anseios mais reais
E há os que procuram tudo racionalizar
Só crendo no que a ciência e a cultura podem ver
Querendo um milagre pela lógica explicar
Se fecham para as coisas do espírito e da fé
No entanto eu escolhi acreditar
E esperar assim em meu Jesus
Filósofos e mestres nunca irão avaliar
Aquilo que o amor de Deus mostrou na cruz
O meu Deus é poderoso é real
Só nEle eu encontrei enfim perdão
Prefiro depender de sua força sem igual
E quero ter, então, por Ele transformado o coração."

Nem todo ser humano quer o mesmo para si. Embora todos precisem do mesmo.
Impressionante como a crença faz diferença entre essas duas músicas.
Pode fazer diferença na vida da gente também.