quinta-feira, 23 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 40

Texto Bíblico do dia:

Apocalipse 21:5 - "E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas..."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Pela semelhança com o Espírito Criador de Deus, fazer novas também todas as coisas.

Meditando:

O sábado chegou chuvoso. Mas não percebemos. Eu tocava "Deus é tão bom" no teclado e meu marido me acompanhava com a flauta. Na singeleza desse momento estava toda a percepção de nossa existência.

A jornada acabou? A chuva me diz que não. Como no primeiro dia, a chuva continua... a jornada também. E só me dei conta, com clareza, do que isso significa ontem, no meio de uma mais uma crise. Não sei o caminho que Deus usou para chegar ao coração dos seus outros filhos que também estão orando e meditando durante estes quarenta dias. Mas comigo ele usou do estado crítico. Aquele em que todas as cordas do ser parecem estar tensionadas ao máximo, e um toque sequer pode desconcertar todo o sistema.

Amanhã, quando nos encontrarmos todos para partilhar de nossas experiências, ouvirei feliz dos milagres que Deus operou na vida de uns, das soluções felizes aos problemas de outros. E eu hei de me alegrar. Mas ao falar de mim, só poderei dizer que o que Ele me concedeu doeu muito, e doeu através de muitas dores, seguidas, simultâneas, intensas, dores que eu não conhecia, que não queria conhecer. Mas Sua dádiva é provavelmente a maior que Ele poderia conceder a um ser humano: o conhecimento de Deus. Não obtive respostas? Sim, muitas, mas quase nenhuma dizia exatamente o que eu queria ouvir. Conceitos significativos do que é religião e cristianismo foram moldados e polidos junto com meu próprio espírito durante este tempo. E ontem, no meio de mais uma dor profunda, Deus me mostrou como num espelho límpido seu trabalho em mim.

Como somos tolos! Buscamos a Deus por causa de nós mesmos. E vivemos assim também, com tudo apontado para nosso umbigo. Diante da oportunidade de nos aproximarmos mais dEle, começamos a enumerar a possíveis vantagens que isso trará para nós. Poderá resolver nossos problemas emocionais, financeiros, familiares, profissionais, espirituais! Ficaremos fortes, santos, felizes! Não quer Deus nos ver assim? Por certo que sim. Mas não somos OS ÚNICOS a que Ele quer ver assim. A única razão de nos tornarmos fortes, santos e felizes, é viver para tornar aos outros fortes, santos e felizes. E embora haja uma verdade especial a ser revelada a cada filho Seu, essa verdade em particular foi o que Ele cravou em meu peito. "Trago em meu corpo as marcas do Senhor Jesus" (Gálatas 6:17). Estou crucificada com Cristo. Agora sei o que é ser cristão. As marcas que carrego hoje, aquelas que recebi dEle, me dizem que não vivo para nada mais que para servir. O doloroso processo de descoberta já se fez. A aceitação e vivência dessa verdade é a continuação da jornada. O fim, será quando eu puder dizer: "Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim"(Gálatas 2:20).

Hoje, para mim, cristianismo é muito mais que a beleza que lhe queremos dar. Um dia desses descobri que o mito das "pegadas da areia" não condiz com o processo bíblico de santificação, em que precisamos sempre andar com nossas próprias pernas. Outro dia, percebi que vida cristã não é uma espécie de loteria que, um dia, lhe premiará com uma história fantástica de um milagre longamente esperado. Isso pode até acontecer. Mas não é por isso que sou cristã. Hoje, tudo no cristianismo me faz crer que a minha vida é apenas um instrumento, que tudo que vivo apenas me prepara para ser um instrumento melhor, mais preciso. Não há mais o menor espaço para mim! Meus pais, minha faculdade, meu trabalho, meus sonhos, meu casamento, meus filhos, minha religião, tudo funcionam como meio de me ensinar a viver, e não como fim da minha vida! Ademais, se eu viver apenas para mim, o cristianismo que professo nunca me possibilitará ser totalmente feliz neste mundo, onde milhões de infelizes jazem ao meu redor! Enquanto cristã eu nunca poderei me conformar com isso e fazer de conta que está tudo bem com minha vidinha egoísta! Mas se eu me ocupar do outro, terei um sentido e uma satisfação de verdade: levar essas pessoas para um mundo melhor. O fato de eu ir junto é mero detalhe, quero apenas mostrar o caminho, e em conseqüência também chegarei lá.

Cristianismo também é ir de encontro à lógica humana.Vencer não é sempre se dar bem. Vencer, às vezes, pode ser aprender a sofrer. Sofrer por sua própria causa e por causa do outro. É ver nesse sofrimento também um sentido. A graça de Deus se mostra em algumas historinhas que contamos para as crianças, dizendo das pessoas que receberam coisas maravilhosas de Deus e viveram de maneira tranqüila e pacífica para sempre. Mas o cristianismo, o cristianismo para mim se revela nos milhares de mártires - santos, irrepreensíveis, cheios de fé, que foram além do limite do sofrimento e deram as próprias vidas em nome do sentido que encontraram em Deus. E quanto ao que diz a Bíblia? "Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias." (Salmo 34:17). Como somos tolos! O Senhor o ouve e o livra porque a angústia do justo nunca está voltada para si mesmo. Se tem a certeza que cumpriu a vontade de Deus nesse mundo, o justo não tem motivo de angústia. Nesse sentido, mesmo a morte pode ser uma resposta aceita com felicidade e alegria. "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Filipenses 1:21). E se a morte pode ser aceita assim, o silêncio de Deus também pode. Sem nenhuma decepção, sem nenhuma mágoa. Pois o silêncio dEle, agora, me ensina a morrer um pouco mais, para deixá-lO viver em mim.

O resultado mais significativo dessa jornada de quarenta dias é que agora está bem claro para mim o que Deus quer para minha vida. Aceitar isso e praticar é um longo caminho... mas eu quero muito caminhar. Sei que terei de abandonar algumas das coisas que quero, adiar outras, voltar todas para um fim que vise aos seres que me cercam, e não a mim. Mas agora que consigo entender isso, não tenho medo.Sinceramente me sinto cansada, fraca, pequena demais, e alguma dor ainda reverbera... e não foi assim com Noé depois dos 40 dias na arca? Quantos dias mais até ver o arco da aliança? Não foi assim com Moisés ao voltar do Sinai depois dos 40 dias, com um povo idólatra e ímpio lhe esperando quando ele estava cheio de sonhos? Não foi assim com os espias, quando, por sua fé provada durante 40 dias, quiseram lhes matar? Não foi assim com Elias quando depois de 40 dias teve que voltar para o maior e mais atemorizante desafio de sua vida? Não foi assim com Jonas quando enfrentou o próprio orgulho depois dos 40 dias que pregou que Nínive seria destruída, e Deus não a destruiu? Não foi assim com o próprio Cristo, depois dos 40 dias no deserto, quando foi duramente tentado e tão duramente que anjos tiveram de vir em seu socorro? Não foi assim com os discípulos, que depois dos 40 dias que antecederam a ressurreição, saíram para pregar e caminhar para o martírio?

Como somos tolos! Deus transformou a vida deles todos depois de 40 dias, mas não porque tenha tirado todos os problemas de suas vidas! Pelo contrário! Os problemas às vezes até aumentaram! A grande transformação ocorreu porque Deus os encheu de poder!E eu quero esse poder. Mas não o receberei enquanto não estiver disposta a aceitar também a missão que Ele tem para mim. Como somos tolos! Mas toda a dor que senti para conseguir ter em meu próprio corpo as marcas do Senhor Jesus, me provaram que mesmo tolos, somos instrumentos indispensáveis para o cumprimento do plano de Deus na história da salvação da humanidade. E nisso está o amor.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 39 (Misa Criolla)

Texto Bíblico do dia:

Salmo 34: 17 - 19 - "Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias. Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito. Muitas são as aflições do justo, mas de todas elas o Senhor o livra."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Descobrir o programa de Deus para a minha vida hoje (posso me dar um dia todo para descobrir isso).

Meditando:

Deus escolhe muitos meios para se revelar a nós. Não precisa ser o meio que esperamos. Não tem que ser no tempo que queremos. Mas o melhor é que às vezes Ele também se revela da forma que nos dá mais prazer. Hoje Ele me veio através do Glória da Misa Criola*, uma obra sacra do argentino Ariel Ramírez. Gosto dessa obra porque ela foi beber no sentimento do povo, suas melodias e ritmos sugerem a fé pura e simples de uma grande massa sul-americana sedenta de Deus e Sua justiça, satisfeita em dar-lhe graças. Obras assim, especialmente as que têm como referência outras culturas, são um grande exercício de sensibilidade - tanto musical como espiritual - e eu amo isso.

Das versões que ouvi da Missa Crioula, especialmente do Glória (uma parte da obra), a que mais me chamou atenção foi justamente a versão mais popular, aquela que foi difundida na voz de Mercedes Sosa. E não apenas sua voz poderosa me cativa, como a interpretação geral do coro e solista. É muito interessante perceber o acentuado contraste entre os dois andamentos que compõem a música. O primeiro, "carnavalito"**, é um andante festivo, cheio de cores, luzes, efervescente, e a voz de Mercedes tem algo de visceral a que o coro dá uma força imensa. A variação de intensidade tem uma única direção, que sugere a apoteose de todos os sentidos.

Mas é quando temos essa nítida impressão que entra o segundo movimento. Um largo, "Yaravi"***, que nessa versão em particular não tem o menor pudor de "estragar a festa". De repente, bruscamente, todos os sentidos, outrora exaltados, têm de se render a pianíssimos murmurados pelo coro e entrecortados apenas pela voz agora quase lúgubre da cantora. Comigo, particularmente, isso não acontece sem alguma dificuldade. Para onde foram todas as cores? Para onde foi a luz? A base harmônica, o "chão" de quem escuta a música, torna-se uma amplidão fria e trêmula que, embora plana, nos envolve ainda mais intensamente, justo agora que nosso espírito está quieto e contemplativo, com algo oprimindo ou comprimindo o peito, não sei ao certo... acho que escolheria o termo "comprimindo", porque o que pesa sobre o coração nesse momento é o peso do próprio ser. No entanto, nesta reflexão há paz.

"Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai,
Tu que tiras os pecados do mundo
Tem piedade de nós"



Depois de termos reconhecido a Deus e a nós mesmos nesse lugar, volta, também súbito, o "carnavalito". Voltam as cores, a efervescência, a força, o ritmo que por si só nos move em meio a festa dos sentidos. Mas agora compreendemos: isso tudo é uma ilusão. O que há no fundo de tudo isso, o que se esconde atrás dos sons fortes é o que realmente existe e perdura; um lugar onde a grandiosidade nos sufoca. Onde a leveza nos esmaga. Por trás do nosso mundo existe Deus. E a Ele deve ser dada toda a Glória. Tudo que encobre essa constatação é um breve torpor. Os começos, fins, recomeços, pausas, ciclos, tempos, perdem sua razão de ser quando o que é Eterno nos convida. É no encontro com Deus que descobrimos o que, de fato, é viver.



*Para ouvir a Misa Criolla (Windows Media ou Real Player), clicar AQUI

** carnavalito - se considera como la máxima expresión de alegría de un pueblo acostumbrado a la vida dura y escueta, y ha de ejecutarse alegre e inocentemente como si jugaran felices todos.

*** El Yaraví es "la canción más triste del mundo", en opinión de muchos conocedores que la oyeron en lo alto de los Andes sudamericanos.

terça-feira, 21 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 38

Texto Bíblico do dia:

I Crônicas 29: 17 - 19 - "E bem sei, Deus meu, que tu sondas o coração, e que te agradas da retidão. Na sinceridade de meu coração voluntariamente ofereci todas estas coisas; e agora vi com alegria que o teu povo, que se acha aqui, ofereceu voluntariamente. O Senhor, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e estes pensamentos, e encaminha o seu coração para ti. E a Salomão, meu filho, dá um coração perfeito, para guardar os teus mandamentos, os teus testemunhos e os teus estatuto, e para fazer todas estas coisas, e para edificar o palácio para o qual tenha providenciado."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Ser um lugar onde a glória de Deus possa habitar.

Meditando:

As palavras do texto bíblico acima foram ditas em oração por Davi pouco antes do relato de sua morte. Sua maior preocupação então parecia ser que a posteridade continuasse a obra do Templo começada por ele, o que não foi pouca coisa e mobilizou todo o povo de Israel. A vida inteira de Davi foi marcada por grandes vitórias e magníficas atuações divinas. No entanto, nessa última oração pública percebemos um Davi humilde, se sentindo pequeno, indigno, frágil, reconhecendo que tudo que fizera não fora obra sua, mas concessão de Deus. Nenhuma menção ao seu passado de glórias, nenhuma exaltação ao belo planejamento do Templo que executara, Davi, com uma serenidade perturbadora, assume a pobre postura de servo que procura o que ainda falta fazer a seu Senhor. No entanto a Bíblia nunca o projeta de forma tão grande perante o povo - e perante Deus - como naquele momento. Nem ao vencer Golias, nem ao derrotar Saul, nem ao vencer os muitos exércitos inimigos, Davi não me parece tão altivo como naquele momento de oração humilde perante Israel. Não vejo apenas um Davi rei, mas um Davi amadurecido, pronto para descansar no seio de Deus.

"Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos. Tanto riquezas como honra vêm de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo." (versos 11 e 12). Davi sabia que se seu filho Salomão não guardasse a Deus em seu coração, a obra do Templo não seria concluída com sucesso. E que se o povo não permanecesse fiel, de nada adiantaria tanto esforço para adorar ao Deus Eterno. A obra do Templo não era obra para ser concluída em uma ou duas gerações, mas perpetuada através do tempo até a Eternidade. É por isso que, do alto de sua sabedoria, Davi não olhou para o passado, mas para o futuro, não se preocupou em contar as vitórias da sua juventude, mas em impressionar o coração dos novos jovens.

Há nessa atitude uma mensagem muito especial para nosso cristianismo hoje. Quando nos propusemos a ser novos homens e mulheres, renascidos através do Espírito de Deus, também nos propusemos a andar em novidade de vida. Mas a história de um cristão é marcada por "altos e baixos", momentos de fé zelosa e momentos de pecados escabrosos. Quando nossa fé está em baixa tendemos a olhar para trás com saudosismo e dizer: "Bons mesmo eram os velhos tempos...". O primeiro erro que cometemos com essa postura é ignorar as dificuldades e pecados do passado. Depois, limitamos nossa capacidade de crescer, tomando como parâmetro o que fomos e não o que podemos vir ser. "Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho; do contrário, não somente rasgará o novo, mas também o pedaço do novo não condirá com o velho" Lucas 5: 36.

Aqui no meu computador tenho algumas pastas com mp3 que me fazem reencontrar com a velha Luciana sempre que quero. Outro dia, por exemplo, não porque cargas d´água me peguei escutando Cássia Eller. E como é normal acontecer com músicas, fui levada a me lembrar de um período específico da minha vida. Eu estava alegre, descobrindo novas facetas do mundo e de mim mesma, empolgada com a literatura e com as artes, e apaixonada. Suspirei sorrindo. Mas acabei me lembrando que nessa época também enfrentei uma grande crise espiritual, conflitos com pessoas da igreja, desânimo na fé... resolvi escutar um mp3 da pasta gospel: Sandi Patty. Ah, que maravilha! Lembrei que na época em que comecei a escutar aquela música, estava toda feliz descobrindo que podia fazer versões para músicas, e as pessoas elogiavam o que eu escrevia, e eu estava engajada na igreja como nunca antes nas atividades eclesiásticas... suspirei sorrindo. Mas lembrei que também nessa época me sentia constantemente sozinha, sem amigos, sem ninguém para amar e enfrentava uma crise no meu relacionamento familiar. Suspirei mais uma vez: o que há mesmo de tão mágico no encontro com o velho homem?

Há coisas boas e ruins para lembrar no velho homem. Mas antes de suspirar com "saudades das panelas de carne do Egito", antes de dizer que bom mesma era antigamente, antes de eleger o passado como padrão para aquilo que gostaríamos de tornar a ser, lembremo-nos que Deus quer trabalhar num novo homem. O que passou é experiência, são os tijolos que foram postos um sobre o outro a fim de construir, lenta e estrategicamente, a base sobre a qual o Espírito quer atuar hoje. E nesse sentido o saudosismo não ajuda. Biblicamente, olhar para trás nunca é uma boa idéia, e quando a mulher de Ló o fez não creio que estivesse lembrando apenas de coisas ruins... Coisas ruins? Depois que Cristo nos perdoou não temos mais o direito de nos demorar nelas. Coisas boas? Nada fizemos, tudo foi Deus quem nos concedeu a seu tempo. E "há tempo para todo propósito embaixo do Céu" (Eclesiastes 3:1).

O apóstolo aconselha: "Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento..." (I Cor. 5:7). O fermento que nos infla de culpa ou de orgulho não ajuda em nada. Para que Deus conclua em mim a obra que um dia começou, vou "esquecendo-me das coisas que atrás ficam", sejam elas boas ou más, tomando-as apenas como degraus, "e avançando para as que estão adiante", pois Deus tem um plano tão único para mim, como eu mesma sou única, como único é este segundo de existência. A minha história não deve ser a repetição ou negação de atos passados, mas a construção de um futuro ímpar. Isso também significa livrar-se da auto-suficiência, que quer indicar a Deus o que é certo e o que é errado com base na nossa paupérrima experiência humana. Os modelos divinos, sejam aqueles que identificamos na nossa vida, sejam aqueles que identificamos na vida dos santos, são como modelos artísticos, que não são copiados, mas interpretados e, assim, tornados únicos. É daí que nasce a beleza da perfeição. É assim que nós crescemos diante de Deus.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 37

Texto Bíblico do dia:

Provérbios 22:17 - 19 - "Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, e aplica o teu coração ao meu conhecimento. Porque será coisa suave, se os guardares no teu peito, se estiverem todos eles prontos nos teus lábios. Para que a tua confiança esteja no senhor, a ti tos fiz saber hoje, sim, a ti mesmo."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Gastar meu tempo, energia e preocupação, prioritariamente, naquilo que tem a ver com a Eternidade.

Meditando:

O melhor amigo do meu marido na cozinha é o liquidificador. Como ele não gosta de melecar as mãos, detesta literalmente "botar a mão na massa", e não tem muita paciência em juntar ingredientes, prefere colocar tudo no liquidificador e resolver rapidinho todas as questões culinárias. Dessa forma ele faz gostosos bolos, assados, purês, molhos, e qualquer coisa que se possa ser triturada e esmagada durante o preparo. Uma das minhas maiores dificuldades é fazê-lo entender que não deve usar o liquidificar para cortar as cebolas do molho. "Mas como não? Fica tudo bem trituradinho, é bem mais prático do que ficar com as mãos cheirando mal!". Então eu tento argumentar que parece prático, mas cebola passada no liquidificador não fica como mesmo gosto de cebola cortada em pequenos cubinhos. É como o alho triturado que vendem em potinho no supermercado, que nunca tem o mesmo gosto do alho amassado no pilão da vovó. Aí é que a confusão aumenta. Para ele, como esse argumento não tem lógica, é insustentável (se eu tivesse estudado mais química talvez pudesse até argumentar melhor). A única forma de eu tentar convencê-lo é fazer parte da comida com cebola picada e parte com cebola passada no liquidificador, fazendo-o comprar o resultado final, que de fato é bem diferente.

Infelizmente existem coisas bem mais difíceis de entender que a influência do corte da cebola na culinária caseira. Durante nossa vida nos deparamos com dúvidas que simplesmente não têm respostas. Há quem arrisque a nos mostrar argumentos que no entanto, não nos convencem, não parecem fazer sentido. Não creio que seja necessário fazer listas dessas dúvidas, mas só preciso citar questões como o sofrimento, a morte, os acidentes, as doenças letais, para despertar algumas delas. Sendo menos trágica, poderia citar também o desemprego, a solidão, a injustiça, a pobreza, e mais questões surgiriam sem respostas. O problema não é tanto uma abordagem sociológica e econômica, às vezes não se trata nem mesmo de sabermos o porquê de tudo isso, mas para quê tudo isso? Essa pergunta só é útil quando tem uma resposta. E por mais que tentemos não pensar nela, ocupando-nos de coisas mais práticas, sempre haverá o momento terrível em que nos chocaremos de novo com o inevitável "para quê"?

Há pessoas muito inteligentes que vivem de estudar os "porquês" e "para quês" da vida, mesmo que não estejam necessariamente a busca de uma resposta. Elas fazem melhor que as pessoas que preferem não pensar sobre o assunto. Mas as pessoas mais privilegiadas são, com certeza, os cristãos, que receberam a resposta mais completa e concreta de todo o universo: o próprio Jesus Cristo. É nEle que são respondidas todas as minhas dúvidas, receios, medos, questionamentos. Porém sua resposta não satisfaz a mentes cartesianas. Ela é, sobretudo, uma resposta de fé: "Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (João 14:6).

Se acha que isso não passa de retórica, pense na vida de Cristo. Ele não disse porque coisas ruins acontecem, mas passou por coisas ruins. Ele não explicou a finalidade das injustiças, mas foi injustiçado. Ele não disse porque as famílias se desentendem, mas foi rechaçado na sua própria família. Ele não disse porque Deus permite a pobreza, mas foi pobre. Ele não falou por que uns, e não outros, adoecem e morrem, mas chorou diante da morte de um amigo. Nos fatos cotidianos não encontramos respostas, mas em Cristo encontramos o Caminho, a Verdade a Vida. E isso pode ser a resposta mais útil de todas, a resposta que traz a paz, "Porque será coisa suave, se a guardares no teu peito". Se Cristo, sendo Deus, sofreu e conheceu a dor tanto quanto eu, Ele sabe como me sinto, eu sei que nossa dor não é vã; ela tem uma finalidade e um dia terá fim. Desenvolvendo esse tipo de confiança, eu passo a crer na Sua promessa de que um dia este mundo será restaurado, e canalizar minhas energias para essa esperança passa a ter um sentido que as dúvidas e os questionamentos são incapazes de me prover.

É claro que gostaríamos de respostas mais específicas. De um Deus mais visível, que aparecesse no meio de uma tempestade e mostrasse que há um Deus poderoso sobre nossas cabeças. A resposta que Cristo oferece pode não satisfazer (como não satisfez na época em que aqui viveu), porque vem revestida da nossa humanidade, da fragilidade de nossa carne e nervos. Mas a melhor resposta que Deus poderia nos dar, ainda é Deus-Conosco.

domingo, 19 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 36

Texto Bíblico do dia:

Amós 9: 13 - 15 - "Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que o que lavra alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas ao que lança a semente; os montes destilarão mosto, e todos os outeiros se derreterão. Também trarei do cativeiro o meu povo Israel; e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão; plantarão vinhas, e beberão o seu vinho; e farão pomares, e lhes comerão o fruto. Assim os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o senhor teu Deus."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Compreender que bênção há na minha fome e sede de justiça.

Meditando:

Na minha infância eu, como muitas outras crianças, reverenciava os heróis invencíveis, aqueles cujos super poderes eram capazes de vencer qualquer espécie de mal e salvar a Terra (ou pelo menos os EUA) todos os dias. Na infância da humanidade também foi assim. Durante muito tempo o homem forjou heróis que eram aplaudidos e reverenciados enquanto venciam. Herói era aquele que se destacava por nunca ser derrotado. Fazer o bem ou não era apenas um detalhe, herói era aquele que provocava temor e tremor, aquele que botava medo só com a presença, aquele ser acima da ira e da fraqueza dos meros mortais. Por outro lado, a vítima era um coitado, que só servia para jogar mais luz sobre a figura do herói.

Mas uma concepção como essa não tem sustentação em si mesma, porque os heróis humanos estão irrecorrivelmente fadados ao fracasso. Eles envelhecem e morrem, não obstante sua história de sucessos. Hoje, o que resta dessa concepção são os super-heróis infantis, que só existem na fantasia, num mundo ideal que não é o nosso. A humanidade cresceu, seus problemas também, e a figura do herói humano teve de se adaptar ao reconhecimento de nossas limitações. Herói, portanto, é hoje aquele que resiste, aquele que representa algo significativo, alcançado por várias vitórias, uma vitória apenas, ou também por derrotas. Assim, aplaudimos heróis mutilados que lutaram pelo país, heróis in memoriam que morreram em batalhas pela liberdade, heróis pobres e magros que jamais ergueram uma arma para lutar mas arregimentaram multidões pela paz, heróis com AIDS que enquanto definham ensinam a matar a fome dos outros, heróis de cabelos brancos, baixa estatura e encurvados pela idade que defendem a causa dos pobres, heróis perseguidos por fazer o bem, e tantos outros heróis-vítimas que reconhecemos com medalhas, memoriais, estátuas e prêmios nobeis.

Há, nessa mudança de concepção, um componente divino que nem sempre é reconhecido, e muitas vezes é até rejeitado pelos mais ardentes defensores da causa dos heróis-vítimas. Aquilo que o filósofo francês René Girard chamou de "a revolução histórica mais arrebatadora do mundo, a saber: o surgimento de uma empatia pelas vítimas." Quando Cristo, que como Deus tinha tudo para aparecer no mundo em glória e resplendor, preferiu encarnar como menino pobre, fugitivo, marginalizado por causa da sua origem, e no meio de um povo oprimido, Ele inaugurou uma nova maneira de ver a humanidade. E viveu de modo a ratificar sua preferência pelos pobres, doentes, fracos, cansados e oprimidos, pecadores. Os fortes da época - principalmente os religiosos - foram muitas vezes censurados por Ele. Segundo a antiga concepção de heroísmo, quando Cristo morreu, deveria ser esquecido, como apenas mais uma vítima do sistema poderoso que o cercava. Mas não foi isso que aconteceu. O poder que matou Cristo não foi reverenciado, mas desmascarado e rejeitado em favor da vítima, que ressurgiu como herói. O "Homem de dores", humilhado, foi exaltado. A violência que tantas vezes é usada no meio religioso como forma de impor a aceitação, não funcionou com o cristianismo, que começou a se expandir mais e mais, passando não só pelos romanos mas por vários outros oponentes até chegar aos nosso dias.

Por isso, hoje, quando ouvimos as vozes de multidões defendendo as minorias, clamando por justiça social, se mobilizando pelas nações de terceiro mundo, se movimentando pela beneficência do mais fraco, estamos apenas ouvindo o eco de Cristo na cruz, onde, segundo Philip Yancey, "Deus ficou ao lado da vítima". Ainda que Deus não seja tomado como referência por muitos que defendem os direitos humanos, foi da atitude dEle que partiu a base das suas reivindicações. Por isso acredito que é dEle que devemos partir se quisermos fazer o bem para as pessoas e trabalhar por um mundo melhor.

A Bíblia é a prova inequívoca de que Deus sempre se importou com o mais fraco. Quando analisamos a vida dos heróis da fé, percebemos que eles não foram os homens inexoráveis, perfeitos e poderosos que alguns tentam compor para saciar nossa imaginação infantil. Eles foram pessoas sujeitas a fraquezas, erros grotescos, grandes provações, tristezas profundas, e quando o apóstolo Paulo os mencionou da galeria dos heróis da fé de Hebreus 11 fez questão de expor sua condição de vítima (versos 37 e 38). A partir disso compreendo que eu mesma, com todas as minhas limitações também posso ser uma heroína. E que Deus, tanto quanto eu, também tem uma enorme sede e fome de justiça. Esse sentimento corre no sangue de todos que fazem parte da família de Deus, e escorreu na cruz como testemunho de que nosso anseio não é em vão. No texto bíblico de Amós temos mais que uma promessa, temos uma aspiração de Deus, que eu a imagino dita entre suspiros, com o olhar brilhando, com ansiedade. A causa dos sofredores, dos fracos, dos oprimidos, dos famintos, dos perseguidos, dos humilhados, dos discriminados, dos rejeitados, dos injustiçados, dos que choram é a causa dEle. E esses são, desde sempre, os heróis de Deus.

sábado, 18 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 35

Texto Bíblico do dia:

II Coríntios 13: 5 - 7 - "Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. Mas espero que entendereis que nós não somos reprovados. Ora, rogamos a Deus que não façais mal algum, não para que nós pareçamos aprovados, mas que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Colher motivos para ser grata.

Meditando:

Na faculdade em que estudo não tem agência bancária. A mais próxima fica na reitoria, que é fora do campus, afastada de todos os centros. Hoje precisei ir ao banco e, como não havia mesmo outra maneira, fui a pé. Nunca tinha feito isso porque o caminho me parecia muito grande. De modo que, se precisava de um serviço bancário, deixava para o outro dia ou ia em uma agência próxima a minha casa. O que eu não podia fazer naquele momento... o jeito foi colocar o pé na estrada a contragosto e ir em frente.

Mas é assim, a contragosto, andando por caminhos desconhecidos, que nos colocamos a prova e descobrimos as coisas mais interessantes sobre nós mesmos e sobre a vida. Se não colocamos nosso conhecimento, nossos limites, nossa força a prova, não crescemos. E, no plano espiritual, não conhecemos a Deus. Pois se não sabemos do que somos incapazes, não saberemos do que Deus é capaz. Na prova, aquilo nos desestrutura e desafia, construímos nossa identidade: "Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?"

No caminho até a agência bancária descobri algo interessante sobre a minha faculdade: ela é muito bonita! Me vi no meio de trilhas arborizadas, ladeadas por riachos, lagos, flores, canteiros primorosamente esculpidos, pássaros simpáticos, cores alegres, tudo encimado por um céu que se comprazia em combinar com a paisagem. A imagem da agência bancária chegou antes do que eu esperava. Na verdade eu não me importaria que o caminho até lá fosse um pouco mais longo... a beleza acabou com minha pressa.

Acredito que a vida também pode ser assim: um caminho longo, mas belo. Depende de em que você vai fixar os olhos. Se olhar para os próprios pés pensando na distância até seus objetivos, o caminho se tornará bem penoso. Se, no entanto, se permitir olhar ao redor, colhendo motivos para ser grato a Deus, o caminho se tornará um,a fonte de bênçãos. Sempre há algo pelo que agradecer, nem que seja o próprio caminhar. Mesmo nos trechos onde não se consegue ver tantas coisa belas assim, o som dos passos pode criar música. Mas Deus nunca deixará que um cristão aberto ao que é bom chegue ao fim da jornada de alma vazia. Portanto, não meça distâncias, não tema o desconhecido, prove a si mesmo e descubra as bênçãos que estão a sua espreita no caminho.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 34

Texto Bíblico do dia:

Juízes 21: 25 - "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar Deus teimar mais um pouquinho.

Meditando:

Acredito que palavras também têm sotaque, e aqueles que gostam muito de ler vão me entender. As palavras, mesmo escritas, guardam um ritmo, uma cadência, uma essência que denunciam seu autor, ainda que ele use diferentes pseudônimos. Há uma maneira de escolher e arrumar as palavras em cada pessoa, que não pode ser imitada por mais ninguém. Percebi isso mais fortemente em certa época, quando eu e um amigo tivemos um desentendimento e ficamos sem nos falar. Como gostávamos muito um do outro, mas éramos ambos muito orgulhosos, nos comunicávamos por mensagens indiretas. E quando eu sumi de vez, ele achou um jeito de se comunicar comigo usando um pseudônimo. Dessa forma ele sabia como estava a minha vida sem dar o braço a torcer. Eu desconfiei logo da verdadeira identidade dele por causa do "sotaque" em suas palavras. E olha que ele fazia um esforço muito grande para disfarçá-lo! Mandava textos que não tinham nada a ver com seus gostos reais, forjava certas expressões esquisitas, inventava características para seu "personagem", mas ainda assim eu conseguia perceber nitidamente que era ele pela forma como escrevia, apesar de não ter uma prova concreta. Depois de algum tempo, quando fizemos as pazes, ele acabou me confessando que era mesmo ele o curioso correspondente, e eu confessei que, sabendo disso, sempre dava um jeitinho de escrever coisas para o correspondente, que na verdade gostaria de dizer para ele...

Falo disso depois de ler algumas passagens do Antigo Testamento. O que mais me impressiona aí é a presença constante de Deus mesmo nos piores momentos, teimando em acreditar no Seu povo mesmo quando o povo não acreditava mais nEle.Consigo ver o amor de Deus tão forte no Antigo como no Novo Testamento, só que com um "sotaque" diferente a cada livro. Não poderia ser diferente, pois Deus usou diferentes homens para comunicar Suas palavras. Mas por trás desses homens é possível identificar um modo de escolher e arrumar as coisas que pertencem a uma mesma essência de amor.

Para que esta meditação signifique alguma coisa para você, é necessário que você já tenha lido os livros de Reis e Crônicas na Bíblia. Que já tenha se espantado com essas páginas cheias de histórias tristes, de traição, sangue, vingança. Que tenha se indagado, como o Cristo do Novo Testamento pode ter algo com o Deus da guerra - o Senhor dos Exércitos - do Antigo Testamento. Para que você compreenda o que tenho a dizer, é preciso que que tenha sido tocado pela história de altos e baixos do povo israelita, e se indignado com as más escolhas deles, com as muitas vezes que abandonaram um Deus que lhes falava tão de perto.

O texto bíblico de hoje fala de um povo que conhecia exatamente o significado das palavras escravidão e liberdade. Depois de muitos anos cativos, eles foram libertos por Deus e chamados para viver aqui na Terra como referencial, como nação eleita, separada, santa portanto, para ser apontada como exemplo entre as nações. Por isso Deus lhes deu a mais perfeita forma de governo: a teocracia. A mesma sob a qual viveremos quando esta Terra for restaurada. No plano perfeito de Deus, o povo só teria que seguir os Seus preceitos, fazer Sua vontade, que estava totalmente voltada para o benefício do próprio povo, e ser inteiramente livre do imperfeito domínio humano, que por mais bem intencionado que seja, redunda sempre em fracasso. Israel viveu assim por muito tempo. Mas chegou um momento que o fato de não ter um Rei concreto para lhes dizer o que fazer começou a fazer diferença. E ao invés de se orgulharem de ser uma nação diferente de todas as demais, eles começaram a se sentir incomodados por isso. A teocracia parecia não mais atender a suas necessidades. E o verso bíblico de hoje explica o porquê: eles deixaram de fazer a vontade de Deus, para fazer sua própria vontade. Deixaram de escolher o que era certo perante Deus, para escolher o que era certo diante de seus olhos e dos olhos das nações vizinhas.

Então Israel, um povo que era o mais livre da face da Terra, dirigiu-se ao profeta Samuel para pedir: "Queremos alguém que nos governe". Ora, eles não tinham a Deus? Certamente, mas Deus não vivia num palácio ostensivo, não montava à cavalo nas guerras, não se vestia de ouro para desfilar diante dos outros povos para provar quão rico era seu poderio. Mais que isso, Deus não baseava seu governo na opressão, queria apenas a lealdade, não a servidão. Mas aquele povo, que esquecera rápido do seu tempo de escravidão, clamou pela escravidão. E exigiu um rei. Essa foi a saída que eles encontraram para consertar as coisas, que não estava bem. A falha não estava na teocracia, nem em Deus, mas neles mesmos! A própria injustiça e fraqueza humana, no entanto, foi usada como pretexto para "ser como as outras nações". Acaso eram as outras nações modelos a serem seguidos? Certamente não. Todas elas passaram, mas o Rei Eterno vive. O olhar do povo, no entanto, não enxergava até aqui, mas se concentrava no seu mundinho pequeno e imediato.

Deus tinha motivos de sobra para estar magoado. Ele diz em I Samuel 8: 7: "Atende a voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para que eu não reine sobre ele." Depois de muito teimar, Deus deixou que o povo tomasse suas próprias decisões. Ele passou anos argumentando, tentando fazer aquele povo entender seus desígnios e lhes guiar pelos melhores caminhos. Num último momento ainda teimou, mostrando-lhes o que um rei humano poderia fazer de mal com eles e seus filhos (II Samuel 8: 11 - 18). Mas diante da resistência também teimosa dos israelitas, deixou que seguissem seu caminho, pois Ele ainda era o Deus da liberdade e do respeito. Se prosseguirmos com a história veremos que, mesmo ferido e rejeitado, Deus os abençoou (isso não lembra Cristo?). Escolheu o melhor homem para ser o monarca: bonito, inteligente, capaz. E ungiu esse homem para que ele fizesse o melhor por Israel.

No entanto a conseqüência a longo prazo da monarquia foram as histórias tristes, pérfidas e sangrentas que se seguem. Analisando desse ponto de vista, percebemos que tais histórias não eram plano de Deus para seu povo, mas conseqüência da teimosia desse povo. Hoje, quando vemos inocentes morrendo e sendo injustiçados, ainda nos perguntamos, muitas vezes, por que Deus deixou as coisas chegarem a esse ponto. A questão, na verdade, é que mesmo os inocentes pagam as conseqüências das escolhas teimosas e más que o próprio ser humano vem tomando ao longo da história. E isso só terá fim quando o plano de resgate de Deus for totalmente cumprido, e Seu domínio estabelecido onde hoje o pecado reina e perverte. Até que isso aconteça uma coisa está bem certa em minha mente: é melhor deixar Deus teimar na Sua vontade para minha vida do que lhe impor minha teimosia míope.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 33

Texto Bíblico do dia:

João 7: 37 - 39 - "Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

O que flui de dentro de mim é o que influi. O que está jorrando de dentro de mim?

Meditando:

Depois de casada descobri prazer em algo que, quando solteira eu detestava: limpar a casa. Nunca fui muito dada a atividades "do lar", e isso era motivo de constantes conflitos com minha mãe e minhas irmãs, que viviam reclamando da minha falta de interesse em ajudá-las. Bem, eu até queria... mas quando começava a limpar uma estante, pegava um livro e começava a ler, esquecendo da poeira. Quando ía lavar a louça me vinha alguma idéia para um texto e eu trocava a esponja pelo computador. E foi assim até o dia em que me vi dentro de minha própria casa. Minha mãe e minhas irmãs não podiam me ajudar, e eu tinha que me virar com meu marido para a casa continuar ao menos habitável. Ainda detesto lavar a louça, mas em sextas-feiras como hoje, depois de horas exaustivas varrendo, espanando, lavando e chamando a atenção de meu marido para ele não colocar a poeira embaixo no tapete, eu consigo encontrar um grande prazer no meu cansaço: o prazer da tarefa cumprida, de um ambiente agradável construído com minhas próprias mãos. Se eu pagasse alguém para fazê-lo, talvez não tivesse o mesmo gostinho. Depois da faxina semanal na sexta-feira, sempre paro por alguns minutos e contemplo minha obra com ares superiores: "Viu Luciana tudo quanto fizera, e eis que era muito bom... e havendo Luciana terminado a sua obra, descansou no sétimo dia."

Nunca pensei que diria isso, mas limpar a minha casa proporciona uma grande alegria! Ao menos depois de limpá-la. É maravilhoso passar pelos cômodos e ver tudo arrumadinho, limpo, cheirando a desinfetante, brilhando. O ruim é que essa sensação não dura muito. Depois da faxina, vem a hora de fazer o almoço do sábado e aí a cozinha (a mais trabalhosa de limpar) já não está tão admirável . Uma panela aqui, molho de tomate ali, alguns potes sobre a pia, umas gotas de azeite no chão e lá se foi minha grande obra... Depois de preparar o almoço chega a hora de culto do pôr-do-sol: uma bíblia em cima do sofá, um hinário na mesa, uma gata persa soltando pelos em cima do tapete... a sala já se desarrumou. Vamos escutar música: CDs se espalhados sobre a estante, caixas de DVDs no sofá, uma gata persa soltando pelos em cima da poltrona... a sala de TV também já era. E assim acontece com cada cômodo, de modo que antes que amanheça minha casa perdeu sua aparência de cenário de novela.

Eu poderia me preocupar mais em arrumar tudo imediatamente após bagunçar (isso também era grande causa de conflito com minha mãe), fazer um esforço tremendo para não sujar, não bagunçar, e mandar tosar as nossas gatinhas (ou passar gel nos pelos delas, como meu marido sugeriu). Poderia brigar mais com meu marido para ele também manter tudo limpo e arrumado, e desenvolver uma neurose que prolongasse mais a minha sensação de prazer em ver tudo no lugar. Mas sabe, uma hora as coisas iam sair do lugar, e eu não conseguiria controlar a quantidade de poeira no ar ou as correntes de vento que entram pela janela, não poderia evitar incidentes como deixar o azeite cair no chão, ou brigar com cada visita que não limpasse os sapatos antes de entrar ou derramasse refrigerante no sofá da sala (como aconteceu outro dia). Apesar dos meus ares superiores perante a casa limpa, eu não sou Deus, e não consigo controlar tudo conforme minha vontade. Se o próprio Deus não força nossas escolhas, como eu poderia querer forçar o mundo a se comportar de modo a só me proporcionar prazer e alegria?

Por isso, antes de dormir, na sexta-feira, procuro não listar mais as coisas que já foram sujas ou desarrumadas, mas me concentro no fato de que Deus ainda me dá forças para limpá-las e arrumá-las depois. Não posso manter tudo favorável a mim o tempo todo, mas posso trabalhar por isso o tempo todo. Se eu me apoderar dos instrumentos que Deus me deu ao invés dos resultados apenas, eu poderei ter minha alegria sempre renovada. É preciso compreender que a perenidade não é algo que cabe neste mundo, enquanto estivermos aqui não encontraremos a eternidade, mas podemos encontrar a constância, que é um prelúdio das alegrias eternas que encontraremos mais além, quando Jesus vier nos levar para nosso Lar. Nesse Lar sim, não haverá sombra de perturbação, destruição ou desordem, a harmonia será perfeita e sólida, nosso prazer e alegria se movimentarão apenas em sentido ascendente.

Mas enquanto estivermos aqui, podemos usar o que Ele nos deu para trabalhar pela constância. Isto é, estarmos constantemente limpos, constantemente puros, constantemente humildes, constantemente santos, constantemente ligados a Cristo, constantemente ocupados em Sua obra, constantemente amando, constantemente orando. "Ora, o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus e na constância de Cristo." (II Tessalonicenses 3:5). Essa constância cristã não é ainda perenidade, isso quer dizer que haverão pequenas "quebras" em nossos planos, uma sujeirinha aqui ou ali sempre aparecerão para que percebamos que o controle está nas mãos de Deus e não nas nossas. A constância, no entanto, está em continuar buscando. A palavra exata é "continuidade": ela nos levará a constância, e a constância nos levará ao que é Eterno.

Por isso Paulo fala tanto a respeito de renovação. Nenhum cristianismo sobrevive em uma bolha ou redoma de vidro. "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:2). Vivemos num mundo amplamente contaminado pelo pecado, e embora não possamos controlar o mundo, podemos deixar Deus no controlar e renovar-nos para que permaneçamos na constância e no amor de Cristo. Não é à toa que as misericórdias do Senhor renovam-se a cada manhã (Lamentações de Jeremias 3:22 - 2 3): terminamos cada dia necessitando lavar nossas vestes no sangue do Cordeiro. Renovando também nossas decisões ao lado de Deus, encontraremos a alegria que tivemos em nosso batismo todos os dias. É plano de Deus que não nos conformemos com esse tipo de alegria só uma vez na vida. Hoje temos tudo que precisamos, dado diretamente de Suas mãos, para trabalhar em novos projetos, recompor projetos antigos, retomar os inacabados, e em tudo encontrar um prazer específico e renovado de servir a Deus e caminhar em Sua direção. Alguém pode perguntar: "Por que não podemos simplesmente nos abastecer de algo que dure a vida inteira? Você agüentaria fazer uma faxina em sua casa todos os dias?". Isso pode ser cansativo, certamente, mas especialmente com as coisas espirituais, ao final de cada batalha contemplamos satisfeitos o resultado, e a satisfação é bem maior que o cansaço. "Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia." (II Coríntios 4:16).

quarta-feira, 15 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 32

Texto Bíblico do dia:

Marcos 14:51 - "Ora, seguia-o certo jovem envolto em um lençol sobre o corpo nu; e o agarraram. Mas ele, largando o lençol, fugiu despido."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Não me desviar da missão.

Meditando:

Sabe aqueles textos bíblicos que você não acredita que nunca prestou atenção? O de hoje foi um deles. Talvez por preferir o evangelho de João eu nunca tenha atentado para esse episódio que Marcos descreve. Certo comentário bíblico sugere que o jovem descrito seria o próprio Marcos, pois não se justificaria incluir um episódio tão trivial na narrativa se não fosse autobiográfico. Mas nada é trivial demais para minha imaginação. Fiquei pensando no texto e me ocorreram algumas nuances dramáticas.

O contexto é muito tenso. Jesus acabara de ser preso, e os discípulos todos tinham fugido com medo. Mas, confusos, alguns seguiram-no de longe, sem querer se arriscar e ao mesmo tempo sem conseguir abandonar Jesus totalmente. O jovem mencionado é um deles, que, no entanto, é descoberto e capturado. Debatendo-se, ele consegue escapar livrando-se do lençol com que estava coberto, e continua fugindo, agora nu. Aturdido, envergonhado, escondido, com frio e completamente só, o discípulo certamente sentiu-se o mais desamparado de todos os viventes (João 20:19). Curioso é ele ter se sentido assim, quando o mestre é quem fora abandonado. Jesus prometera estar com ele e seus companheiros por todos os dias de sua vida, e não falhou em sua promessa. Mas aqueles que se intitulavam seus seguidores, o deixaram na hora da tormenta. No entanto, foram eles próprios a se sentir desamparados.

Algumas situações em na vida nos fazem sentir como esse jovem: completamente despidos. Tudo que construímos, tudo que conquistamos, toda a aparência de felicidade, todas as ilusões materiais e físicas, todo dinheiro que juntamos, todo conhecimento que acumulamos, de repente, não passam de um frágil lençol arrancado pela força da tormenta. "Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3: 17 ). O que se observa sempre que surge uma situação dessa a um ser humano é que a primeira pergunta, "Senhor, será que eu não poderia ter feito algo para impedir isso?", e o reconhecimento da própria impotência que se segue, faz logo com que surja uma nova pergunta: "Senhor, será que Tu não poderias ter feito algo para impedir isso?"

Os discípulos, acostumados a ver Jesus realizar milagres tremendos certamente se perguntaram isso ao vê-lo morto na cruz. Um pai que perdeu a família enquanto ia para a igreja num acidente de carro causado por um motorista bêbado, também. Muitos de nós, ao ver as cenas das guerras e desastres naturais que passam na TV, também perguntamos. E essa pergunta incômoda é sempre seguida por uma sensação de desamparo enorme, como se Deus tivesse saído de férias e perdido o controle da humanidade.

É aí que alguns fazem o que Adão fez: fogem e se escondem. Adão, o jovem acima citado e algumas pessoas que deixaram a fé têm muito em comum: viveram grandes tragédias, ficaram nus, fugiram e se esconderam, colocaram a responsabilidade do ocorrido sobre outro ser, e principalmente, deixaram a Deus. Essa é uma das escolhas que o ser humano tem quando se decepciona com Deus. "Ele poderia ter feito alguma coisa para impedir", "Ele poderia ter feito do jeito que eu estava pensando, e tudo daria certo", "Ele não cumpriu as promessas que pôs na Bíblia a respeito da proteção e vitória que daria a seus servos". Deus vira um ser desatencioso, para não usar adjetivos piores, e sobre Ele recaem a culpa de todas as desgraças, como se elas acontecessem por vontade dEle. Alguns, tentando consolar, só o afirmam categoricamente: "Não fique assim, foi a vontade de Deus."

Não é vontade de Deus que nenhum de seus filhos sofra. Por isso nunca, nunca mesmo, Deus os abandona. Ele esteve presente em todos os momentos da história, seja através de grandes sinais, seja através dos profetas, seja pela encarnação do Seu Filho, seja pela atuação do Espírito Santo. No entanto vivemos num mundo onde forças malignas trabalham arduamente para semear a destruição, e o próprio homem é, muitas vezes, joguete de Satanás para causar dor aos semelhantes. Diante de um mundo onde o pecado abunda, Deus atua influenciando, nunca forçando decisões. E algumas pessoas simplesmente ignoram a influência divina, preferem fazer o que é errado, e para cada erro há uma conseqüência. Agora imagine o resultado de todos os erros da humanidade através de milênios: é isso que vivemos hoje. É claro que Deus quer dar um basta nisso e corrigir tudo, mas Ele é sábio demais para fazer isso aleatoriamente, por isso segue um plano perfeito, com começo, meio e fim. Enquanto o fim não chega, com a vitória absoluta do bem, Ele administra o mundo dando poder e força para aquele que decide crer.

A outra decisão que temos diante das tormentas que não têm explicação é confiar. Se não confiarmos quando o silêncio de Deus é duro de ouvir, "para onde iremos" (João 6:68)? O que a falta de confiança nos dará de melhor? Que vantagem há em abandonar a Deus? Se decidirmos confiar ainda, crer que no fim Ele nos dará a vitória e está trabalhando para isso independente de quão desesperadora a situação pareça, talvez a nossa dor não diminua muito. Mas Deus fará com que da tragédia nasçam bênçãos. Pessoas podem ser influenciadas por seu testemunho. Outras podem repensar o próprio relacionamento com Deus e seus semelhantes a partir da sua tragédia pessoal, fazendo com que novas tragédias não aconteça. Que motorista se atreverá a beber antes de dirigir ao conhecer a história daquele pai que perdeu a família? Que mãe se atreverá a abortar sua criança com síndrome de Down ao ouvir a história de uma mãe que descobriu alegria ao cumprir essa missão? Que preconceito subsistirá entre um pai branco e um pai negro que perderam seus filhos no mesmo acidente? Mais uma vez repito: decidir crer não consertará as coisas, mas pode ser uma enorme fonte de bênçãos para outros e trará algo que jamais se encontrará fora da fé: a Esperança.

Jó, quando diante de várias desgraças seguidas, pronunciou uma frase intrigante: " Nu saí do ventre, e nu voltarei.O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor." (Jó 1:21) Ele foi um homem que, mesmo nu, decidiu crer. Se decidirmos fazer isso também, poderemos voltar ao ventre e experimentar um novo nascimento em Cristo Jesus. Mesmo as piores situações podem redundar em vida quando não nos desligamos da fonte da vida. Podemos fazer da nossa dor e dúvida, degraus para crescermos espiritualmente, ajudarmos outras pessoas e alimentarmos a esperança de um novo céu e uma nova terra, onde seremos seres perfeitos vivendo num mundo perfeito. A busca da perfeição, no entanto, começa aqui, e mais êxito alcança quando perseguida através da renúncia do próprio eu, da própria vontade, da própria lógica, da auto-suficiência. Na dor de nos sentirmos nus e desamparados Deus encontra uma oportunidade de voltar a nos colocar nos braços como bebês. Não temos força para resistir ao Seu amor impedir que Ele realize sua obra em nós. Deus, que viu o próprio Filho morrer, conhece exatamente o significado da palavra dor. Cristo, que morreu por nossa causa, sabe o que é sacrifício. Confiemos, pois, que um dia entenderemos completamente seus desígnios, teremos nossa felicidade restaurada por inteiro e, vestidos da Sua justiça, ouviremos: "Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro." (Apocalipse 7:14)

terça-feira, 14 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 31

Texto Bíblico do dia:

Romanos 13: 11 - 12 - "E isso fazei, conhecendo o tempo, que já é hora de despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando nos tornamos crentes. A noite é passada, e o dia é chegado; dispamo-nos, pois, das obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Dar testemunho de Cristo em detrimento dos modelos que o mundo me indica.

Meditando:

Hoje aconteceu uma coisa engraçada enquanto eu navegava na internet. Ao consultar um site de buscas usando a palavra "Deus", percebi que junto com o resultado das buscas apareceu uma pequena propaganda de um site de downloads que dizia: "Download Deus for free!". Claro que aquela propaganda estava programada para fazer aparecer nela qualquer palavra que eu digitasse na minha busca, a fim de me influenciar a visitar aquele site para conseguir o que eu queria. e é claro que a graça de Deus é surpreendente. Mas acho que Deus ainda não está em formato de programa para ser baixado de graça na internet, embora isso fosse uma notícia agradável para muitos. Já imaginou?

- Fulana, estou com problemas. Tenho sentido necessidade de compreender mais a vida, minha existência, a existência da dor e da morte nesse mundo...

- Ah, não se preocupe. Vá a este site de downloads e baixe o programa Deus 3.0 e você vai encontrar todas as suas respostas. Ele tem três utilitários maravilhosos: Pai, Filho e Espírito Santo, e ainda conta com um serviço de composição de e-mail que manda sua oração diretamente para o trono celestial!

- Eu já tentei, mas o site está congestionado, fica dando mensagens de erro por causa do número de acessos... está pior que o orkut.

Imaginação á parte, outro dia encontrei, de verdade, num site de downloads, um programa que diz quem você foi na sua suposta vida passada, a partir somente de sua data de nascimento. Acho que quem nasceu no mesmo dia tem que tirar par ou ímpar. E ainda assim um dos comentários sobre o programa diz: "achei tudo o que eu queria!". Se Deus estivesse mesmo disponível para download, acho que muita gente também ía ficar feliz e dizer que achou tudo que queria: um Deus manipulável, controlável, adaptável a suas necessidades, com recursos funcionando conforme sua vontade, interface intuitiva e amigável, aparência modificável (bastando apenas baixar uma "skin" de Deus que agradasse mais ao seu gosto), menu "Help" para solucionar todas as dúvidas, menu "Milagre" para solucionar todos os problemas, e o indefectível x lá no topo para encerrar o programa a qualquer momento. Poderia mesmo ser um programa aberto, para que programadores sugerissem novas modificações que melhor servissem ao usuário. Todos iriam, realmente, adorar Deus! Só há um grande problema com o Deus 3.0: criar nossa própria imagem de Deus e adorá-la é uma forma perversa de idolatria.

Lendo a Bíblia fico maravilhada em ver como Deus se tornou acessível à humanidade através do plano da salvação. antes da morte de Jesus, somente os sacerdotes podiam levar ofertas e sacrifício,s somente os hebreus podiam ser chamados filhos e filhas de Deus, somente os que observavam o Dia da Expiação eram considerados corretos, somente os que seguiam as leis poderiam ser chamados justos. Após a morte de Jesus, todo aquele que invoca o nome do Senhor será salvo (Romanos 10: 12 - 13), fomos todos adotados como filhos de Deus (Gálatas 3:26 - 29, 4:4 - 7), fazemos o que é certo ao cumprir a Sua vontade (Romanos 12:1) e somos justificados pela fé em Cristo (I João 2:29, João 3:16). *

Não precisamos enfrentar sites congestionados para acessar o trono da graça. A questão é: para quê o fazemos? Um dos principais motivos que os antigos sacerdotes tinham para isso era oferecer sacrifícios. Mas hoje, alguns sacerdotes modernos pregam ao povo um Deus que não exige sacrifício nenhum, dizendo que Cristo já fez o sacrifício, e nós colhemos apenas as bênçãos. Isso é reduzir Deus a um utilitário confortável. O sacrifício maior de Cristo nos mostrou que o caminho para a salvação passa pela via dolorosa. Portanto, ao acessar a Deus hoje, eu tenho de lhe oferecer meu sacrifício vivo, que é cumprir a Sua vontade ao invés da minha. Os filhos têm, por Cristo, livre acesso ao Pai. Mas os filhos amam ao Pai, por isso sua felicidade é agradar a Ele e não a si mesmos. Todo acesso que temos existe para nos proporcionar essa felicidade, não a felicidade terrena, daqueles que ainda não conheceram o privilégio de serem chamados filhos de Deus, pois essa felicidade mesquinha tem um prazo de validade muito curto e uma gama estreita de cores berrantes. A felicidade de servir a Deus ao invés de querer ser servido por Ele, é o tipo de felicidade que se encontra mesmo nas cores mais sombrias, pois mesmo quando as cores não deixam ver a luz, tem-se a certeza que ela está presente apontando para a eternidade. Seja dia perfeito ou trevas, estamos vestidos com as armas desta luz, as quais somente a nossa vontade pode destruir. A despeito do mundo ao redor, que trabalha para me oferecer o mais confortável, o mais adaptável ao meu gosto e necessidade, meu cristianismo tem que dar testemunho de um amor muito maior que este mundo. Um amor que atravessa a atmosfera, cruza o espaço sideral e as inimagináveis distâncias para se colocar diante de um Ser e dizer-lhe: "agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus" (Salmo 40: 8).


*Fonte de pesquisa: A Bíblia da Mulher, SBB, pág. 1419.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 30

Texto Bíblico do dia:

Efésios 2: 1 - 6 - "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

O silêncio também é música. Ouvir os silêncios de Deus como parte de uma bela composição maior. E isso significa vencer inclinações, vencer por meio da salvação que Ele me deu.

Meditando:

Minha turma na classe da faculdade de Música é muito boa, e também muito diversa. Todos os meus colegas, com exceção de mim que sou a autodidata da classe, tiveram formação musical formal e acadêmica voltada para um instrumento específico em algum conservatório musical antes de entrarem na faculdade. Por isso a maioria já sabe o que quer, e mesmo os que pensam em ensinar ao invés de entrarem para o concorrido mundo dos concertistas, planejam ensinar o seu instrumento em particular. Isso tem um lado bom que é canalizar toda a energia para se especializar em algo e, conseqüentemente, tornar-se muito bom naquilo que se faz. Mas percebo algumas desvantagens que evito comentar, mas ficam martelando cá dentro.

Uma delas é que enquanto eu me delicio com cada disciplina, me aprofundando ao máximo nas mais diversas áreas musicais e me interessando pelo conjunto de maravilhas que o curso de música pode proporcionar, muitos dos meus colegas sofrem para cursar determinadas cadeiras, reclamam que é perda de tempo pois poderiam estar se dedicando a seu instrumento, relegam a um plano inferior a teoria ou a prática que não seja a do seu instrumento, estudam superficialmente tudo que não diga diretamente respeito a seu instrumento. Com isso, acho que eles deixam de aproveitar tudo que poderiam, o que formaria uma base bem mais sólida para eles se desenvolverem naquilo que escolheram. Nenhum grande instrumentista é meramente um técnico que executa, mas um pensador que interpreta, e para tanto ele deve ter o maior conhecimento possível do mundo musical, seja lá qual for sua finalidade: tocar ou ensinar. É claro que se deve dedicar maior tempo a algo em que se quer especializar-se, mas isso não significa limitar-se.

A outra é que eles costumam apreciar apenas as músicas que têm os instrumentos que eles tocam. Bem, eu amo violoncelo, mas não vou deixar de achar um concerto para piano bonito! Os concertos de Brandenburgo, de Bach, são fantásticos mas certa colega minha, flautista, só gosta do concerto nº 4, que é no qual a flauta predomina. Eu lhe emprestei então um CD com os outros concertos de Brandenburgo e sugeri: "O número 6 é muito lindo também!", ao que ela respondeu "Qual é o instrumento que tocam nele?". Posso até imaginá-la escutando o concerto e procurando a flauta, descartando a orquestra de fundo. Como se pode ter noção da beleza que o compositor pensou para sua obra ouvindo apenas um recorte dela?

Mais uma: Alguns dos meus colegas apenas se desinteressam pelos outros instrumentos, outros se sentem agredidos por alguns deles. Há percussionistas que se sentem insultados pelo som de violinos, e violinistas que acham a percussão a coisa mais besta do mundo. Às vezes essas aversões são veladas. Mas quase sempre afloram em piadas (e aqui, quem toca viola é sempre mais castigado), brincadeiras depreciativas e comentários maldosos, quando não coisa pior. E por que, meu Deus? Só por causa de um gosto e uma experiência pessoal: o violinista que condena o percussionista não sabe nem pegar numa baqueta, e é justamente a ignorância que o faz um crítico algoz.

Penso que, espiritualmente, possamos estender muito o assunto. Eu já tentei "enlatar" as verdades divinas de modo a me servirem de forma objetiva toda vez que eu tivesse uma dúvida ou precisasse de um critério para tomar decisões. Acontece que as verdades divinas não se conservam em lata ou compota para a sobremesa. A Bíblia não é um álbum de figurinhas, um caderno de recortes ou colcha de retalhos, ela é uma unidade que mostra no seu conjunto a vontade de Deus. Não há nada que se possa destacar sem que esteja integrado a todo o restante. Não há nada que se possa recortar quando minha conveniência assim o pedir. Você pode decidir estudar um assunto específico dentro dela: reforma da saúde, evangelismo, a atuação das mulheres, a lei de Deus, as profecias para o tempo do fim, mas não pode isolar esse assunto do conteúdo geral e tomá-lo como algo absoluto de sua vida cristã. Você pode listar alguns princípios e regras quanto a determinadas facetas da vida cristã, mas não pode adaptá-los a sua maneira de pensar condenando todos que pensem diferente.

A diversidade que Deus revela na natureza e na Sua palavra são uma clara evidência que Ele deseja atuar nas mais diversas áreas de nossa vida, através das mais diversas formas. É essa diversidade que perfaz a unidade divina, a qual não pode ser recortada e montada por mim para montar minha própria edição de cristianismo. Então se eu considero um sermão menos importante porque não fala de um assunto que eu destaquei para mim, ou se não considero uma música inspirada porque ela não está de acordo com o meu gosto pessoal eu estou limitando terrivelmente o poder de Deus de se manifestar em toda a beleza de Seu esplendor. Além disso, esse tipo de comportamento é um perigoso caminho que nos leva a começar a selecionar também pessoas que consideramos mais santas, mais inspiradas, mais dignas de estarem em nossa companhia somente pelo que aparentam ser, conforme o estereótipo que criamos para rotular a santidade.

Imaginemos uma situação hipotética. Eu chego na igreja e observo que cortaram o louvor por causa do horário que já estava avançado. Como gosto muito de música, assumo a postura de que Deus não está naquele culto, porque a igreja não rendeu louvores. Não considero que Deus tem outras formas de se revelar a mim que não a música, embora essa seja uma forma maravilhosa. Então me fecho para sua revelação durante a exposição da Palavra. Depois do sermão, há uma música especial, e eu não gosto de seu ritmo, poesia ou melodia. Acho que aquilo é pobre demais para louvar a Deus, que não está de acordo com os princípios bíblicos a respeito de louvor, e considero a música uma desonra. Então não deixo que a mensagem daquela música como um todo, que o louvor sincero e fervoroso seja usado por Deus através daquele cantor para tocar meu coração de pedra. Simplesmente "desligo" meu ouvido e fecho os caminhos para Deus chegar até mim, duvidando que Ele o possa fazer através de outra maneira que não a que eu elegi como a melhor. Por fim, ao final do culto, aperto desconfiado a mão do pregador (como pode alguém aceitar pregar num culto sem louvor? Ele não deve estar bem espiritualmente, penso, reprovando-o por ousar discordar de mim), e aquele cantor vem até mim e me convida para participar de um culto de ação de graças que fará em sua casa. Sorrio educadamente pensando que jamais irei àquele culto, pois alguém que canta uma música tão ruim só pode estar muito longe de Deus, está sendo usado por Satanás, e eu tenho que ficar longe dele porque sou santo, separado para as coisas de Deus, e não as do diabo. Então impeço uma vez mais a Deus de trabalhar na minha vida, de desencadear milagres em mim através das coisas mais simples que eu poderia apreender através daquele cantor. Quando alguém vem me dizer qualquer coisa a respeito dele sempre acredito no pior, e defendo essa posição como quem defende ao próprio Deus. Não percebo que o único deus que estou defendendo é o meu próprio Eu.

Deus tem muitas formas de se revelar, de se fazer ouvir e moldar minha vida. Eu, com certeza, não gosto de todas essas formas. Mas tenho que deixar a Ele o critério de qual a melhor forma para chegar até o mais profundo do meu ser. Minha lógica e inteligência são lixo diante da Sabedoria que pode usar até mesmo pedras para transformar corações em carne. Minha única preocupação deve ser manter todas as vias abertas para que Deus chegue até mim. E deixar que Ele passe por cima dos entulhos da minha vontade que eu depositei por esses caminhos. Dessa forma vou aproveitar muito mais do poder divino e desenvolver meu cristianismo de maneira bem mais completa e sólida, vou apreciar a Deus de maneira muito mais próxima ao que Ele realmente é: um Ser maior que eu.

domingo, 12 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 29

Texto Bíblico do dia:

Salmo 18: 1 -3 - "Eu te amo, ó Senhor, força minha. O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo, em quem me refúgio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio. Invoco o Senhor, que é digno de louvor, e sou salvo dos meus inimigos."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Descobrir qual o nome pelo qual Deus responderá hoje. (Hoje eu o chamei El Deot)

Meditando:

Uma coisa boba, mas interessante de procurar são os "porquês" do amor. Eu, por exemplo, tem dias que amo meu marido porque ele faz uma farofa divina. É o marido cozinheiro. Noutro dia me pego amando-o porque encontro um cartão escondido, que ele pretendia me dar de surpresa. É o marido romântico. Noutro, amo-o porque ele lava a louça sem que eu precise pedir. É o marido companheiro. Noutro, porque passamos tempo conversando e rindo muito. É o marido amigo. Noutro, porque estou de TPM e ainda assim ele ouve todas as besteiras que digo e depois me abraça. É o marido Jó. Mas tem dias que eu não consigo encontrar nenhum fato específico que justifique meu amor naquele dia. Ele não fez nada de especial, mas eu o amo. É o marido, ponto.

Hoje Deus me fez ver que com Ele é assim também. Há dias em que vemos claramente Deus agindo em nossa vida. Um fato específico nos leva a perceber Sua existência se comunicando com nossa existência, e Ele revela uma face de Sua personalidade. Foi assim também com o povo de Deus nos relatos bíblicos. Para o povo hebreu, por exemplo, o nome era algo muito importante. Então Deus usava um nome para que o povo O chamasse, de acordo com um determinado fato. Esse nome revelava algo sobre Sua existência, Suas ações, Seu caráter, Sua função na história do povo. Dessa forma podemos descobrir algo sobre Deus em cada nome que Ele usa na Bíblia. Olhando esses nomes abaixo*, você consegue se lembrar também de um modo especial como Ele se revelou a você em certo momento de sua vida?

Aará - Meu Pastor
Adon Hakavod - Rei da Glória
Adonai - Senhor
Attiq Yômin - Antigo de Dias
El Caná - O Deus zeloso
El Deot - O Deus das Sabedorias
El Elah - Todo Poderoso
El Elhôhê Israel - Deus de Israel
El Ôlam - Deus Eterno
El Raí - O Deus que tudo vê
El Roi - Deus que vê
El Shadai - Deus Todo Poderoso
Eliom - Altíssimo
Elohim - Criador
Eloi - Senhor de todas as coisas
Gibbor - Poderoso
Jehoshua - Javé é a Salvação
Jeová Eloheka - O Senhor teu Deus
Jeová Hosseu - O Senhor que nos criou
Jeová Jaser - O Senhor é Reto
Jeová Jiré - O Senhor provê
Jeová Nissi - O Senhor é a minha bandeira
Jeová Sabbaoth - Senhor dos Exércitos
Jeová Shalom - O Senhor é paz
Jeová Shammah - O Senhor está presente
Jeová Tsidikenu - O Senhor é a nossa justiça
Javé Maccadeshkem - O Senhor que te santifica (Ex 31.13).
Javé Raah - O Senhor é o meu Pastor (Sl 23.1).
Javé El Gmolah - O Senhor Deus da recompensa (Jr 51.56).
Javé Nakeh - O Senhor que fere (Ez 7.9).
Kadosh - Santo
Kadosh Israel - Santo de Israel
Malah Brit - O Anjo da Aliança
Maor - Criador da Luz
Margen - Protetor
Nikadiskim - Que nos santifica
Palet - Libertador
Rafá - Que cura
Robeca - Que te sara
Salvaon - Senhor Todo Poderoso
Shaphatar - Juiz
Yaveh El Elion Norah - O Senhor Deus Altíssimo é Tremendo
Yaveh Tiçavaot - Senhor das Hostes Celestiais
Yeshua - Jesus = Iavé é salvação
Yohanan ou Yehohanan - Nome no sentido de DEUS se compadeceu, teve misericórdia
Yhvh - Nome impronunciável Deus

Quando estive enferma, eu descobri o Deus Rafá, que cura. Quando estava com medo, descobri o Deus Margen, protetor. Quando fui enganada, descobri o Jeová Tsidikenu, a minha justiça. Quando me senti sem forças para lutar, descobri Jeová Sabbaoth, o Senhor dos Exércitos. Seria capaz de citar um ou mais fatos de minha vida para cada nome acima. Mas, sabe, tem dias que não acontece nada de especial. Se tirarmos todo o discurso poético do milagre de acordar, respirar, ter o coração batendo, vamos nos deparar com dias bem "normais" em que nenhum fato nos remete necessariamente a uma clara atuação divina. Há dias também em que as coisas vão muito mal, e parece até que Deus saiu par almoçar porque não conseguimos entrar em contato com Ele de jeito nenhum!

Nesses dias temos de lembrar que o nosso Deus é antes de tudo, Javé (Yahweh), o grande Deus Eu Sou. Esse nome significa "O Auto-Existente" (de Ex 3.14, “Eu Sou o Que Sou”). Ele foi dado a Moisés no meio de uma sarça ardente, que queimava e não consumia, demonstrando assim a realidade eterna e soberana que se auto-sustenta e se autodetermina. Deus Poderoso, que existe e reina para sempre, vida que não se consome, é isso que Javé quer dizer. É isso que Deus é. Então não há porque duvidarmos que Ele está, neste exato momento, existindo e atuando em nossas vidas. Ainda que não consigamos perceber! Yahweh, é também o nome do relacionamento entre o verdadeiro Deus e Seu povo, e, quando usado na Bíblia, enfatiza a santidade de Deus, o Seu ódio pelo pecado e amor aos pecadores.Ou seja, quando parecer não haver motivos para continuar crendo, a fé tem que brotar do próprio relacionamento com Deus, ainda que não haja fatos concretos, palpáveis ou inteligíveis. Deus existe. Já temos um motivo para amá-lO.

*Fonte de pesquisa:
http://www.vivos.com.br/43.htm
http://www.desafiojovemdesantos.hpg.ig.com.br/estudosbiblicos.html
Bíblia de Genebra, p. 82. A auto-revelação de Deus.

sábado, 11 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 28

Texto Bíblico do dia:

Jeremias 46: 2 7 - 28 - "Mas não temas tu, servo meu, Jacó, nem te espantes, ó Israel; pois eis que te livrarei mesmo de longe, e a tua descendência da terra do seu cativeiro; e Jacó voltará, e ficará tranqüilo e sossegado, e não haverá quem o atemorize. Tu não temas, servo meu, Jacó, diz o senhor; porque estou contigo; pois destruirei totalmente todas as nações para onde te arrojei; mas a ti não te destruirei de todo, mas castigar-te-ei com justiça, e de modo algum te deixarei impune."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Estar atenta aos chamados de Deus feitos ao longo do dia.

Meditando:

Atualmente nosso momento de lazer mais esperado é viajar para Natal e passar alguns dias na praia de Muriú, nosso Éden aqui na Terra. Da última vez que fomos estávamos tão empolgados com a paisagem que resolvemos dar uma longa caminhada pelas dunas. Minha mãe foi a primeira a se prontificar, meu marido ficou meio temeroso, mas eu achei a idéia ótima, e assim saíamos de casa de manhã cedo, sem rumo, com o único compromisso de apreciar as paisagens maravilhosas de Muriú. Passamos pela lagoa comprida, subimos e descemos várias dunas, chegamos a outra lagoa, a de Jacumã, que fica bem no meio daquele areal todo, contemplamos a paisagem e seguimos viagem, subindo e descendo mais um monte de dunas. Depois de um tempo avistamos a praia ao longe, e decidimos ir até lá, passando por um grande vale de vegetação rasteira que acaba numa pista rodoviária, pela qual seguimos mais uma hora até chegar à praia. Nesse ponto o sol já estava à pino, e o asfalto esquentava impiedosamente debaixo dos nosso pés. Sem o consolo da paisagem das dunas, a caminhada foi ficando mais e mais difícil, até que, ao chegar à praia, desabamos na areia sem conseguir dar mais um passo. Minha mãe e eu, as mais animadas a princípio, fomos as que estavam mais "estrupiadas". Mas o pior foi pensar: "E agora? De onde a gente vai tirar forças para voltar?". Mesmo cortando caminho, a volta para casa foi terrivelmente cansativa, e todo o prazer que tivemos no começo tornou-se em uma dor infeliz nas pernas, pele queimada e uma vontade de não sair do sofá nunca mais.

Lembrei disso depois de uma conversa que tive com um amigo hoje. Em dado momento ele me perguntou: "Mas por que tem que ser tão difícil se livrar do pecado? Deus não tem poder para acabar com essa tendência pecaminosa num instante se Ele quiser? Ele não sabe o quanto dói ter que lutar desse jeito para fazer a coisa certa?". O texto bíblico responde maravilhosamente a essa indagação. Ele fala de Deus olhando para um filho que se afastou para longe, e lá longe sentiu como sua vida estava ruim longe de Deus. Deus poderia olhar para esse filho e dizer: "Ei, você escolheu ir embora, agora se vire e sofra as consequências dos seus atos." Se fosse assim, Deus estaria sendo justo. Mas Deus não é justo - não conforme nosso conceito de justiça. Com Seu amor Ele diz: "Eu sei que você está sofrendo. Sei que sua vida está horrível. Eu não quero que seja assim, por isso não tenha medo nem se apavore, que tudo vai ficar bem".

Nesse ponto o filho rebelde pensa que todos os seus problemas estão resolvidos porque Deus vai pegá-lo em Sua mão enorme e levantá-lo até às alturas. Mas não! Quem fez isso foi King Kong nos cinemas, não Deus na vida real! Deus promete que vai nos libertar da escravidão do pecado e que voltaremos até o lugar do qual nunca deveríamos ter saído, o lugar e modo excelentes que Ele preparou para nós vivermos aqui. Mas Ele diz: "Você foi embora co suas próprias pernas, agora terá de voltar com suas próprias pernas". Repare que as expressões "tranqüilo", "Sossegado" e "não haverá quem o atemorize", são usadas para quando o filho chegar a esse lugar excelente. Não são usadas em relação ao caminho que ele vai ter que passar até chegar lá. E sabe por que? Porque o caminho de volta é longo, penoso, espinhoso, cansativo, tão enorme quanto a distância que o filho está de Deus.

Então o filho argumenta: "Mas não tem um jeitinho?". Não, nem que Deus fosse brasileiro. Porque para que o filho entenda exatamente o tamanho da graça de Deus, ele precisa entender antes o tamanho da sua desgraça. O filho rebelde precisa passar pelo sofrimento do caminho de volta para aprender as conseqüências de distanciar-se de Deus, e isso não é castigo, isso é Deus preparando-o e fortalecendo-o para que ele nunca mais se afaste do lugar feliz em que deveria estar. Se a caminhada do pecado para a santidade fosse fácil, nós não saberíamos a diferença entre os dois. Cristo nem precisaria ter morrido por nossos pecados, pois bastaria Deus fazer um milagre na vida de cada pecador, tirar o pecado de cada um e tudo estaria bem, não é? Claro que não! Isso sim é injustiça. Deus é nosso Pai, não um programador de computadores! Cada vez que reclamamos com Deus de que Ele não está nos ajudando a vencer o pecado estamos desmerecendo o sacrifício de Cristo que sofreu muito mais que qualquer um de nós, mesmo sendo o Filho Unigênito de Deus, sendo o próprio Deus!

É duro ouvir isso, mas tem que ser assim, não há outro modo de voltar para casa senão andando. O papel de Deus nessa caminhada é providenciar um atalho, para que não soframos mais do que podemos suportar, e seguir passo a passo ao nosso lado, nos segurando quando estamos prestes a cair sem forças. Aquela história que Jesus te pega nos braços e te leva pelo caminho é ótima pra poesia e cartão de natal, mas não condiz com a verdade bíblica a respeito da santificação. Jesus nos ampara em Seus braços, cuida de nós, nos alimenta, nos dá água da vida, sara nossas feridas, depois nos põe de pé e diz: "É hora de voltar a andar, vamos lá?". E você tem que andar novamente.

No texto bíblico, Deus volta a repetir: "Não temas, que estou contigo". É a promessa que temos de nos apegar todos os dias. Mesmo que não sejamos capazes de vê-lO, ou de sentí-lO. Quando não estivermos sentido mais do que um enorme vazio e uma solidão aterradora, ainda assim precisamos confiar nessa promessa, pois a fé não está condicionada aos nossos sentidos, a fé é uma atitude que transcende qualquer lógica ou sentimento humano. Se você não consegue sentir Jesus ao Seu lado, apenas repita: "Tu estás comigo!" e dê mais um passo. Repita então outra vez "Tu estás comigo" e dê o passo seguinte. De passo em passo você sairá da região das trevas e conseguirá enfim enxergá-lO com seu espírito. Seu único consolo na jornada de volta é a certeza da presença de Cristo, os encontros claros que você terá com Ele ao longo do caminho e a percepção de que, à medida que você caminha, as coisas vão ficando mais fáceis. Você perceberá que depois de algum tempo andando firme, aquele pecado que te incomodava tanto e te fazia contorcer de dor, agora já não perturba da mesma maneira. Não se engane achando que chegou ao fim! Satanás também segue o filho que quer voltar, preparando as mais ardilosas ciladas para levá-lo para longe de novo. A sensação de que um pecado está suplantado é o que de mais enganoso pode haver. É preciso caminhar! Continuar com todos os passos de antes, no mesmo sentido: Bíblia, oração, testemunho!

"...Destruirei totalmente todas as nações para onde te arrojei; mas a ti não te destruirei de todo, mas castigar-te-ei com justiça, e de modo algum te deixarei impune." Deus está dizendo que cada pecado será gradativamente destruído, mas o pecador será preservado com justiça. Não temos o que temer quanto a essa justiça, porque como já vimos, a justiça de Deus está apoiada em Seu amor, e nunca nos tratará como devemos ser tratados, mas como ele trataria a Seu Filho Jesus. Se Jesus tivesse cometido um pecado, Ele teria de enfrentar as conseqüências disso. Por que conosco seria diferente? No caminho de volta compreenderemos um a um o preço dos nossos pecados. Mas devemos ter em mente o alvo: um lugar tranqüilo, sossegado, sem medo, onde haveremos de chegar na companhia de Cristo, que nos acompanhará em todas as dificuldades, e, a cada vitória diária, nos fará mais fortes para vencer amanhã, e amanhã, e amanhã, e amanhã...

sexta-feira, 10 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 27

Texto Bíblico do dia:

II Reis 9: 3 - "Toma, então, o vaso de azeite, derrama-o sobre a sua cabeça, e dize: Assim diz o Senhor: Ungi-te rei sobre Israel. Então abre a porta, foge e não te detenhas."
I Coríntios 2:14 - "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar que Deus realize Sua obra em mim, não importa quão estranho isso me pareça.

Meditando:

Um dos homens mais corajosos da história de Israel não era sequer um homem feito quando Deus o chamou, e não teve nem seu nome registrado na Bíblia, apenas seu ato de obediência corajosa. Está registrado em II Reis, capítulo 9, que o profeta Eliseu chamou um dos discípulos da escola de profetas e lhe deu uma missão no mínimo intrigante: levar uma mensagem ao capitão Jeú. Isso não parece grande coisa até traçarmos os perfis do emissor, do receptor e da mensagem. O discípulo era um jovem (verso 4), o que não lhe dava imponência ou projeção nenhuma, e era profeta, o que naquele tempo era visto por muitos como sinônimo de louco (verso 11), por causa do estilo de vida incomum, hábitos excêntricos e mensagens exaltadas que estavam associadas a essa figura. O capitão era um guerreiro experimentado nas guerras, embrutecido por elas, intrépido, impiedoso, violento e que era conhecido pela maneira furiosa de se conduzir numa batalha (verso 20). A mensagem era algo significativo: Jeú devia ser ungido rei e receber a missão de eliminar a idolatria do meio de Israel, que vivia um dos momentos mais críticos na história de suas dinastias.

O cenário é tão dramático que Deus orienta ao pobre discípulo exatamente assim: "fale e corra!" (verso3). Aquele jovem deveria tirar o capitão Jeú do meio dos seus irmãos e amigos, levá-lo para uma sala, derramar azeite em sua cabeça (e isso pressupõe que o capitão teria de estar de alguma forma abaixado diante do jovem profeta), depois fazê-lo ouvir passivamente a mensagem que Deus tinha para ele. É possível que Jeú achasse que aquele moço estava zombando dele, ou que os outros capitães, que se referiram posteriormente ao jovem como mentiroso e louco, tivessem se voltado contra ele e lhe feito algum mal. "Corra!", foi o que Deus disse, e depois de ungir Jeú, o jovem saiu correndo. Ele deve ter pensado em algum momento que louco deveria estar Deus... se não pensou, teria motivos para fazê-lo.

Deus não poderia ter mandado o próprio Eliseu, que era um conhecido e respeitado profeta para ungir Jeú? Não poderia ter escolhido um homem mais nobre, mais intelectual para tomar decisões administrativas sábias e comedidas naquele momento político tão delicado? Há aqui uma mensagem que se estende ao longo de toda a Bíblia e culmina com clareza nas palavras de Paulo aos Coríntios: "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Enquanto nós vivemos condicionados a pensar em termos imediatos e restritos a nossa própria existência, Deus conduz suas ações aqui visando todo o seu povo e a eternidade. É normal que achemos que algumas ações divinas meio desarrazoadas. Mas cumpri-nos, pela fé, aceitar Seus propósitos e ser obedientes, tal como o jovem profeta foi, certo? Certo, mas não é só isso.

Mais que aceitar e cumprir, Deus nos chama para entender sua mensagem. Se não entendermos o que Ele realmente quer com aquela mensagem, corremos o risco de nos perdermos. É assim que alguns aceitam apenas a parte da mensagem que lhes é vantajosa, e cumprem somente o que de seu interesse, à sua maneira, e com fins próprios. É só entendendo as mensagens de Deus para nós que podemos aceitá-las, e a Ele mesmo, plenamente. Senão, vejamos o que aconteceu com Jeú.

Ele não teve problemas em ser reconhecido rei porque não havia, então, nenhuma dinastia estável em Israel. Qualquer um que tivesse carisma, apoio popular, força militar ou unção profética podia tomar o trono. E Jeú, aparentemente tinha tudo isso. A vida econômica, política e religiosa da nação pedia mudanças, então ele encontrou um ambiente bastante favorável a seu reinado. E acredito que ele não demorou a gostar da idéia também. Então começou a cumprir aquilo para o que o Senhor o chamou. Eliminou do meio do povo todos aqueles que, desde o reinado do pérfido rei Acabe, tinham consolidado a idolatria a Baal e sua consequente lista de iniquidades. Pela mão de Jeú, Deus fez justiça contra todos que zombaram dEle e desvirtuaram os caminhos do povo israelita. Mais que um ato de justiça, essa atitude de Deus também refletia preocupação em preservar a verdade viva no meio do seu povo. Se Ele não tivesse tomado uma atitude drástica, uma vez que várias tentativas anteriores mais brandas falharam, como a pregação dos profetas, a bondade teria sido pisada aos pés pela malignidade, e o futuro de Israel seria só corrupção. Por isso aqueles que já estavam mortos espiritualmente foram extirpados do meio de uma nação que foi separada para ser santa e apregoar o testemunho da Verdade vitoriosa.

Acontece que Jeú, em dado momento, resolveu fazer as coisas ao seu modo e acabou se excedendo, e realizando uma massacre, uma tal carnificina que foi muito além do que Deus planejara (ver Oséias 1:4). Ele achou que eliminar a idolatria era, basicamente, assassinar os idólatras, e assim, passou de um instrumento de Deus a um assassino sanguinolento, só comparável aos cruéis reis assírios da época. Além disso, Jeú cumpriu a parte da missão que lhe interessava, ou que não mexia com seus próprios pecados. Ou seja, ele acabou com o culto a Baal, mas permitiu que o povo continuasse a adorar em templos pagãos alternativos, ao invés de iniciar um retorno a Jerusalém (II Reis 10:31). Sua reforma foi incompleta. Assim, a bênção que Deus tinha reservada para ele (verso30) também não pode ser completa. Deus só pode dar o que cabe em nossas mãos, e as de Jeú estavam manchadas de sangue...

Deus se entristece grandemente quando não conseguimos entender o propósito da missão que Ele nos entregou. Porque se for assim, não conseguiremos cumprí-la corretamente e acabaremos por dar um mal testemunho a respeito do próprio Deus para as pessoas. O trabalho que Ele nos deu é também parte do trabalho que Ele realiza em nós, e que é contemplado pelo mundo para Sua glória ou desonra. A verdade é que Ele requer não apenas obediência, mas sabedoria, humildade e constante comunhão. Só assim O serviremos com inteireza e alcançaremos nossa bênção por inteiro.

quinta-feira, 9 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 26

Texto Bíblico do dia:

Hebreus 4: 16 - "Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar Deus ser Deus.

Meditando:

Tenho acompanhado o diário virtual de algumas amigas que agora são mães. Gosto de ver a felicidade delas em encher seus blogs de fotos dos seus bebês nas mais fofas e engraçadas cenas. Elas aproveitam para contar cada conquista, cada palavra nova, cada traquinagem e as espertezas de seus nenéns, que superam limites a cada dia. Nessa fase parece que não há mesmo limites, e tudo é motivo de comemoração.

Mas os nenéns crescem. E não são só eles que têm de lidar com os próprios limites a cada dia. Muitos adultos continuam tendo problemas em comemorar a superação de novos limites ou se conformar quando o mais seguro é não tentar ir além. Como saber que decisão tomar? Qual o melhor momento para cada uma dessas atitudes? Como ter certeza de não estar sendo medroso ou afoito demais? A própria vida desenvolve em nós alguma sensibilidade para responder essas perguntas. Mas em se tratando da espiritualidade, onde convivemos com conceitos abstratos e nos deparamos com milhões de "fórmulas" prontas, pode parecer muito mais confuso saber onde assentar a linha do limite. Haverá sempre alguém dizendo que, nesse ponto, você deve ser ousado, e alguém dizendo que você deve ser humilde. Mas a Palavra de Deus, nosso melhor guia, deixa claro que ousadia e humildade não são atitudes conflitantes quando a seguimos.

Quando se fala em humildade, alguns pensam logo numa pessoa vestida pobremente, calçada com sandálias havaianas (da genérica), bem gastas, os cabelos um tanto desgrenhados, magrinha, calada e encurvada num canto. Essa é a visão do servo. No entanto até na etimologia a palavra humildade está associada a força. A falsa humildade é que vai atrás de estereótipos. O servo humilde de Deus não se porta como um fracassado. Em sua humildade ele não luta por fazer vencer a própria vontade, mas a vontade de Deus. E como luta! A melhor imagem de um servo humilde é a de um guerreiro robusto e armado até os dentes. Ele é humilde o suficiente para reconhecer-se submisso ao Seu Senhor, e por esse Senhor ele se lança ousadamente na guerra.

Já quando se fala em ousadia, imagina-se alguém capaz de sempre tomar as melhores decisões nos melhores momentos, alguém inexorável, valente, falante, que nunca falha nem precisa da ajuda de ninguém porque consegue fazer tudo sozinho e muito bem feito. Seu ar é imponente, seu físico mais parece uma fortaleza, sua aparência é de uma limpeza e compostura impecável . Essa é a visão do vitorioso. Mas não há vitória sem batalha. E quem vai a batalha também precisa ir ao chão, passar pela lama, ficar em silêncio, agir em conjunto e "apanhar" um pouco até ficar alerta. Ninguém limpinho, penteado e com as vestes impecáveis está numa batalha. Espiritualmente falando, ninguém que se reconheça pequeno, indigno e incapaz pode estar fazendo a vontade de Deus. Ninguém pode ter necessidade de Deus quando está tentando ser Deus. Mas então que é ser ousado? Não é sentir-se poderoso? Não, ser ousado é sentir que Deus é poderoso para agir apesar da sua fraqueza.

Vou dar um exemplo simples, mais próximo de nossa vida real, e que me aconteceu hoje mesmo. Tive uma crise de enxaqueca muito forte, percebida logo ao acordar. Para mim que já não gosto de acordar, ainda descobrir-me com enxaqueca é motivo de ficar pessimista. "Certamente vai ser um dia daqueles, não vou conseguir fazer nada!". Tem lógica. Meus olhos ficam hipersensíveis à luz, meus ouvidos ao som, meu estômago ao alimento, e eu ao mundo todo. A vontade que me dá é ficar prostrada esperando a infeliz passar. Pedi então a Deus que me retirasse aquela enxaqueca. Ele já fez isso antes. Mas hoje, especificamente não o fez. Fiquei chateada a princípio pensando que bem que ele poderia ter dado uma forcinha. Mas lembrei que preciso ser humilde para aceitar a vontade dEle e ousada para não limitar o poder dEle me minha vida. O dia inteiro passou e Ele não tirou a dor, nem tampouco os remédios que tomei. Mas ao final do dia percebi que Deus me fez sobreviver a ela com bons resultados: consegui fazer muito mais do que havia planejado, com uma qualidade bem maior do que eu poderia esperar. Não sei como Ele conseguiu fazer isso. Sei que fez! Talvez para me mostrar que Seu poder age de muitas formas: não tem que ser exatamente da forma que eu acho melhor.

Humilde e ousado, o cristão deve sempre mover-se na direção em que Cristo aponta. Fora disso, será apenas miserável, pobre, cego e nu.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 25 (Bach)

Texto Bíblico do dia:

Provérbios 16:9 - "O coração do homem propõe o seu caminho; mas o Senhor lhe dirige os passos."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Alegrar ao Senhor e me encher de Sua santa alegria.

Meditando:

Algumas das passagens mais impressionantes da Bíblia falam de coros celestes. Em apocalipse 4:11, João relata a visão do trono de Deus que culmina com um coro clamando: "Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder; porque criaste todas as coisas, e por Tua vontade elas existem e foram criadas." Em Apocalipse 7:10, o coro dos salvos canta em grande voz: "Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação". E esses coros sempre me instigaram muito a imaginação, de modo que eu ficava tentando imaginar como seriam os coralistas, suas vozes e a música que entoavam. "Nossa", eu pensava, "deve ser uma música esplendorosa, algo que o ouvido humano não é capaz de conceber". Num dia feliz descobri o coro "Worthy is the Lamb", no oratório Messias, de Handel, que refere-se a Apocalipse 5: 12: "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra e glória, e louvor". Então percebi que não era só eu que tinha uma imaginação inquieta. Handel reservou toda a apoteose de sua música para esse coro, no final da sua mais tocante obra. "Será que Deus revelou a Handel a música desse coro celeste?", eu me perguntava.

Talvez por isso cresceu uma fascinação em mim por coros. Intimamente, talvez eu estivesse preocupada em afinar a voz para não fazer feio nos coros celestiais. Embora confesse que o simples prazer de cantar já é o suficiente para me fazer coralista. Atualmente sou uma contralto do coro universitário, na UFPE, que é marcado pela heterogeneidade: pessoas de todas as idades, culturas, religiões, etnias e conhecimentos musicais partilham o mesmo espaço em busca de harmonia. Tenho aprendido muito nesse coro, não apenas sobre regência ou canto coral, mas sobre a vida mesmo. Aliás, é nisso - a vida - que está toda a música do coro.

Imagine que agora estamos cantando alguns corais de Bach. E nossas partituras trazem coisas que soam assustadoras como:

Wer nur den lieben Gott läßt walten
Und hoffet auf ihn allezeit,
Den wird er wunderlich erhalten
In allem Kreuz und Traurigkeit.
Wer Gott, dem Allerhöchsten, traut,
Der hat auf keinen Sand gebaut.

Em alemão, para ouvidos leigos, isso soa no mínimo ameaçador. Mas alguém nos faz a seguinte tradução:

Deus irá proteger maravilhosamente
O homem que tem fé no Seu poder
e sempre espera nEle.
Nos tempos de tristeza ou tranqüilidade.
Todo aquele que confia no poder de Deus
não construirá sobre a areia.

Então o regente apela que cantemos isso com consciência e sentimento. E quem já viveu a proteção de Deus, quem já provou do Seu poder e espera nEle confiantemente, que já desistiu de construir sonhos sobre a areia e encontrou segurança na Rocha Eterna, canta com a alma inteira, cada fibra do ser emitindo uma música experimentada no amor de Deus. A harmonia então transcende a técnica e ganha cores de fé. A diferença é absurda.

Foi só depois de aprender isso que vim a compreender o que significa a música daqueles coros celestes, em que os salvos clamam em alta voz. Eles não cantam com a voz. Eles cantam com a vida. Cada palavra tem a ver com as experiências que viveram para chegar ao céu. Não é a música que faz seu canto belo, mas a força que esse canto tem, da genuína compreensão do amor e da graça. É conhecendo a Deus que afinamos a voz para cantar com eles. O cântico dos salvos é um júbilo incapaz de caber em qualquer composição musical. É a sua própria vida unida à vida de Cristo.

Considerando isso, acho importante repassar uma informação que aprendi recente com nosso regente. É que, às vezes, a voz precisa sustentar notas mais longas. Então se o cantor tentar apenas mantê-las na mesma altura, inevitavelmente a nota cairá, e o cantor tende a desafinar. Porque qualquer nota, uma vez emitida, movimenta-se, não existe nota estática, tal como não existe ausência absoluta de movimento na Terra, uma vez que a própria Terra está em movimento. Pois bem, para manter a voz no mesmo lugar, é preciso pensar em direção ao alto. Ter a intenção de fazê-la subir, sem fazê-lo de fato, apenas pensar, imaginar que aquela nota está subindo. Esse pensamento é o sopro que mantém ela suspensa no lugar certo. Não é incrível? Acho que a aplicação espiritual é óbvia. Se achamos que já chegamos lá, que nossa vida cristã está muito bem, a tendência é que ela decaia. Para chegarmos ao céu, é preciso manter o olhar fixo em Jesus, que acena de lá! "Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus." (Colossenses 3:1).